Raquel Montero

Raquel Montero

terça-feira, 4 de agosto de 2020

NUMA PANDEMIA, QUEM SE AGLOMERA NÃO AMA NINGUÉM, NEM A SI


Imagem: Reprodução




As autoridades médicas e sanitárias, nacionais e internacionais, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), entidade séria de abrangência internacional e respeitada em todo o mundo, já atestaram que as medidas mais eficazes contra o Coronavírus são o isolamento e a quarentena, simplesmente porque essas medidas combatem que o vírus se prolifere, passando de pessoa para pessoa quando estas se encontram e ficam próximas.
 
Apesar dessas instruções, dadas por profissionais das áreas competentes, que tem conhecimento técnico para tanto, têm pessoas que ainda ousam descumprir as instruções médicas, sem apresentar fundamentos que conteste as instruções médicas, por mera disposição da vontade, ou capricho. Dentre as pessoas que descumprem está, lastimavelmente, o próprio presidente do Brasil, que não é médico, mas, por pura vontade, e sem apoio de nem mesmo os ministros da Saúde que ele mesmo escolheu, demonstrando querendo fazer queda de braço, ousa descumprir as recomendações de quem tem formação em Medicina.
 
Desde que começou a quarentena e o isolamento foram muitas as aparições de Bolsonaro em público sem máscara, indo para o abraço, pegando criança no colo, formando aglomerações, tirando fotos com o rosto colado em outros rostos, enfim, dando seus shows de maus exemplos, colocando vidas em risco, disseminando comportamentos errados e envergonhando o Brasil diante do mundo. 
 
Se o próprio presidente dá mau exemplo é difícil não esperar um efeito cascata de seus comportamentos. O efeito cascata, no entanto, não tem que acontecer, vai vir de uma atitude irrefletida, de quem, como costuma-se dizer "não pensou antes de agir", e ai, age por mera repetição, sem reflexão, como um robô seguindo um mito. Por outro lado, refletir antes de tomar atitudes podem romper ou impedir a repetição de comportamentos maléficos.
 
Immanuel Kant escreveu certa vez que "esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo." (Immanuel Kant, Textos Seletos, 7º Edição, Petrópolis, Vozes, 2011, pag. 63). Esclarecimento vem da reflexão, da busca pelo entendimento, busca essa deságua nas águas libertadoras da emancipação.
 
Ora, se as autoridades médicas atestaram, com fundamentos técnicos e científicos, e assim, portanto, com embasamento e não com "achismos" como faz Bolsonaro, que as medidas mais eficazes para combater o Coronavírus é a quarentena e o isolamento, por que nadar contra a maré?
 
A razão de Bolsonaro de ir contra as instruções médicas, inclusive ir contra a orientação de seus próprios ministros da Saúde, parece bem clara, uma típica birra, manha, de quem não gosta de ser contrariado e ai faz queda de braço ou pega a bola do jogo e vai embora. Mas e as pessoas que agem do mesmo jeito que Bolsonaro em plena pandemia, com quase 95 mil mortes no Brasil e 385 mortes em Ribeirão Preto/SP, cidade de onde escrevo essas palavras, por que agem assim? As redes sociais e a imprensa todo dia dão notícias de pessoas se aglomerando em festas particulares, de maneira disfarçada perto de um bar ou de uma loja de conveniência de posto de combustível, nas sacadas de prédios.
 
Em um dos fatos mais recentes pessoas se aglomeraram em um evento particular que transmitiu num telão uma dupla sertaneja e as pessoas entraram no evento para assistir de dentro de seus carros a gravação transmitida no telão. Cada carro pagou R$ 500,00 para entrar no evento, e pouco tempo depois de começar a gravação muitas pessoas saíram de dentro dos carros e se aglomeraram sem máscara.
 
O que é flagrante ver em comportamentos como esses, diante de uma pandemia e de milhares de vidas que já se foram, é a expressão da total irresponsabilidade e desrespeito com a vida, das outras pessoas e da própria pessoa, além da ausência de solidariedade e empatia. E na somatória desses valores, ou da falta deles, o que temos é a ausência de amor. Um comportamento desse não mostra amor por ninguém, nem a si. E na ausência de amor o que fica é a carência afetiva. Carência que, inclusive, faz pessoas querem se aglomerar e gastar R$ 500,00 numa atividade de recreação durante uma pandemia que já destruiu milhares de vidas e construiu em seu lugar milhares de covas.
 
Diante dos fatos, é necessário dizer, novamente, mais amor, por favor.
 

       Raquel Montero