Falando em transporte público, pensamos automaticamente no trânsito, de
uma forma geral, da cidade.
As cidades, principalmente das grandes metrópoles, como de São Paulo,
não pára de crescer. Ao mesmo tempo, a cidade parou... ...parou no trânsito de
automotores, que, contraditoriamente foram criados (os automotores) para
ganharmos mais tempo na cidade e assim sobrar mais tempo para fazermos mais
coisas.
Mas perceba como tudo ficou trocado. Hoje em muitas cidades o uso dos
automotores faz com que as pessoas percam tempo no trânsito truncado das ruas e
assim, tenham menos tempo para fazer mais coisas. Loucura! Loucura?
Loucura sim.
Loucura não, coerência.
Loucura porque não podia ser outro o resultado da ausência de
organização no trânsito e na mobilidade urbana.
Loucura não porque com a agilidade dos automóveis não era, nem de
longe, para termos esse resultado.
Não é de hoje que as políticas públicas se voltam para o automóvel, e
tão somente para ele, restando pouca, ou nada, de atenção para os demais meios
de locomoção que podem ser utilizados nas cidades.
Em 1.950 as montadoras multinacionais de automotores se instalaram no
Brasil e as ferrovias passaram a ser gradativamente substituídas pelo atual
modelo rodoviário.
Atualmente mais um exemplo da primazia dos veículos individuais foi o
acordo entre o governo federal e a indústria automobilística para a redução do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Objetivaram com tal medida aquecer a economia e evitar uma crise no
setor, com possíveis desempregos. Com isso tivemos mais de 2 milhões de
veículos emplacados apenas no primeiro semestre de 2.012.
Veja, mais de 2 milhões de veículos novos nas ruas do país!
E motos. Perceberam como aumentou a quantidade de motos transitando
pela cidade?
Nessa produção muitos ganham; Bancos com os financiamentos e leasing, meios de comunicação com as
propagandas dos produtos, indústria que faz o aço, o plástico, o couro, que
integram o produto final, as empresas que fazem obras públicas de construção ou
manutenção de ruas, avenidas e rodovias.
Apoiando esse consumo, direta ou indiretamente, está a falta de
investimento em alternativas de transporte público e meios individuais de
transporte além dos automotores, como as bicicletas.
Enquanto não se investe em meios coletivos de transporte e em meios
alternativos aos automotores, se tem uma estrutura capenga nesses meios sem
investimento e isso se torna um grande estímulo para que as pessoas busquem
carros ou motos, alimentando esse consumo.
Por um lado muita gente lucrando com a precariedade, por outro lado,
muito mais gente ainda, sendo prejudicada com a mesma precariedade.
Comumente as empresas que vencem licitações para obras de construção ou
reforma de vias públicas são as mesmas que financiaram campanhas eleitorais dos
candidatos eleitos. Ou seja, há ai um grande benefício em se ter mais veículos
nas vias, porque isso demanda necessidade de obras, seja para construção, seja
para reforma delas.
Ribeirão Preto está caminhando para o caos que já existe em muitas
cidades brasileiras. Em muitos lugares de Ribeirão esse caos já existe em
horários pontuais, como às 12hrs e 18hrs. É só lembrar da Avenida Nove de Julho
e Francisco Junqueira nesses horários...
Isso já vem sendo sentido pelas pessoas faz tempo e inclusive foi muito
falado no debate realizado pela sociedade civil com os candidatos de Ribeirão
às eleições municipais. Foi o tema mais indagado aos candidatos.
E o que fazer então?
Sabemos que combater o poder econômico infiltrado em vários setores e
aspectos da vida em sociedade é tarefa muito, mas muito difícil. Há tantos
obstáculos, resistência e estratagemas por trás das máscaras que fazem com que
as soluções, que já existem, sejam proteladas injustificadamente.
Mas essa dificuldade, há tempos também, já faz parte de nossas ponderações
e já sabemos que temos que contar com ela para dialogar sobre qualquer
iniciativa de mudança. Então, por mais difícil que possa parecer, é necessário
continuar e perseverar, já contando com esse ingrediente, nas tratativas que
ser fará. Isso não retira a dificuldade, mas facilita o entendimento e nos
prepara melhor para as argumentações.
E qual a melhor alternativa para se transitar na cidade?
Especialistas em tráfego dizem que a saída é grandes investimentos em
transporte público.
O transporte público deve contar com todas as comodidades que atraem as
pessoas para o transporte particular, tais como ar condicionado, rapidez, insulfim no lugar da cortina, limpeza,
número limitado de pessoas por coletivo, de maneira a não lotá-los. Se o transporte público não
oferece as mesmas condições que o transporte particular, ele perde na disputa.
No tocante à agilidade do transporte público, ela vem com corredores só
para ônibus nas vias, um sistema como o de radiofrequência utilizada nos
pedágios, para que os ônibus não tivessem que parar no semáforo vermelho, isto
é, assim que o ônibus estivesse se aproximando o sinal automaticamente ficaria
verde para o ônibus passar. Também, logística de distribuição das linhas de
ônibus de maneira que não passe várias linhas de ônibus pelos mesmos corredores
porque isso inviabiliza a agilidade de circulação dos ônibus.
A rapidez também vem com metrôs. Mas veja, não só com eles.
Outrossim, o Passe Livre, como
falei no artigo anterior, é medida indispensável para atrair as pessoas para o
transporte público coletivo.
As ciclovias, com bicicletários espalhados pela cidade e locais de
trabalho preparados com vestiários em que os trabalhadores possam tomar banho,
integram um sistema organizado e sustentável de transitar pela cidade.
A mobilidade urbana no Brasil não é um problema financeiro. Em 2.012 o
governo Dilma anunciou verba de 32 milhões para o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) da mobilidade urbana. O foco para os investimentos é a
construção de metrôs, veículos leves sobre trilhos (VLT) e corredores de ônibus
em cidades que possuem entre 250 mil a 700 mil habitantes.
O orçamento federal de 2.012 já previa uma verba de 2,1 bilhões de
reais para obras de mobilidade urbana. Destes, foram gastos apenas 64,8 milhões
até agora.
Daí se conclui que não há ausência de dinheiro para investimento em
mobilidade urbana, mas sim, ausência de prioridades.
Raquel Bencsik Montero
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