Raquel Montero

Raquel Montero

sábado, 29 de abril de 2017

28 de abril de 2017, dia da maior greve geral da história do Brasil

    
Ribeirão Preto/Filipe Peres/Blog O Calçadão

Ribeirão Preto/Filipe Peres/Blog O Calçadão

Ribeirão Preto/Filipe Peres/Blog O Calçadão

Ribeirão Preto/Filipe Peres/Blog O Calçadão



Foto: Reprodução Facebook


Porto Alegre/Marcelo G. Ribeiro/Jornal do Comércio

São Paulo/Ricardo Stuckert



    28 de abril de 2017 foi o dia da greve geral histórica do Brasil, considerada também a maior greve geral da história do Brasil.


    Cerca de 40 milhões de pessoas foram às ruas protestar contra a reforma trabalhista, Projeto de Lei (PL) 6787/2016 e da previdência, Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 287/2016, propostas pelo Governo Temer e já em andamento no Congresso Nacional.


   Ambos os projetos aniquilam com os direitos trabalhistas e sociais da trabalhadora e do trabalhador. Todas as lutas sociais empreendidas desde a Europa e trazidas para o Brasil vão ruir. Todos os direitos sociais conquistados em séculos de lutas pela classe trabalhadora vão se descontruídas.


    Tudo isso por que?

     A pretexto de que a economia precisa de mais produtividade e efetividade. Mas é mentira do Governo e dos parlamentares que defendem essas reformas. O pano de fundo, o objetivo, é acabar com os direitos conquistados pelo povo trabalhador a custa de muitas lutas, e com isso fazer o patrão lucrar mais.


    Nenhum direito foi dado à classe trabalhadora. Nenhum! Todos os direitos sociais e trabalhistas que a trabalhadora e o trabalhador possuem hoje foram conquistados em muitas lutas em séculos de existência. E o patrão querer retirar isso do povo trabalhador agora. 


   A destruição que eles querem começou com a aprovação da terceirização total do trabalho. Eu perguntaria a um trabalhador terceirizado qual a possibilidade, qual a oportunidade que ele tem de ascenção, de promoção, de crescimento dentro de seu trabalho.


    Nenhuma! O trabalhador terceirizado será sempre terceirizado. Ele nunca terá chance de ascensão, de promoção, de crescimento dentro de seu trabalho. Terceirizado é sempre terceirizado.


   O terceirizado é tão terceirizado que ele se torna invisível dentro de seu local de trabalho. Ele é horizontal, não é vertical. Ele é tão horizontal que ele nem é mais chamado pelo nome, ele perde sua identidade no seu local de trabalho, ele é só um número ou uma matrícula.


   E tem mais. O pulo do gato. O foco maior do empresariado em prestigiar o trabalho terceirizado é atacar o coletivo, o sindicato. O trabalho terceirizado acaba com os sindicatos, destrói com o coletivo. O patrão passa a conversar diretamente com o funcionário, numa situação de total desigualdade, de total disparidade. Esse é o pulo do gato. 


     Para esse governo que está ai, para esses parlamentares que defendem essas reformas, para o STF que ai está parece que o trabalho não dignifica o homem. 


     Não é possível construir ou melhorar um país a partir da desconstrução do trabalhador e da trabalhadora e da desvalorização do trabalho. É o trabalho que dignifica as pessoas, e se esse não for valorizado é o próprio ser humano que é desvalorizado.


    É preciso ser e ter. Para ser é preciso ter condições de ter. Ter possibilidade de melhorar, ter oporunidade de evoluir. A democracia pede oportunidades iguais.


     As reformas são ruins. O povo não quer. Numa democracia o soberano é o povo, e se ele não quer sua vontade deve ser respeitada. O recado foi dado ontem com eloquência à esse pseudo governo golpista e ilegítimo de Temer e aos parlamentares golpistas que com ele estão tentando dar mais este golpe ao país e ao povo brasileiro. 


    Nas capitais e nos rincões do nosso país foi possível ver a contrariedade das pessoas. A imprensa golpista e parcial tentou esconder, mas quem quis ver a verdade era só sair na rua ou abrir a janela de onde estava que era possível constatar a greve. Greve pacífica, com foco, com harmonia e com sede de não deixar passar mais estes golpes que estão tentando. 


    As fotos que aqui coloquei, de diferentes lugares do Brasil, mostram com eloquência o sucesso da greve geral do dia 28/04/2017. Dia histórico da maior greve geral da história do Brasil. Em Ribeirão Preto, onde participei da manifestação, nos reunimos em mais de 6 mil pessoas. 


    E as fotos de Ribeirão que coloquei foram de Filipe Peres, do Blog O Calçadão. Na imprensa não achei nenhuma foto imparcial como as que ele tirou, mostrando o real público que a greve teve. Por que será, hein? Nos telejornais a parcialidade continuou, se negando os jornais a falarem a palavra "greve" nos noticiários. Falavam em "manifestação". 

   
    Mas foi greve. E tudo parou nesse dia. O Brasil parou.

