Raquel Montero

Raquel Montero

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

2020! TODA MUDANÇA É POSSÍVEL SE HÁ A DECISÃO DE MUDAR

Foto: Reprodução


Quando nasce um novo ano em nossas vidas é comum que se pense em mudanças, em tudo aquilo que não queremos mais e tudo aquilo que queremos conquistar. Toda a mudança é possível desde que se tome uma decisão para isso. Decisões trazem a força e a determinação para agir, e só vêm depois da reflexão que traz a consciência. Características e circunstâncias essas que toda pessoa pode ter e desenvolver cada vez mais.
 
Toda pessoa é capaz de mudanças e tudo na vida pode ser modificado. Essa é a premissa primeira. Para isso é preciso uma decisão, e decidindo, agir com a força e a determinação para tanto. Dizer se é fácil ou difícil não é relevante. São os momentos difíceis que mais nos ensinam e nos fortalecem. O que interessa é que seja possível. E possível, tudo é.
 
É claro que existem as desigualdades sociais que levam a desigualdades de oportunidades entre as pessoas, fazendo com que umas pessoas larguem em um ponto de partida lá atrás, e outras pessoas larguem lá na frente e com menos obstáculos do que as que vem atrás. Isso é desigualdade e ela tem que acabar porque o certo e o justo é que exista igualdade de oportunidades, e que nas oportunidades da vida, de estudo, de trabalho, de renda, de cultura, de acesso a direitos de uma forma geral, as pessoas larguem no mesmo ponto de partida e com os mesmos obstáculos. Defender a meritocracia é ignorar as desigualdades sociais com que coexistimos.
 
Mas não é de desigualdades sociais e meritocracia que estamos tratando nesse texto. Estamos tratando daquele poder de decisão que todos as pessoas têm dentro de si para fazer as mudanças que quer ou julgue boas em suas vidas, inclusive a decisão de contribuir nas causas que lutam a favor da igualdade de oportunidades na sociedade.
 
É possível as mudanças que queremos ver acontecer porque temos a força motriz que tudo move nas engrenagens da vida. Não é por outra razão que, segundo o Cristianismo, o Pai teria dito: "sóis deuses". E como deuses ele teria explicado que cada pessoa é capaz de fazer tudo aquilo que pede ao próprio Pai. As pessoas, então, carregariam dentro de si, em sua centelha divina, a força e a capacidade de realizar mudanças, em suas própria vidas e na sociedade. No mesmo sentido o filósofo, escritor e educador indiano Krishnamurti afirmava que o autoconhecimento era a chave para solucionar os problemas humanos e a urgente mudança social só seria possível a partir de uma transformação individual (Krishnamurti, o Livro da Vida, São Paulo, 3º Ed. Academia, 2.016).
 
É disso que se trata esse texto. Concomitantemente às mudanças que têm que ocorrer na sociedade para que de fato tenhamos justiça social e igualdade de oportunidades que nos levará a uma vida de paz, verdadeiro amor e harmonia, que cada pessoa seja responsável por seus atos e pensamentos e o que eles geram em sua vidas, nas vidas das outras pessoas e na vida como um todo. Como disse Gandhi, "que cada pessoa seja a mudança que quer ver no mundo".
 
Um começo de ano novo é mais uma grande oportunidade de tomarmos decisões que podem mudar nossas vidas para melhor e contribuir para as mudanças positivas que queremos ver acontecer na sociedade. Para isso é preciso que se tome decisões, e depois da decisão tomada que se adicione três ingredientes elementares para que as mudanças aconteçam: a luta, porque "milagres só acontecem quando vamos à luta" (poeta Sérgio Vaz); a fé, porque "o contrário do medo não é a coragem, mas a fé" (Frei Betto); o amor, que nos possibilita transformar lutas e dificuldades em poesia e semear no presente um bom futuro, como fez Gonzaguinha; "fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Nós podemos muito, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será".
 
Feliz Ano Novo! Felizes decisões e mudanças!
 
