Raquel Montero

Raquel Montero

terça-feira, 30 de abril de 2019

TRANSFORMAR O MUNDO, TORNANDO-O MAIS HUMANO, É O SENTIDO DO TRABALHO

Artigo publicado na edição do dia 1º de Maio do Jornal Tribuna de Ribeirão Preto, que pode ser acessado também através da versão digital do jornal no link abaixo;



Foto: Reprodução


Transformar o mundo, tornando-o mais humano, é o sentido do trabalho. E como todo trabalho do ser humano sobre o mundo é coletivo, ele é também um modo de exaltação da solidariedade entre os homens. O trabalho é uma relação entre as pessoas, é uma oportunidade, uma via, um caminho de transformarmos o mundo.

Infelizmente, no entanto, esse parece não ser o entendimento predominante na sociedade brasileira para muitas pessoas, sendo essas pessoas, principalmente, aquelas que têm poder de escolher as regras e aquelas que as aplicam (representantes eleitos/eleitas pelo povo e grandes empresários/empresárias, respectivamente).

Mais um 1º de Maio iremos viver, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, e nesse momento da História, lastimavelmente, temos mais que lamentar e protestar do que comemorar.

Tivemos recentes alterações nos direitos trabalhistas que mudaram regras da legislação que consistiam em sistemas de garantias dos direitos trabalhistas. Assim foi com a terceirização total do trabalho, autorizando que todo o trabalho possa ser terceirizado, assim foi com a reforma trabalhista que precarizou as condições de trabalho no Brasil e permitiu com que trabalhadores e trabalhadoras possam ganhar menos que 01 salário mínimo por mês, e dentre outras aberrações, também permitiu que trabalhadoras grávidas e que estejam amamentando possam trabalhar em condições insalubres.  Entre essas alterações ainda tivemos também a Emenda Constitucional (EC) 95 que congelou por 20 anos os investimentos nas áreas sociais do Brasil, da Saúde e da Educação.

Agora Bolsonaro e Guedes querem mexer em outro direito do povo brasileiro, o da previdência pública. A reforma previdenciária de Bolsonaro e Guedes é tentada sob o pretexto de acabar com privilégios e atacar o déficit da Previdência Social do Brasil. Duas falácias. As alterações não acabam com privilégios porque os mais atingidos com a reforma serão os mais pobres, os que ganham menos, e esses não têm privilégios, ao contrário, são penalizados todo o ano com a perda do valor de suas aposentadorias que ficam defasadas porque o reajuste da aposentaria não segue o mesmo reajuste do salário mínimo, tendo sempre o salário mínimo um reajuste maior que o da aposentadoria, gerando a defasagem da aposentadoria a cada ano.

A reforma também não ataca, em nada, o grande déficit da Previdência, que é aquele gerado pelas grandes empresas. Esse é o verdadeiro déficit da Previdência, esse é o grande vilão da Previdência, mas quanto a isso, sequer foi mencionado, continuará intocável. Na verdade, as regras propostas na Reforma da Previdência fraturam com o conceito de Seguridade Social, empobrece os idosos, privatiza a previdência pública, aumenta o lucro dos bancos, dificulta ainda mais a previdência para as mulheres e tornara inalcansável a previdência para a maior parte dos trabalhadores e das trabalhadoras.

A reforma previdenciária de Bolsonaro e Guedes, se passar (e lutemos para que não), terá o mesmo fracasso que a terceirização, a reforma trabalhista e a EC 95. Quando a reforma trabalhista foi proposta, Temer, que ocupava o cargo de presidente à época, a justificou dizendo que ela era necessária porque a economia precisava de mais produtividade e efetividade. E tivemos isso?

O que tivemos depois de todas essas alterações nos direitos trabalhistas e nos direitos sociais foram os 15 milhões de desempregados e desempregadas existentes atualmente no Brasil, precarização das condições de trabalho, subemprego, empobrecimento das famílias, estagnação econômica, ausência total de políticas ou propostas de geração de emprego e renda, ausência total de política de valorização do salário mínimo, veja que em 2.019 Bolsonaro tirou R$ 8,00 do salário mínimo, que já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional, e para 2.020 Bolsonaro já anunciou que não haverá reajuste para o salário mínimo.

Para algumas pessoas, muitas delas, inclusive, estão na qualidade de representantes do povo, parece que o trabalho não dignifica o ser humano, senão, não dariam esse tratamento às relações de trabalho. O trabalho deveria ser visto sempre como inequívoca manifestação da dignidade da pessoa humana. Não é possível construir um país e tê-lo com desenvolvimento a partir do rebaixamento profissional do trabalhador e da trabalhadora.

A luta deve continuar. Ainda será um 1º de Maio de luta.

Raquel Montero

quinta-feira, 18 de abril de 2019

PAULO FREIRE, O MINISTRO DA EDUCAÇÃO E UM PROFESSOR

Foto: Reprodução/Arquivo pessoal


"Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante". Essa frase é de Paulo Freire, terceiro teórico mais citado em trabalhos acadêmicos no mundo segundo o Google Scholar, ferramenta de pesquisa sobre literatura acadêmica. Paulo Freire é o brasileiro mais homenageado em todos os tempos, com 29 títulos de Doutor Honoris Causa por universidades da Europa e da América.
 