    Raquel Montero

   

   

quinta-feira, 27 de abril de 2017

33 anos



O mês de abril é o mês do meu aniversário. Nasci no dia 10 do ano de 1984, ano de uma década de efervescência, que trouxe o fim de uma ditadura de mais de 20 anos no Brasil, que reivindicou pelas Diretas-Já, que criou nossa Constituição Cidadã, a melhor de todas que já tivemos e uma das melhores do mundo, que trouxe de volta ao povo o direito de eleger seus representantes nas instâncias de poder do Legislativo e do Executivo.

Agradeço à vida pelo dia do meu nascimento. Agradeço todos os dias, e como primeira coisa do dia, a oportunidade da vida. E agradeço hoje, por mais um aniversário, e por ter a oportunidade de encerrar mais um ano em minha vida para iniciar outro, cheio de novos desafios, aprendizados e experiências.

Agradeço a todos os companheiros e todas as companheiras de vida que me felicitaram em meu aniversário. Muito obrigada!

O melhor da vida é viver, me permitiu ser maior do que era antes e melhor do que era ontem, evoluindo a cada lua, a cada sol, como diz a música...

"Eu sou maior do que era antes
Estou melhor do que era ontem
Eu sou filho do mistério e do silêncio
Somente o tempo vai me revelar quem sou

As cores mudam
As mudas crescem
Quando se desnudam
Quando não se esquecem

Daquelas dores que deixamos para trás
Sem saber que aquele choro valia ouro
Estamos existindo entre mistérios e silêncios
Evoluindo a cada lua, a cada sol

Se era certo ou se errei
Se sou súdito, se sou rei


Somente atento à voz do tempo saberei"

sábado, 8 de abril de 2017

O machismo nosso de cada dia hoje é o de José Mayer

   
Foto: Reprodução

  Semana passada eu fui, como advogada, acompanhar um cliente para prestar depoimento em um inquérito policial. Na Delegacia, em seu depoimento, meu cliente fala ao escrivão de polícia do abuso praticado por policiais militares ao entrarem na casa de uma pessoa, às 21hrs, sem autorização da moradora. 


 Na sequência o escrivão começa a lamentar o fato denunciado pelo meu cliente e corroborado por depoimento de outra pessoa no mesmo inquérito, e desabafa, quando pergunto a ele, em outro momento, se ele gostava do trabalho dele; "quando entrei, há dois anos atrás, gostava mais. Agora não quero mais continuar. Tem coisas que vi aqui e não gostei."


  Foi bom ver o lamento e desabafo de um servidor público, demonstrando estar sendo sincero nessas atitudes. Ao mesmo tempo, foi ruim ver como os erros dos outros provoca tanto sofrimento.


    Da mesma forma interpretei também o machismo do ator José Mayer. 


   Ver mais um ato de machismo, e tão escancarado, foi penoso. Mas ver a reação à esse machismo, foi revigorante e fortalecedor, foi um conquista para o feminismo, uma conquista para a sociedade.


    Quando a figurinista Susllem Tonani tomou a decisão de publicar um texto acusando o ator José Mayer de assédio sexual sistemático (foram cerca de oito meses) estava sozinha e não estava. Sua decisão foi solitária, mas veio depois de anos de mobilizações feministas que buscam tirar da invisibilidade as mulheres e seus onipresentes relatos de assédios sofridos e emudecidos. E, se estava sozinha no momento da publicação, poucos dias depois se viu apoiada por uma mobilização de outras mulheres e de homens também.


   A denúncia corajosa de assédio sexual no blog #agoraequesaoelas, hospedado no site do jornal Folha de SP, levou  a retirada do conteúdo do ar, passando pela resposta inicial jocosa de José Mayer chegando ao desfecho importante: a suspensão do ator e sua carta em que reconhece o assédio.




    E ainda, como fato bom, a maior lição desse episódio: Precisamos denunciar e precisamos nos solidarizar. Susllem denunciou, superou vários obstáculos para isso. Outras mulheres publicaram a denúncia na imprensa e bancaram a publicação, uma rede poderosa de mulheres se solidarizou. A reação trouxe resultados. Essa foi a grande lição; Denunciar e solidarizar. 



    E precisamos, sem violência, com sabedoria, mostrar para o agressor o seu erro, de maneira a verdadeiramente fazer com que ele se corrija. 


   José Mayer, depois de ser jocoso, se retratou e reconheceu o assédio e seu erro. Há serenidade no perdão ao anunciar-se fruto da geração patriarcal. Há ai confortos e vantagens.


   Pedir desculpas é importante. Escrevê-las é um ato de coragem. No entanto, só o tempo dirá se a pessoa que assim agiu, foi sincera e mudou, e será mesmo alguém melhor para promover a igualdade entre homens e mulheres na sociedade brasileira.

  No caso de José Mayer, com mais de 60 anos, ele também pode ser um porta-voz de como o assédio masculino é prática maléfica para a civilização. 