       Raquel Montero 

PRIVATIZAR A ÁGUA É UM ATO DESUMANO E INSANO

O artigo abaixo também foi publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 08.01.2020. No Jornal Tribuna o artigo pode ser acessado também pela internet através do link:
 


Foto: Reprodução/Pablo Valadares/Câmara Federal



Quando na década de 90 o Banco Mundial incentivou a privatização de serviços básicos, entre os quais o de fornecimento de água, os resultados foram desastrosos. Peguemos como exemplo a Bolívia. Após a privatização houve um grande aumento de preços, que levou a uma grande queda no consumo de água tratada. A maioria da população retornou a formas primitivas de coleta de água, como armazenamento de água da chuva em baldes ou lençóis estendidos em varais e perfuração de poços amadores. As empresas reagiram à essas práticas pois o consumo de seu produto, e, por conseguinte, o lucro, foram afetados, e reagiram por meio da aprovação de leis proibindo tais práticas de coleta de água, inclusive com o uso de força policial. Essa situação levou a uma forte revolta da população e ao caos no país, no qual mães eram ameaçadas por coletar água da chuva para saciar a sede de seus filhos. (Vandana Shiva, A Guerra por Água: Privatização, poluição e lucro. São Paulo: Radical Livros, 2.006).
Apesar das experiências com resultados negativos que temos na história, o Presidente Jair Bolsonaro quer privatizar a água no Brasil. O projeto de lei de autoria de Bolsonaro que facilita a privatização de empresas estatais de saneamento básico foi aprovado este mês na Câmara Federal e seguirá para votação no Senado.
O suposto fundamento que os defensores da privatização, como Bolsonaro, dão para privatizar os serviços e vender a preços vis o patrimônio público é o de que o serviço não funciona bem estando sob gestão pública. Pois bem, vejamos, então, um exemplo de prestação de serviço público de água no Brasil e o seu desempenho; A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP).
A SABESP existe desde 1.973. É uma sociedade de economia mista do Estado de São Paulo, uma empresa estatal estadual, portanto. A SABESP atua no Estado de São Paulo fornecendo água e fazendo a coleta e o tratamento de esgoto, atendendo atualmente 367 dos 645 municípios paulista. Trata-se da maior empresa de saneamento da América e a quarta maior do mundo em termos de população atendida (27,9 milhões de pessoas atendidas). Em razão da segurança e da rentabilidade a longo prazo há na SABESP investidores do mundo todo desde fundos soberanos de Cingapura e Emirados Árabes até fundos de pensão brasileiro. A Sabesp não recebe um centavo do governo, se mantendo através do dinheiro que vem das tarifas dos serviços que presta.
Por que privatizar e desfazer de um patrimônio como esse? Não tem lógica, inclusive por se tratar de um serviço essencial como é o de fornecimento de água, que não pode e não deve pertencer a ninguém senão ao povo, a quem a água se destina e à natureza a que as pessoas estão inseridas. A prestação desse serviço público carrega em si a função social de realização do interesse público no atendimento de uma necessidade essencial que se refere à própria dignidade e sobrevivência, e dignidade e sobrevivência não podem ficar a mercê do interesse particular e do lucro que o particular almeja.
E pelo aspecto do lucro o serviço de fornecimento de água estará ainda mais protegido com a empresa estatal, já que a estatal não visa lucro, seu objetivo não é esse, mas, sim, o de cumprir com sua função constitucional, que nesse caso é o de levar água para as pessoas.
O discurso da privatização ainda vai contra a tendência mundial da estatização e da reestatização que está ocorrendo em países de grandes economias como Estados Unidos (EUA), Alemanha, França, Reino Unido e Espanha, que são também os cinco países que lideram a lista das reestatizações no mundo. Desde 2.000, ao menos 884 serviços foram reestatizados no mundo, segundo levantamento do TNI (Transnational Institute), centro de estudos em democracia e sustentabilidade sediado na Holanda, que levantou dados entre 2.000 e 2.017. Segundo o TNI isso ocorreu porque estes países constataram que as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços ficavam caros e ruins.
Por que o Brasil faria diferente e com um serviço essencial como o da água se a tendência no mundo em países de grande economia está sendo a estatização ou reestatização?
Raquel Montero