 
Paulo Freire foi verdadeiramente um revolucionário na Educação, e antes de tudo, uma pessoa sensível e que tinha amor pelo ser humano e no que fazia, ingredientes que fazem diferença onde se está, com quem se está e no que se está fazendo. Talvez, justamente de seu amor pela Educação, é que tenha sido gerada a revolução que fez. O amor é revolucionário onde quer que aconteça.
 
 
A vida nos mostra e a História nos ensina que em diferentes áreas, diferentes locais, diferentes eras, tem sempre alguém, ou bem mais que uma pessoa, que dá mais sentido a algo feito de maneira igual e mecânica por outras pessoas, que são bem mais que as anteriores. Convivemos com os dois extremos, o bem o e o mal. Mas do mal, nem tudo está perdido, porque do caos também sai a revolução, as transformações.
 
 
Hodiernamente temos um Ministro da Educação, do Governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, que instruiu as pessoas a xingarem comunistas, ao invés de conversarem, dialogarem. E disse que quando for dialogar com comunistas, não se pode ter premissas racionais. Veja a que ponto chegamos, um ministro instruindo as pessoas a xingarem outras pessoas.
 
Sobre Paulo Freire, o novo Ministro da Educação fez declarações relacionando a pedagogia de Freire com os baixos indicadores da educação brasileira, mostrando desconhecer tanto Paulo Freire quanto sua ideologia. Como escrito acima, Paulo Freire é o terceiro teórico mais citado em trabalhos acadêmicos no mundo!
 
 
Com o anterior Ministro da Educação, Ricardo Vélez, só ficou a certeza de que, de fato, não há um planejamento dentro do Ministério da Educação. Parece que não há sequer um ministério. O Ministério da Educação (MEC) do governo atual até agora não se posicionou com os cortes de pessoas e verbas, com a existência de qualquer plano para a Educação.
 
 
Ambas as pessoas colocadas como ministros, o ex e o atual, demonstram não terem a menor experiência com a educação pública brasileira, a menor experiência com gestão, e além disso, demonstram flagrantemente que não há a menor disposição de aprender ou ouvir as pessoas que estão interessadas no assunto e podem contribuir com ele. O diálogo novamente cerceado pelo Ministro.
 
 
Até agora o MEC não apresentou sua visão sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). Isso quer dizer que uma das principais peças da engrenagem da Educação no Brasil não está recebendo a menor atenção do Ministério pertinente. Outra situação paralisada é a formação dos professores. Estávamos com vários projetos em andamento que faziam avançar e progredir esse assunto , agora, não tem mais nada, está tudo engavetado. Tal comportamento dá margem a que as pessoas pensem que o que esse governo quer dizer com isso é que qualquer tipo de formação vale ou a formação do professor não é importante.
 
 
Concomitantemente, fazendo contraste com o que estamos assistindo no MEC, sai de um pequeno município do interior do Estado de São Paulo, na pequena Serrana, a atitude excêntrica de um professor que"impregnando de sentido o que estava fazendo", e fazendo o que deveria sempre fazer um professor, despertando as virtualidades do educando, surpreendeu e revolucionou o seu quadrado.
 
 
Ricardo Brasileiro Bernardo, o professor de que estamos falando, é professor de História na Escola Estadual Neusa Maria do Bem, em Serrana/SP. Esse professor, observando em determinado aluno uma habilidade que pode ser o seu talento, ou um de seus talentos, no caso, a habilidade e talento de desenhar, investiu e valorizou, e pediu para o aluno para que ao invés de fazer a prova em seu formato tradicional, a fizesse na forma de desenho, representando o modo de vida no neolítico e paleolítico. O aluno tem 15 anos e cursa o primeiro ano do Ensino Médio.    
 
 
O aluno assim fez. O Professor Ricardo ficou tão surpreendido positivamente com o resultado da avaliação que publicou o fato na rede social Facebook, na internet. Em menos de uma semana a imagem recebeu mais de 11 mil curtidas, além de outros 10 mil compartilhamentos.
 
 
 Foi um professor, lá do pequeno município de Serrana que buscando "impregnar de sentido o que estava fazendo", fez notícia boa que extrapolou a pequena Serrana para chegar a outras mentes e corações. Um instrui a xingar, o outro ensina a despertar e valorizar virtudes, ambos em uma função tão importante, que tanto pode transformar e mudar o cenário em que vivemos, para melhor ou para pior, a depender do que se faz e como se faz.
 
 
Nessa diferença, será sempre necessário e bom que tenhamos discernimento para ficarmos com o que é bom e faz bem, para não ficarmos tropeçando em retrocessos. A História trata de fazer as consagrações, como fez com Paulo Freire, e as pessoas devem fazer bem as seleções, senão não haverá projeto de desenvolvimento nem efetivo desenvolvimento em qualquer época para uma área tão importante para o desenvolvimento humano, como é a educação. Ficaremos a sonhar, reclamar e reivindicar, sem realizar.
 
 
Raquel Montero