Raquel Montero

Raquel Montero

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

"Triunfar na vida não é ganhar"

Foto: Reprodução

 


O senador José Alberto Mujica Cordano, ou, simplesmente Pepe Mujica, aos 85 anos renunciou ao cargo de senador do Uruguai, se despedindo no dia 20 de Outubro do parlamento uruguaio com um discurso de nove minutos, com o qual também se despediu da política.

 

Mujica foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, símbolo do combate à ditadura militar no Uruguai, nasceu em Montevidéu em 1935 e entrou em 1964 no grupo guerrilheiro "Movimento de Libertação Nacional―Tupamaros". A ditadura militar o manteve preso por um total de 15 anos, incluindo um período de 12 anos seguidos que terminou em 1985. Em 1985, com o retorno à democracia, Mujica foi beneficiado por uma anistia geral decretada para pacificar o país. Voltou, então, à política institucional. Foi eleito deputado, senador, foi ministro da Agricultura, presidente do Uruguai e, por fim, novamente eleito senador.

 

Algumas das medidas mais emblemáticas do mandato de Mujica como presidente foi a descriminalização do consumo da maconha, o direito ao aborto e a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. A legalização do consumo de maconha foi utilizada como medida de combate ao narcotráfico e de saúde pública. O Uruguai se transformou no primeiro país do mundo a fazer isso. Sobre o direito ao aborto, antes de partir para o procedimento as mulheres deverão passar por acompanhamento médico e psicológico e terão a opção de desistir da decisão a qualquer momento. Sobre o casamento homoafetivo disse Mujica: “O casamento homossexual é mais velho que o mundo. Tivemos Julio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos."

 

Em sua carta de renúncia ao Senado uruguaio  explicou que tomou tal decisão em razão de sua saúde diante da pandemia. O discurso de Mujica encantou o mundo. O motivo do encantamento vem da simplicidade das mensagens que contém o discurso conjugada com a profundidade e sinceridade delas. E simplicidade é uma das características que sempre fizeram parte da descrição que as pessoas fazem sobre a pessoa e o político "Pepe Mujica".

 

Mujica é conhecido como "o presidente mais pobre do mundo", embora ele insista que não se trata de "pobreza", mas, sim, de "sobriedade". Disse Mujica; “Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade.”

 

Mujica vive em uma simples, pequena e humilde chácara em Rincón del Cerro, a 20 minutos de Montevideo, tem como veículo um Fusca azul. Ficou conhecido como o presidente mais pobre do mundo por viver com apenas 10% de seu salário e na oportunidade de tomar essa decisão declarou; “as repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas côrtes, as repúblicas nasceram para dizer que todos somos iguais. E entre os iguais estão os governantes”. Para ele, não somos uns mais iguais que os outros.

 

Em seu discurso de renúncia, esse homem de vida simples e carreira admirável disse: "Eu tenho minha boa quantidade de defeitos. Sou passional. Mas em meu jardim faz décadas que não cultivo o ódio. Porque aprendi uma dura lição que a vida me impôs, que o ódio termina te deixando estúpido, porque nos faz perder objetividade diante das coisas. O ódio é cego como o amor. Mas o amor é criador, o ódio, não, destrói."

 

E disse também; "Quero também transmitir aos jovens. É preciso agradecer pela vida. Triunfar na vida não é ganhar. Triunfar na vida é se levantar e começar de novo cada vez que se cai."

 

Em tempos de tanta violência, nas palavras e nas atitudes, essas frases chegam como vento no moinho, trazendo para cima o que às vezes ficou embaixo. E para quem já aprendeu que melhor do que aprender com erros é aprender observando a vida que nos rodeia, as mensagens de despedida de Mujica são grandes e eloquentes aprendizados. E jovens, para quem Mujica destinou sua mensagem final, são todas as pessoas com espírito livre para estar sempre aprendendo em qualquer idade.

 

Raquel Montero