Raquel Montero

Raquel Montero

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações



A necessidade de cessar a degradação ambiental é um ponto praticamente consensual no Brasil hoje em dia. A distância entre o discurso e a prática, porém, parece ser uma grave barreira para superação de problemas estruturais como a destinação inadequada do lixo no campo e nas cidades brasileiras, a promoção do saneamento básico e a redução da poluição atmosférica.

Diante de desafios importantes, especialistas convergem num ponto: não basta uma série de ações pontuais ou práticas de voluntariado – feitas, em geral, com a melhor das intenções – para, de fato, interromper e reverter o processo de degradação profunda a que o planeta está sendo submetido. Será preciso vontade política, contrariar interesses econômicos poderosos e investir no planejamento urbano integrado.

Um dos principais problemas no meio urbano é a destinação do lixo, tendo em vista que a maioria dos municípios carecem de políticas públicas para lidar com seus resíduos sólidos. Somente 1% do lixo de São Paulo é reciclado, o resto vai para os aterros. E em muitos municípios nem aterro têm, vai tudo para o lixão. Cerca de 60% das cidades brasileiras não têm destinação adequada para seu lixo.

Outro grande problema é a impermeabilização do solo, como sinônimo de limpeza e saneamento. Ante a ausência de áreas verdes e outros problemas estruturais, a água da chuva não escoa de maneira satisfatória no meio urbano, retira do meio urbano sua capacidade de reter águas de chuva, gerando profundos desequilíbrios, sendo o mais evidente deles a crescente quantidade de inundações, em especial nas estações chuvosas. Contribui para este problema também a excessiva retificação e canalização de cursos d´água, que leva as águas da chuva a se dirigirem mais rapidamente aos cursos d´água maiores.

A erosão nos centros urbanos é um problema grave, potencializado pela especulação imobiliária descontrolada, em que terrenos são terraplanados sem qualquer exigência no sentido da adequação do projeto ao terreno (não ao contrário) ou cuidados durante a movimentação de terras.

A isso se soma a total incapacidade das gestões urbanas em colocar regras e fiscalizar o lançamento irregular do entulho de construção civil e do lixo urbano, o que também resulta na redução da capacidade de vazão do sistema de drenagem urbano.

A grande quantidade de transportes individuais circulando no trânsito também é grande gerador de poluição e outro fator que piora a qualidade de vida da população. A combinação do tráfego urbano com a poluição veicular em corredores congestionados são a segunda causa do infarto agudo do miocárdio, superada apenas pelo tabagismo.

Não há planejamento urbano nas cidades e poucos municípios seguem ou revisam seu plano diretor. O solo urbano tornou-se uma mercadoria especulativa, fazendo com que a população decresça nas regiões mais bem servidas de infraestrutura, em um modelo baseado na mobilidade individual estimulada como política comercial privada e econômica governamental. É preciso mudar essa situação para que de fato tenhamos um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Há avanços no país mas o estado não os aproveita. Por exemplo, no sentido de reavaliar a política de drenagem urbana há uma linha no Ministério das Cidades para viabilizar projetos de macrodrenagem que trabalhem com o conceito de retenção e sustentabilidade.

O Termo de Referência para Elaboração de Plano Diretor de Águas Pluviais Urbanas (2011), criado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, critica a retificação de rios e ampliação da impermeabilização do solo. O documento usado para seleção de projetos de drenagem a serem financiadas pela União, estabelece como prioridade do Programa Drenagem Urbana Sustentável: o controle da impermeabilização, a restrição da ocupação de áreas de recarga, várzeas e áreas frágeis, implantação de dispositivos de infiltração ou reservatórios de amortecimento em vez de obras de aceleração e afastamento das águas pluviais (canalização).

Porém, o estado não aproveita isso. E o que temos assistido no Estado de São Paulo são enchentes, alagamentos, poluição, ausência de saneamento básico, enfim, tudo que vai na contra mão da proteção ambiental e de um ambiente ecologicamente equilibrado.

É ineficiente uma gestão que não aproveita os avanços já existentes e os projetos existentes para viabilizá-los. Com uma gestão ineficiente por mais dinheiro que possa haver para obras e serviços, será insuficiente, exatamente porque não há planejamento.


Raquel Montero

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