O rodeio é uma prática que, indubitavelmente, causa
sofrimento aos animais submetidos a ela, e por isso, em nada se assemelha
com cultura ou esporte.
Existem laudos oficiais, destacando-se os laudos da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e do
Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro, atestando o sofrimento e os maus
tratos causados aos animais pelas várias práticas do rodeio.
Nos rodeios são utilizados bovídeos, equinos e caprinos.
Todos estes animais são expostos ao desafio da dominação do homem que participa
do rodeio, chamado peão.
Em estado normal esses animais são calmos e não ficam
pulando. Assim, estando o animal em estado normal é impossível de ele, animal,
ficar pulando com o peão em cima dele, como acontece no rodeio.
Dessa forma, o homem altera a natureza do animal por meios
artificiais para que o animal pule na arena. Esses meios artificiais são
vários;
·
sedém - espécie de cinta, de crina e pelo, que se amarra na
virilha do animal e faz com que ele pule. Um pouco antes do animal entrar na
arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região onde está
amarrado, causando enorme dor. Nessa região
existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde
se aloja o pênis. Portanto dizer, os defensores do rodeio, que o sedém
provoca apenas cócegas, é sórdido.
Aliás, mesmo que o sedém cause apenas cócegas, ainda assim haveria maus tratos. Cócegas
é uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos.
Portanto, mesmo que apenas as cócegas fossem causadas, por si só já
caracterizam os maus-tratos.
E esse sofrimento não dura apenas oito segundos,
como afirmam os defensores do rodeio. Oito segundos é o tempo que o peão deve
permanecer no dorso do animal, porém, deve-se lembrar
que o sedém é colocado e comprimido tempos antes do animal ser colocado na arena, quando ainda no brete, e também tempos
depois da montaria. Além disso, há declarações de peões que dizem treinar de 6 a 8 horas diárias, portanto, todo
este tempo o animal estará sendo maltratado.
·
Esporas - esporas são objetos pontiagudos
ou não, colocados nas botas dos peões, servindo para golpear o animal na cabeça, no pescoço e no baixo-ventre. Todos esses
golpes contribuem para que o animal corcoveie de forma intensa. E quanto mais golpes com
as esporas, mais pontos são contados na montaria. Portanto,
as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e
perfuração no globo ocular;
·
Peiteira - é uma corda ou faixa de
couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal,
logo atrás da axila. A forte pressão
desse apetrecho causa sofrimento e ferimentos ao animal;
·
Polacos - são sinos colocados na peiteira, os quais produzem um
barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda
mais intenso a cada pulo seu;
·
Objetos pontiagudos - pregos, pedras, alfinetes e arames em
forma de anzol que são colocados nos sedenhos ou sob a sela do animal;
·
choques elétricos e mecânicos - aplicado nas partes sensíveis do animal
antes que entre na arena;
·
terebintina, pimenta e outras substâncias
abrasivas - são introduzidas no corpo do animal, antes
que entrem na arena. Essas substâncias, em contato com cortes e ferimentos,
causam muita dor e ardor;
·
golpes e marretadas - na cabeça do animal, seguido de choque
elétrico. São utilizados quando o animal já está velho e não serve mais para o
rodeio, de maneira a produzir sua morte;
·
descorna - é o corte do chifre
dos bovídeos, para determinadas provas do rodeio. Esse corte é feito com um
serrote, sem anestésico, causando muito sangramento e dor;
·
transporte dos animais - para levar os animais
para o rodeio, utiliza-se de transportes que proporcionam extremo desconforto
ao animal, tendo em vista que os animais ficam em espaços muito apertados.
Também, por vezes, quando os animais são colocados ou retirados dos carros, caem
e fraturam membros e ossos;
·
brete - é o local onde o animal
fica confinado antes de entrar na arena, para a prova do rodeio. É um momento
que causa intenso estresse para o animal;
·
prova de laço - consiste em tentar
capturar um bezerro, de aproximadamente 40 dias de idade, através do lançamento
de um laço. Capturado o bezerro, através do laço, o animal sofre um tranco no
exato momento em que é laçado, prejudicando toda a sua estrutura física,
fraturando seu pescoço e causando-lhe lesões que podem tanto deixá-lo paralítico
como levá-lo à morte.
