Raquel Montero

Raquel Montero

quinta-feira, 17 de março de 2016

No atentado, de que lado você está?


 

 Hannah Arendt escreveu em sua obra Origens do Totalitarismo, "como a força é essencialmente apenas um meio para um fim, qualquer comunidade baseada unicamente na força entra em decadência quando atinge a calma da ordem e da estabilidade; sua completa segurança revela que ela é construída sobre a areia." 


  Na mesma obra ela escreveu sobre antissemitismo, imperialismo e totalitarismo. Falou também de racismo, nazismo e fascismo. Tudo que estamos vivendo de maneira especial neste momento da história do Brasil.


  Localizando um pouco mais o momento atual, trago a análise para um fato que aconteceu hoje no Diretório Municipal do PT de Ribeirão Preto. Era um pouco mais de meio dia. Haviam três funcionários no Diretório nessa quinta-feira, dia 17 de março de 2.016. De repente, um barulho estrondoso. Tratou-se de quatro morteiros e um rojão jogados dentro do Diretório. 


  Quatro morteiros e um rojão jogados na sede do Diretório do PT de Ribeirão, assim, na banalidade. Banalidade do mal, como também falou Hannah Arendt. Não machucou ninguém, mas podia ter machucado, até matado. E se alguém surge no momento, se uma criança atravessa a rua para aquele lado, se um carro pára ali? Quem jogou não estava nem ai. É a cegueira do ódio, também explicada por Saramago em O ensaio sobre a cegueira.


 Também não é só ódio. O ódio é consequência da ignorância. Essa é a raiz dos maus sentimentos. É da ignorância também que pessoas usam o argumento da força, ao contrário dos que usam a força do argumento e por isso não usam da violência. Quando se tem argumento, não se tem violência, se persuade com fundamentos. Todavia, aquele que não consegue convencer com seus argumentos, ou com a ausência deles, violenta o outro, para conseguir no constrangimento, o que não conseguiu com sabedoria. 


   Foi isso que aconteceu hoje no Diretório do PT. Um atentado. Nada de democrático tem o ato. Não se trata de livre manifestação do pensamento. Manifestação que agride, é violência, não é democracia. A mensagem que se deixa quando se agride para conseguir algo é a de que a violência é um meio para se resolver conflitos. È isso que queremos? Violência como forma de diálogo, de resolução de conflitos? É isso que os pais querem ensinar para seus filhos e querem que seus filhos ensinem para seus netos? É essa geração de filhos e netos que queremos ter como futuros médicos a nos atender nos postos de saúde, policiais nas delegacias, enfermeiros nos hospitais, professores nas escolas? 


   Foi atentado o que aconteceu hoje na sede do PT de Ribeirão. E não foi um atentado só contra o PT. Foi um atentado à democracia, ao Estado Democrático de Direito, a manifestação do voto, às eleições democráticas. É tudo isso que se desrespeita ao praticar um ato de tal natureza. O mandato de Dilma é fruto de eleição legitimamente realizada mediante o voto livre de eleitores brasileiros que livremente foram as urnas manifestar sua vontade por qual presidente queriam para governar o Brasil. E quando essa vontade é desrespeitada, a democracia é desrespeitada. Há imposição ao invés de democracia. Há tirania ao invés de democracia. Há ditadura ao invés de Estado Democrático de Direito. 


  E no desrespeito à democracia, todos perdem. Todos são feridos e desrespeitados. Não foi um atentado contra o PT. Foi um atentado contra o PT, contra a democracia, contra todos. É um atropelo nas regras, nas normas constitucionais. E quando uma pessoa que seja não é respeitada dentro das regras democráticas, todos são ofendidos. Além de demostrar egoísmo em pensar o contrário disso, demonstra-se ignorância. A injustiça que se permite hoje contra uma pessoa que seja, é a potencial injustiça de acontecer amanhã com qualquer pessoa, inclusive com aquele que comemorou ou se acovardou ou se calou com a injustiça praticada com outra pessoa. 


  Deixar que uma regra democrática seja desrespeitada em algum momento, é permitir e esperar que qualquer outra regra e muitas outras regras sejam desrespeitadas amanhã, porque o golpe se faz assim, com desrespeitos e pessoas que se omitem, acovardam ou calam, bem como com aquelas que ficam a ignorar os fatos assistindo a destruição. Assim foi em 64. Uma violência que gerou mais de vinte anos de outras práticas violentas, arbitrárias, abusivas. Pessoas morreram, pessoas foram violentadas, pessoas foram torturadas sob o subterfúgio de manter a ordem e combater corrupção, e ai, como escreveu Hannah, quando essa comunidade, baseada unicamente na força atinge sua suposta ordem e estabilidade com o uso da força, sua completa segurança revela que ela é construída sobre a areia." 


  O atentado de hoje na sede do PT de Ribeirão é um exemplo que se pega agora para exemplificar o argumento da força e a base de areia em que ela é construída. Senão vejamos, o que ficou desse ato? O que ele construiu? Para quem fez, nada, para quem foi vítima, mais um exemplo para mostrar a falta de argumentos e fundamentos de quem agrediu.

  Raquel Montero

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