Raquel Montero

Raquel Montero

terça-feira, 26 de maio de 2020

BRINQUEDO DE MENINA E BRINQUEDO DE MENINO. AINDA EXISTE ESSA BOBAGEM?


Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna na sua edição do dia 27.05.2020. No Tribuna o artigo também pode ser acessado pela internet através do link:




Foto: Reprodução



Determinadas construções são feitas social e culturalmente. Maternar, faxinar, cozinhar, são atividades humanas e podem ser feitas por meninos e meninas desde a primeira infância. Mas não é isso que a sociedade prega e propaga. Lembrando que a sociedade somos nós, cada pessoa que a compõe.

Por que bonecas são dadas apenas para meninas para elas brincarem de ser "mãe" se tanto mulher quanto homem podem ter filhos? Por que só a menina pode brincar de ser "mãe" e menino não pode brincar de ser "pai"? Por que o carro de bombeiros é dado só para meninos se tanto homem quanto mulher podem ter essa profissão? Por que a cozinha, a panela, a vassoura, é um brinquedo que só é presenteado a meninas? Meninos não comem e não limpam a casa?

Drauzio Varella, escrevendo sobre o comportamento humano em seu livro Borboletas da Alma - Escritos sobre Ciência e Saúde (2.006, pag. 88), explicou que as informações científicas acumuladas nos últimos trinta anos permitem afirmar que o comportamento humano é resultado de interações sutis entre genes, fatores ambientais e experiências vividas. Explicou, também, que a característica mais importante do sistema nervoso é sua plasticidade, isto é, a capacidade que os neurônios têm de estabelecer conexões moldadas pela experiência.

Portanto, fatores ambientais e experiências vividas formam o comportamento humano, e os estímulos e aprendizados recebidos numa fase em que o cérebro está sendo esculpido pela experiência induzem uma cascata de eventos, de informações captadas, de cultura, de aprendizado. Olha a importância e influência das experiências, dos fatores ambientais e dos estímulos na formação do comportamento humano.


Para o assunto que estamos tratando qual o impacto desses estímulos ocorridos nas brincadeiras das crianças na formação dessas mesmas crianças? Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mesmo em países desenvolvidos as mulheres gastam quase o dobro do tempo que os homens em serviços domésticos e trabalho não remunerado (faxinar e cuidar de filhos seriam dois desses trabalhos sem remuneração que as mulheres fazem a mais que os homens). E as mulheres fazem isso mesmo tendo uma jornada de trabalho remunerada similar à dos homens: homens trabalham oito horas em média e mulheres sete horas e 45 minutos. A diferença é que desse conjunto de horas os homens trabalham 02 horas e 21 minutos sem remuneração e as mulheres 04 horas e 30 minutos.

No Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) essa diferença é ainda maior; as mulheres brasileiras gastam em média 26,6 horas semanais com trabalho doméstico enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas.

Enquanto meninas ganham só bonecas e meninos ganham laboratórios de química para brincar, o Censo Escolar de 2.001 mostra que 60% das pessoas graduadas são mulheres, sendo que na Ciência apenas 43% das pessoas tituladas na área são mulheres, e a titulação feminina vem caindo, sendo 39% em 2.004 e 37% em 2.008. Em cursos como Física, na maioria dos países, a participação das mulheres é de cerca de 10% a 12%.

A infância e a adolescência são fases que estão sob a responsabilidade de pais e ou mães para insculpi-las no sentido de proporcionar seu correto desenvolvimento para que, após essas fases, essas pessoas, meninos e meninas, que se tornarão pessoas adultas, tenham escolha e possam escolher bem o que querem ser e os sonhos que querem realizar. É nessa fase que se pode e deve dar os estímulos e proporcionar boas experiências, e ensinar dois valores que tanto admiramos:  igualdade e liberdade. Igualdade no tratamento, na criação, nos estímulos. Liberdade para deixar a pessoa ser quem ela quiser e sonhar. Sonhar alto!

Para essa igualdade e essa liberdade é urgente que reinventemos o brincar. Não existe brinquedo só de menino e brinquedo só de menina. Existe o "brincar".

       Raquel Montero 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

METE A COLHER, SIM!

  Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna na sua edição do dia 20 de Maio de 2.020. No jornal o artigo também pode ser acessado pelo site no link;




Foto: Reprodução



O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para uma mulher se envolver emocionalmente com um homem, é o país em que ainda se diz que "em briga de marido e mulher, não se mete a colher, porque o homem pode não saber porque está batendo, mas a mulher sabe porque está apanhando".

Em primeiro lugar quando é que violência é boa ou recomendável? Que tipo de conflito é recomendável que se use a violência para resolvê-lo? Em nenhum caso a violência é recomendável para se resolver conflitos. A violência é um mal, e com um mal não se resolve nada, ao contrário. Sendo assim, como aceitá-la ou defendê-la numa briga de casal, em que um homem passe a bater, violentar ou abusar de uma mulher?

Se não se deve bater nas pessoas, como defender ou aceitar que em briga de marido e mulher, ou, em violência de marido e mulher, não se mete a colher, e deixe que a violência "corra solta"?
Se mete a colher, sim! É um direito e um dever de toda a pessoa que tenha conhecimento dessa violência. E é um direito e um dever não só porque a omissão de socorro constitui crime previsto no Código Penal (artigo 135), mas, principalmente. e antes de tudo, porque se trata de solidariedade, e de empatia!

É comum pensar que aquela mulher, vítima de violência, só está apanhando "porque é mulher de malandro", e se não fosse sairia dessa situação a qualquer momento. Mentira!

Na prática a teoria é outra e a realidade não é tão simples assim. É possível elencar vários motivos do porque essa mulher continua na situação e apanhando, e aqui vai alguns: não ter para onde ir com suas crianças porque o imóvel que o casal mora é o único; não tem família para ampará-la, porque, por religião, ignorância e conservadorismo, muitas mães e muitos pais dizerem "ruim com ele, pior divorciada"; os municípios, na quase totalidade deles, não proporcionam as medidas protetivas previstas na lei, tais como casa abrigo; a Polícia, em muitos municípios, não tem estrutura necessária para atender com a urgência e a rapidez necessárias toda a demanda existente e com isso pode demorar para dar resposta à denúncia e essa demora pode ser fatal após a denúncia feita pela vítima, que ficará mais ainda a mercê do agressor.

Poderíamos continuar a elencar motivos aqui, mas uma pergunta resume todos eles: Qual a pessoa, mulher ou homem, que gosta de ser violentada, estuprada, abusada, agredida, ofendida e fica nessa situação por prazer?

Se colocar no lugar da outra pessoa é o exercício da empatia, que nos permite sair do lugar de "julgamento" e passar para o lugar de "sentimento", de buscar sentir o que a outra pessoa sentiu na situação que ela vivenciou. E esse exercício nos permite ser mais útil do que se estivéssemos no lugar de simples julgamento, onde, amiúde, somos inúteis.

O julgamento não ajuda em nada, além de, na maioria das vezes, ser errado posto que é proveniente da falta de conhecimento de tudo que pode envolver uma dada situação. O que é necessário e útil é que prestemos solidariedade e ajuda às vítimas, que falemos da violência doméstica, que conscientizemos sobre o seu mal, que busquemos e lutemos por espaços adequados para acolher as vítimas com sua crianças, que lutemos por estrutura nos órgãos e entidades públicas para a aplicação das medidas protetivas.

A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio existem, mas ainda não existe em todos os municípios do Brasil toda a estrutura necessária prevista na lei para que as vítimas de violência denunciem seus agresssores e com isso estejam seguras, e não mais ameaçadas, e tenham para onde ir e receber medidas protetivas. Eis o problema.

      Raquel Montero 

terça-feira, 5 de maio de 2020

ENTREVISTA À REVIDE SOBRE A PANDEMIA PELO CORONAVÍRUS E COVID-19, QUARENTENA E ISOLAMENTO

Nesse dia 1º de Maio de 2.020 em que comemoramos o dia da Trabalhadora e do Trabalhador e que tantas reflexões devemos fazer também na oportunidade desta data, a revista Revide em sua edição atual divulgada na data de hoje, fez matéria sobre o impacto da pandemia para a classe trabalhadora. Na mesma edição da revista há matéria muito pertinente sobre as diferentes leis aplicáveis na situação de pandemia e como ficam os direitos e deveres das pessoas diante dessas leis. E sobre essa matéria, como advogada, fui entrevistada para esclarecer o assunto.
 A revista, na íntegra, pode ser acessada no link https://www.revide.com.br/edicoes/impressa/1011/