Assim, é impossível, inadmissível e
indefensável, pensar e cogitar que, com tudo isso, o animal não venha a sentir
dor, maus tratos, sofrimento.
A professora Júlia Matera, presidente da
comissão de ética da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo, in Parecer Técnico sobre a potencialidade lesiva de
sedém, peiteiras, choques elétricos e mecânicos e esporas em cavalos e bois
diz: “A utilização de sedém, peiteiras, choques elétricos ou mecânicos e
esporas gera estímulos que produzem dor física nos animais, em intensidade
correspondente à intensidade dos estímulos. Além da dor física, esses estímulos
causam também sofrimento mental aos animais, uma vez que eles têm
capacidade neuropsíquica de avaliar que esses estímulos lhes são agressivos, ou
seja, perigosos à sua integridade”.
Em relação às provas de laço, disse o perito veterinário,
Dr. José Lincoln Leite de Campos, nomeado pelo MM. Juízo de Jaguariúna, nos
autos da ação popular nº 649/01, referindo-se à edição de 2003 do Jaguariúna
Rodeo Festival: “(...) quando fugindo da condição que foi imposta a ele, é
laçado [bezerro de 40 dias de idade], sofre um tranco, podendo ocorrer danos no
seu pescoço, causando lesões leves, graves ou gravíssimas, reversíveis ou
irreversíveis, podendo até levá-los à morte”.
Complementando, o médico veterinário E. J. Finocchio, disse
para a revista The Animals Agenda: “Testemunhei a morte instantânea de
bezerros após a ruptura da medula espinhal. Também cuidei de bezerros que
ficaram paralíticos e cujas traquéias foram total ou parcialmente rompidas. Ser
atirado violentamente ao chão tem causado a ruptura de diversos órgãos
internos, resultando em uma morte lenta e agonizante”.
Sobre as conseqüências dos constantes
maus-tratos aos animais de rodeio, Dr. C. G. Harber,
médico veterinário com trinta anos de experiência como inspetor de carne da
USDA, acostumado a receber animais de rodeio destinados para o abate após 10 ou 15 anos de “trabalhos”, em
artigo publicado em março de 1990, na revista The Animals Agenda, disse:
“O pessoal dos rodeios manda seus animais aos matadouros, onde tenho visto gado tão machucado, que as
únicas áreas em que a pele continuava ligada eram na cabeça, pescoço e pernas.
Tenho visto animais com seis a oito costelas
separadas da coluna vertebral e, às vezes, penetrando os pulmões. Tenho visto
entre dois e três galões de sangue livre acumulado debaixo da pele solta.”
Fica evidente que sem o uso destes
instrumentos e meios, o animal não pula na arena, portanto, só pula porque está
sentindo dor, e muita dor. Circunstância que comprova a crueldade que lhe estão
aplicando, sob o mito de esporte e cultura.
Cultura é tudo aquilo que contribui para o
desenvolvimento intelectual da pessoa, e esporte, toda a prática que contribui
para o desenvolvimento físico da pessoa, sendo que, em ambas as situações
temos, necessariamente, um desenvolvimento, e desenvolvimento traz prazer e não
sofrimento.
Sendo assim, se o que temos com o rodeio é
sofrimento aos animais, não temos cultura nem esporte, temos sofrimento dos
animais e crueldade por parte daqueles que estão produzindo o sofrimento.
Por isso o rodeio tem que acabar em todo
lugar em que ele existe nesse formato, ou pode continuar a existir, mas sem
animais, até mesmo porque já ficou demonstrado que o que leva as pessoas para o
rodeio não é a prática cruel com os animais, mas sim, os shows. Então, em mais
esse aspecto os organizadores do rodeio estão sendo ignorantes e nem precisariam
estar sendo criticados, se já tivessem se atentado que para o rodeio ter
sucesso bastam os shows, prescindindo da existência dos animais, inclusive dos
maus tratos produzidos aos animais.
Raquel Bencsik Montero
Nenhum comentário:
Postar um comentário