     Raquel Montero

domingo, 2 de abril de 2017

Vereador Lincoln Fernandes e a exclusão como solução

   
Foto: Reprodução/Matheus Urenha/A Cidade ON


    Lincoln Fernandes (PDT), foi eleito vereador em Ribeirão Preto nas eleições de 2.016, com 3.601 votos. Ele também foi alvo de uma representação do Ministério Público Eleitoral (MPE) na Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, por suspeita de improbidade administrativa.

   Consta na denúncia que Fernandes trabalhava como radialista e apresentador de TV em Ribeirão no mesmo período em que ocupava cargo de assessor parlamentar do deputado Rafael Silva (PDT) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Por esse motivo, deixou de cumprir a jornada exigida como servidor. 

   Então, esse mesmo vereador foi protagonista de mais um fato deplorável. 
  Agora ele criou um projeto de lei que proíbe a prática de atos e atividades, pedido de dinheiro e venda de mercadorias nas ruas, nos semáforos e cruzamentos de Ribeirão Preto, sob pena de a pessoa que descumprir tal proibição sofrer sanções. 
   Apresentou como justificativa do projeto, segundo termos utilizados no próprio texto de seu projeto de lei, de número 55/2017, a finalidade "de regulamentar a permanência de pessoas nos cruzamentos da vias urbanas, sinalizadas com semáforos, de enfrentar o problema das pessoas que ficam nas ruas praticando atividades ilegais e de impedir exploração comercial ou arrecadação de dinheiro sem a devida contribuição para o município."
  Nos termos do projeto do vereador, então, um artista, por exemplo, não pode mais apresentar sua arte nas ruas. Arte na rua, não. Só no palco, no cinema, só depois da bilheteria. No entendimento do vereador, rua não é lugar para arte.
  Nos termos do projeto do vereador, rua tem a função de fazer o trânsito de veículos e pedestres. Qualquer outra função que se queira dar às ruas constitui perigo ou obstáculo para o trânsito de veículos e pedestres. Nesse sentido uma panfletagem para um protesto, uma campanha sobre determinados temas, também estariam proibidas porque atrapalhariam o trânsito de pedestres e veículos. 
   Como atividades ilegais que o vereador visou também erradicar estaria o tráfico de drogas e a exploração infantil. Mas o seu projeto só propôs tirar das ruas as pessoas que estariam praticando essas atividades ilegais, e retirar aquelas que estariam sendo vítimas dessas atividades, como as crianças, porém, o mesmo projeto não trouxe nenhuma alternativa ou proposta do que fazer com essas pessoas. 
   O vereador propõe tirar das ruas trabalhadores informais, mendigos e pedintes, adultos ou crianças que estejam pedindo dinheiro nos cruzamentos de ruas e em semáforos. Mas o que fazer com elas ou para resolver o problema delas de falta de dinheiro, falta de emprego, falta de renda, de vícios e dependência química? 
   Proposta ou alternativa para essa pergunta ou problema o vereador, porém, não apresentou.
   Só tirar essas pessoas das ruas resolve os problemas que a levam para as ruas, vereador? Só tirar essas pessoas das ruas vai acabar com a dependência química delas, a exploração infantil, a falta de emprego, de renda, de vagas em creches, de vagas em escolas? É isso, vereador?
   Do projeto do vereador Lincoln Fernandes, se conclui que ele tem a seguinte concepção de vida e de políticas sociais; para acabar com a existência da mendicância, de pedintes nas ruas, de crianças e adolescentes nas ruas, de dependência química vista nas ruas, de trabalhadores informais retira-se essas pessoas das ruas. 
   Por essa lógica podíamos, então, concluir que, para resolver o problema da fome deve-se matar os esfomeados, e para resolver o problema da criminalidade mata-se os criminosos. É isso, vereador?
   A experiência bem sucedida mostra que problemas sociais se resolvem com políticas públicas e não com exclusão. Exclusão leva à segregação que, por conseguinte, leva a mais problemas e não a soluções.
   É lógico, vereador, que não é bom nem bonito ver a miséria, a fome, a necessidade das pessoas ser escancarada numa mendicância. Mas não é com a exclusão das pessoas que pedem dinheiro ou com a proibição a elas imposta para não pedir mais dinheiro que o problema que as leva a pedir dinheiro estará resolvido. 
   O problema não é a pessoa ou o ato de pedir de dinheiro. Essa é a consequência. O problema é o que faz a pessoa pedir dinheiro nas ruas.
   O trabalho informal se resolve com propostas de incentivo e fomento para sua formalização, e não com sua exclusão. Sua exclusão só vai gerar mais pessoas sem renda.
    E arte nos cruzamentos e semáforos não é um problema, é arte, é uma das formas de ocupação dos espaços públicos e expressão da cultura de uma povo, além de ser também uma forma de inclusão social.
    A ideia do vereador expressa o pensamento que se satisfaz com higienismo e não protesta por políticas sociais, se satisfaz com a retirada do problema da sua vista, ainda que o problema continue a existir, que ele só tenha mudado de lugar.
   Para finalizar, o projeto foi tão estapafúrdio que foi retirado de votação pelo próprio autor dele, o iniciante vereador Lincoln Fernandes, não sem antes, contudo, ter recebido protestos contra sua obra.
Raquel Montero