Raquel Montero

Raquel Montero

sexta-feira, 4 de março de 2016

2008... ...escolhas e renúncias

 


Assim que me tornei advogada também me dediquei a algumas carreiras públicas, e mais para frente viria a ser aprovada mediante concurso para ingresso no Ministério Público do Estado de São Paulo, mas que, por razões ideológicas, eu viria a me decidir por não tomar posse.

Em nenhum momento fui trabalhar como advogada empregada em escritório de advocacia, mesmo essa opção, no início da carreira, trazendo mais estabilidade do que mantendo-se como autônoma, porque eu já sabia que haveria ali situações que eu não concordaria em ter que defender, como é o caso típico da defesa de bancos. Os primeiros casos que tive, atendi em casa, porque eu não tinha condições financeiras de montar um escritório. Foi mais difícil assim, mas foi assim que pude manter minha coerência com as lutas sociais e autonomia para não ter que defender o que era indefensável.

Em nenhum momento também, me inscrevi no convênio da Assistência Judiciária com a OAB, mesmo essa opção sendo mais uma fonte de renda importante, principalmente para o início da advocacia. Esse convênio paga valores aviltantes para os advogados conveniados, fazendo com que a própria defesa da pessoa necessitada de um advogado conveniado à Assistência Judiciária fique prejudicada, já que sem a devida valorização o profissional não pode dispor da mesma estrutura em que fosse devidamente valorizado. Sempre pensei que fazer parte desse convênio seria contribuir para sua existência precária, e que o certo era, como continuo achando que é, boicotá-lo, para que o Governador passe, assim, a valorizar o direito das pessoas necessitadas a uma a assistência jurídica de qualidade, tal qual como prevista na Constituição Federal. Essa foi mais uma luta travada , inclusive com proposta levada ao anterior Presidente da OAB de Ribeirão Preto.

Durante a faculdade fui guardando dinheiro para poder ir me mantendo diante de dificuldades como essas, em que eu já havia vislumbrado que iriam ocorrer. Preservar nossa autonomia e liberdade, às vezes, é uma tarefa árdua, exige escolhas e renúncias, firmeza e determinação, mas sempre pensei que é assim também que escolhemos acessar os sentimentos que nos trazem paz de espírito, coerência com a ideologia que defendemos e alegria em viver.


Raquel Montero  

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