Em Ribeirão Preto o déficit habitacional é de cerca de 40 mil moradias. 40% do déficit habitacional no
Brasil poderia ser resolvido pela ocupação de imóveis vazios. Dentro do número de casas vazias e
de casas já ocupadas, há aquelas que não estão aptas a servir como moradia,
precisando de reparos para estarem adequadas. Mas, em termos práticos e bem próximos
da exatidão, o número de casas desocupadas quase abrange o número do déficit
habitacional. Essa é a realidade da situação que vivemos. O lucro prevalecendo
sobre a necessidade.
Empresários da construção
civil e latifundiários dominam o território que devia ser destinado à salutar
convivência coletiva.
A situação, todavia, não é
ruim por completa. Já tivemos avanços oriundos principalmente de programas do
governo federal, onde se destaca o programa Minha
Casa Minha Vida, que já financiou milhares de habitações para a população. É o maior programa habitacional que o Brasil já teve.
O que atrapalha a
continuidade de avançarmos mais é, novamente, repito, a especulação
imobiliária. A construção civil empresarial e com gananciosos fins lucrativos,
obsta o avanço e burla a função social da terra, por intermédio de seus
interesses privados que, para se executarem estão agredindo direitos sociais
das pessoas, e tudo isso acontece, amiúde, com o aval do Poder Público.
A construção empresarial
está ditando como, quando e onde construir. Os financiamentos da Caixa
Econômica Federal tem regras mínimas a serem obedecidas e as prefeituras,
muitas vezes, permitem as construções sob influência de forte lobby deste setor, deixando de lado a
observância da legislação pertinente.
Nessa mistura, o resultado é
trágico. Há prefeituras que não analisam o preenchimento dos requisitos legais para
as construções, bem como deixam de fiscalizar o respeito aos direitos e
deveres. Ou seja, órgãos públicos não atuam mais ativamente decidindo sob o
foco do interesse público como a cidade deve crescer, quem está fazendo isso é
o mercado, a favor de interesses particulares.
E ai verificamos construções
populares defeituosas em áreas afastadas do centro da cidade, desprovidas de
qualquer infraestrutura social em contraste com construções luxuosas ou de médio
padrão feitas em locais prestigiados de infraestrutura e que ainda comportam
que as mesmas casas populares feitas em locais distantes pudessem ter sido
construídas em seus vazios urbanos.
E esse fato leva a várias
consequências negativas que podemos imaginar facilmente ao pensarmos em morar
num lugar muito distante do centro da cidade e onde não tem qualquer
infraestrutura, desde as mais básicas, como escolas, postos de saúde, lazer,
cultura, etc. O que temos assim, é uma população relegada à sorte e
desrespeitada em seus direitos.
Assim acontece em Ribeirão,
por exemplo. Assistimos os removidos para conjuntos habitacionais recém
construídos e entregues, como no bairro Eugênio Mendes Lopes, aguardando vagas em creches e escolas no novo
local em que estão morando, bem como aguardam mais transporte público (há moradores nessa região que têm que pegar 08 (isso mesmo, oito) ônibus por dia para chegar em seu local de trabalho), médicos
no Posto de Saúde do bairro para atender a demanda existente, consertos estruturais nos apartamentos que
acabaram de lhes serem entregues e segurança para reprimir o tráfico de drogas
que insiste em fazer do conjunto habitacional mais um "ponto" de
venda.
Reuniões foram feitas com assistente social da Prefeitura e com a
Secretária Municipal da Educação no final de 2013, após a entrega dos
apartamentos, mas, enfim, o ano letivo estava para começar (dia 27/01/2014), e
as crianças e jovens da localidade ainda não haviam conseguido suas vagas nas
escolas do bairro.
É preciso então que nossos
administradores públicos respeitem as leis pertinentes à construção de casas,
das quais as mais salientes são a Constituição Federal e o Estatuto da Cidade, que preveem que
essas construções se façam com a garantia do respeito às pessoas e seus
essenciais direitos sociais que podem proporcionar seu pleno desenvolvimento,
sendo estes, o direito à educação, a cultura, a saúde, ao trabalho, a moradia,
ao lazer, ao transporte, a segurança.
A moradia não é o único
direito que a pessoa tem. Ele coexiste com outros direitos sociais que, juntos,
garantem uma vida digna, e, separados, perpetuam exclusões.
Raquel Montero
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