Segunda-feira, 28 de março, a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) protocolou na Câmara dos Deputados mais um pedido de
impeachment contra a Presidenta Dilma. E em Ribeirão Preto, representantes da
OAB foram pedir apoio institucional da Câmara de Vereadores para o impeachment.
A atitude dos representantes da OAB foi
criticada até pelo Presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, mesmo sendo
este fervoroso defensor do impeachment contra a Presidenta. Em tom jocoso o
deputado disse que o pedido feito pelos representantes da OAB veio um
"pouquinho atrasado, com retardo".
E em Ribeirão
o pedido de apoio feito na Câmara foi negado através da aprovação de uma moção
de repúdio ao pedido de impeachment feito por representantes da OAB. Uma
derrota vergonhosa para esses representantes já que até mesmo vereadores de
muitos partidos diferentes, inclusive partidos de oposição ao partido da Presidenta, repudiaram o pedido de apoio feito pelos representantes da OAB. Muitos vereadores, inclusive, nem participaram da votação, não apertaram nem a tecla "abstenção", preferiram mesmo desprezar o pedido.
Foto: Jornal Tribuna - Representantes da OAB protocolando pedido de apoio para o impeachment
Sob este ângulo, de quem defende o
impeachment, a atitude foi errada por estar "atrasada e retardada".
Mas para quem é contra o golpe, chamado por alguns de impeachment, a atitude
foi grotescamente errada por vários outros aspectos mais legítimos e menos
jocosos. A ver;
Depois a maneira com que foi feito: devemos constatar que o pedido
feito não é da OAB, mas sim de representantes atuais da entidade. Dizer OAB é
dizer que todos os membros que compõem a categoria teria endossado o pedido.
Mas não foi isso que aconteceu. Talvez metade, ou mais da metade dos advogados
e advogadas que estão devidamente inscritos na OAB não concordam com o pedido
de impeachment, então como dizer que foi a OAB que fez o pedido? Não foi. Foram
os representantes atuais da entidade que fizeram o pedido, o que é bem
diferente de dizer que foram todos os advogados e advogadas do Brasil.
O pedido então
não representa a vontade de todos os advogados e advogadas, representa a vontade dos representantes
atuais da entidade. Mas também de nem todos os representantes já que muitos
representantes se colocaram contra este posicionamento da OAB, e as milhares de
manifestações contrárias de advogados e advogadas ao posicionamento proferido
pelos representantes corroboram essa afirmação. A divergência com o
posicionamento dado pelos representantes foi tamanha que começou-se até a falar
de "racha e fissura na instituição".
Eu, como
advogada, gostaria que essa diferença ficasse bem clara para as pessoas. Uma
coisa é a instituição, a OAB e suas nobres funções institucionais, outra coisa
é o que representantes fazem da instituição e de suas funções. O que fazem pode
ser analisado com admiração ou com lamento e indignação. Como é a situação
atual.
Para que os
atuais representantes da entidade pudessem proferir o posicionamento que
proferiram, de apoio ao impeachment contra a Presidenta, deveriam, antes, ter
consultado a categoria que representam, cada um de seus milhares de advogados e
advogadas. E só após a consulta, proferir um posicionamento. Ou, se não
quisessem consultar a todos, que não proferissem posicionamento algum em nome
da entidade.
Representante,
como já diz a palavra, só representa, não fala por si. Representa a vontade do
representado, e assim sendo, para representar a vontade do representado deve
antes saber qual é essa vontade, senão estará exercendo a sua própria vontade
em descumprimento às regras do mandato de representante que lhe foi conferido.
Consulta
pública, audiência pública, iniciativa popular, plebiscito e referendo não são
institutos excepcionais num Estado Democrático de Direito, ao revés, são
regras, notadamente quando exercidas por advogados e advogadas, de quem se
espera o conhecimento e a defesa da legalidade, da democracia, de suas
instituições e princípios.
Então como
pode representantes da Ordem dos Advogados do Brasil não observar institutos
tão democráticos, e estes mesmos proferirem posicionamento de tamanha
envergadura que é um pedido de impeachment contra um Presidente da República
sem antes ouvir sua própria categoria?
Se para os
próprios parlamentares que criam leis para valer em todo o território nacional
e para todas as pessoas que nele estão, abrangendo ai os advogados e advogadas
e a OAB, se para eles mesmos está preconizado na Constituição Federal que o
poder emana do povo e que a soberania popular será exercida pelo sufrágio,
plebiscito, referendo e iniciativa popular, o que dirá para uma entidade de
classe que existe dentro desse Brasil imenso?
Se as mais
importantes mudanças e transformações a serem propostas no Brasil devem estar
subordinadas à vontade de seu povo, por que julgam representantes da OAB que
suas decisões não devem passar pelo crivo da categoria que meramente
representam?
Erraram todos
os representantes da entidade que assim agiram, se posicionando a favor do
impeachment da Presidenta Dilma sem antes ouvir todos os milhares de advogados
e advogadas que também fazem parte da mesma entidade. Erraram grotescamente,
assim como também erraram em 64 e contribuíram para mais de 20 anos de
sofrimento e torturas no Brasil.
Mas o tempo é implacável e sabe dar respostas
a tudo, como sabe também reconhecer seus heróis e deixá-los emblemáticos, e
desprestigiar vilões, deixando-os no esquecimento da história de glórias. Nesse
sentido, como é mesmo o nome do Presidente da OAB em 64?
Raquel Montero
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