Raquel Montero

Raquel Montero

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Câmara de Piracicaba cerceia liberdades



É com tristeza que passo a descrever o que aconteceu segunda-feira, 29/10/2012, na sessão da Câmara de Vereadores de Piracicaba (SP).
Um cidadão, munícipe, foi assistir a sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Piracicaba. Nessa sessão seria votada uma proposta que pretende proibir várias formas de manifestação popular, dentre elas, a entrada de pessoas no Plenário da Casa Legislativa com faixas, cartazes, narizes de palhaço, apitos, camisetas com escritos, e, com exceção da imprensa, filmagens e fotos também estão proibidas.  A lei poderia ser intitulada como "Lei da Repressão à Liberdade de Expressão".
E a repressão já havia precedido a votação da proposta. No Plenário foi instalado um telão com fotos de manifestantes de um movimento social, "Reaja Piracicaba". As fotos de alguns manifestantes eram passadas no telão e concomitantemente cada um deles era depreciado pelos vereadores. Repressão, inquisição, tudo se misturou no clima daquele dia.
Antes de iniciar a sessão o Presidente da Câmara de Vereadores pede que todos os presentes se levantem para a leitura da Bíblia. Todos se levantam, menos uma pessoa. Essa pessoa permanece sentada e quieta.
O Presidente pede que não iniciem a leitura da Bíblia enquanto esta pessoa não se levantar, e então, pede que a pessoa, Régis B. Montero, se levante. Ele recusa e permanece sentado e quieto. O Presidente determina aos Guardas Civis e Policiais Militares que retirem ele do Plenário enquanto a Bíblia for lida.
Régis é expulso do Plenário pelos Guardas e Policiais que o levam pelo braço. No mesmo instante um fotógrafo de uma ong tenta registrar o fato e é cerceado por um dos vereadores. O vereador diz ao fotógrafo que, com exceção da imprensa, as pessoas estão proibidas de fotografarem no Plenário da Casa Legislativa. Ele também é expulso da Casa.
Mas a imprensa conseguiu registrar o fato. Veja as notícias e vídeos abaixo.
Estado laico, diz alguma coisa? Liberdade de credo, liberdade de religião, liberdade de expressão, expressamente previstas na Constituição Federal, lembra algo?
Em uma sessão, em menos de 30 minutos, os vereadores de Piracicaba conseguiram retroceder décadas da história reproduzindo fatos dos mais deploráveis que vivemos na ditadura que tivemos no Brasil e na inquisição religiosa.
O Estado, em qualquer de seus órgãos públicos não pode ter essa ou aquela religião, não pode ter religião oficial, tendo que respeitar todas as formas das pessoas sentirem seu Deus ou de não sentirem Deus algum.
O Estado também não pode impedir as formas de expressão. A pessoa tem o direito constitucional de se expressar e o dever de assumir as consequências de seus atos. Mas como falar em consequências se o direito de expressão nem ao menos pôde ser exercido?
Está, desde 1.988, em nossa maior lei, a Constituição Federal, o caráter laico de nosso País, a liberdade de religião, a liberdade de expressão, a democracia e o objetivo fundamental do Brasil de construir uma sociedade livre e promover o bem de todos, sem preconceitos ou discriminações.
Não há legitimidade então para o atos que foram praticados na Câmara Legislativa de Piracicaba, ao contrário, há total ilegalidade, inconstitucionalidade, desrespeito, intolerância, arbitrariedades.
 Assim, fica aqui meu repúdio às repressões e discriminações que ocorreram na Câmara de Vereadores de Piracicaba e a minha total solidariedade aos reprimidos e discriminados.
Raquel Bencsik Montero

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