Ainda sobre o resultado das eleições municipais de Ribeirão Preto e
tendo em vista a manifestação dos vereadores Cícero Gomes da Silva (PMDB) e de
Walter Gomes (PR), reeleitos para a próxima legislatura, acerca de suas reeleições,
como noticiado pelo "Jornal A Cidade" (http://raquelbencsikmontero.blogspot.com.br/2012/10/reeleitos-cicero-e-walter-desdenham-de.html),
pertinente que se faça aqui mais algumas considerações sobre o assunto.
Os aludidos vereadores disseram, em suma, que foram reeleitos pela
vontade popular que se manifestou democraticamente nas urnas, reelegendo-os,
porque o povo queria tê-los novamente como vereadores.
Contra essa assertiva há vários argumentos que, assim que apresentados não
só contestam a afirmação dos vereadores como atestam a inverdade de suas alegações,
mostrando que, na realidade, não houve efetiva democracia nessas eleições e
para que houvesse efetivamente, vários requisitos teriam que ter sido
respeitados, mas, ao revés, não foram. E assim não podemos dizer que o
resultado das eleições foi democrático e reflexo da vontade do povo. Passemos
então, a descrever a antítese do que estão dizendo esses vereadores;
Já disse em publicação anterior (http://raquelbencsikmontero.blogspot.com.br/2012/10/nas-eleicoes-de-ribeirao-preto-protela.html)
que a falta de acesso a internet, a jornais, a televisão, a escola de
qualidade, e o desinteresse das pessoas pela vida política, prejudicam muito um
voto responsável, bem como a barganha que se faz com o voto, seja por interesse
particular egoísta de alguns, seja por necessidade financeira de muitos, e o sistema
de eleição pelo coeficiente eleitoral, também contribuem para um voto
desapegado de significado e que não representa a vontade legítima do povo.
Adicionalmente à essas circunstâncias temos;
·
a disparidade econômica dos candidatos que concorrem às
eleições. No Brasil o financiamento de campanhas políticas pode ser de fundos públicos e de origem particular, e,
dessa forma, candidatos que podem contar com particulares que queiram financiar
suas campanhas políticas, tem vantagem sobre os candidatos que não podem contar
com tal medida. Nesse sentido sabemos que os reeleitos tiverem gastos de
campanha eleitoral bem maiores que a maioria dos demais candidatos à vereança, situação
que os colocam em condição de superioridade sobre os demais candidatos e ratifica
desigualdade de condições na competição eleitoral. Poder contar com mais
instrumentos para a campanha traz sempre mais chances de sucesso nos
resultados, isso é óbvio;
·
os votos dos
eleitores, que, nessas eleições, mostrou inegavelmente, que a maioria dos
eleitores não quis a reeleição dos vereadores. Vejam, em Ribeirão Preto são 419.435
eleitores (100%). Desse total de eleitores, tivemos 82.655 abstenções (19,71%),
18.251 votos em branco (5,45%), 21.266 votos nulos (6,31%), 297.163 votos válidos
(88,24%). Dentre os votos válidos, 70.007 foram destinados para o total de vereadores reeleitos, o
que representa tão somente 16% do total
de eleitores da cidade. E assim, 84%
dos eleitores, dentro dos votos válidos, não quiseram a reeleição dos vereadores e provaram isso na urnas. E se considerarmos o total do eleitorado em Ribeirão Preto, a discrepância é maior ainda. Veja, do total de 419.335 eleitores de Ribeirão, 349.328 não votaram nos reeleitos. 349.328 votos foram de abstenção, votos em branco, votos nulos e votos destinados para outros candidatos à vereança que não os reeleitos, ou seja, mais de 83% do total de eleitores de Ribeirão não votaram pela reeleição. Perceba a incongruência!
Se 84% do eleitores não quiseram a reeleição não se pode dizer, como
disseram os vereadores acima, que a reeleição foi a vontade do povo. A vontade
da grande maioria dos eleitores do povo, 84%, foi para a não reeleição e a
reeleição só ocorreu por determinação legal do coeficiente eleitoral que, em
suas regras permite que vereadores com pífia quantidade de votos sejam eleitos,
desde que seu partido ou coligação tenham atingido o número mínimo de votos
para conquistar cadeira na Câmara de
Vereadores.
Portanto, se considerássemos tão somente os votos auferidos por cada
candidato reeleito, eles não teriam sido reeleitos porque ficaram muito longe
de conseguir o número mínimo de votos que cada cadeira da Câmara de Vereadores
exige para que o vereador seja considerado eleito.
Podemos dizer então, que foi sim vontade da população, manifestada por
seus eleitores nas urnas, a renovação dos vereadores atuais, contudo, essa vontade
foi barrada pela lei que estabeleceu o sistema de coeficiente eleitoral para a
eleição de vereadores e deputados. E democracia só existiu dentro das
formalidades da lei que determina que seja observado o coeficiente eleitoral,
porque na prática, a democracia teria sido feita de acordo com a vontade da
maioria que representou 84% dos eleitores que não quiseram a reeleição.
Essa é mais uma contradição do sistema eleitoral que temos que
repensar, para que outras discrepâncias concernentes a vontade legítima da
maioria dos eleitores não ocorram, mas ainda assim, repito, de nenhuma forma
pode-se dizer que a reeleição foi vontade popular. Foi vontade de uma ínfima
quantidade de pessoas que não representam a real vontade da cidade, representada essa real vontade pelos 84% dos eleitores, dentro dos votos válidos e, mais de 83% do total de eleitores de Ribeirão, agora considerando não só os votos válidos, que não votaram nos reeleitos.
Essa alta porcentagem pela não reeleição foi uma grande vitória da população. Mais uma vitória. No entanto,
foi barrada por um artifício que favorece vontades outras que não a do povo e
de sua maioria. Daí a necessidade de contestar o resultado, arguir sua
ilegitimidade popular, argumentar pela ausência de democracia na eleição e
repensar o método do coeficiente eleitoral.
Raquel Bencsik Montero
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