Raquel Montero

Raquel Montero

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A corrupção é dos políticos?



Na tradição política da América Latina, os recursos públicos têm sido apropriados em função de interesses privados. Essa corrupção inerente ao nosso sistema político latino-americano corrobora para desacreditar as instituições políticas e viciar sempre mais os processos eleitorais. No Brasil, as empresas não votam, mas ganham eleições...

Pesquisa da ONG Transparência Internacional, com sede em Berlim, divulgada em dezembro de 2013, apontou que Somália, Coreia do Norte e Afeganistão são os países onde há mais corrupção, enquanto Dinamarca e Nova Zelândia, seguidos de Luxemburgo, Canadá, Austrália, Holanda e Suíça se destacam como os países onde há mais transparência nas contas públicas. 

Entre 177 países pesquisados, o Brasil figura em 72º lugar. Na América Latina, aparece como mais vulnerável à corrupção que Chile, Uruguai, Costa Rica e Cuba, entre outros. E menos que Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador. Dos países avaliados, em 70% há fortes indícios de que funcionários públicos são maleáveis a subornos. A Venezuela aparece na lista como um dos países onde há mais corrupção (160º lugar), enquanto os mais transparentes são o Uruguai (19º) e o Chile (22º). 

Há quem diga que a culpa da corrupção é da própria existência do dinheiro, que o dinheiro viria carregado com o mal que corrompe almas e espíritos. Mas sendo o dinheiro só um pedaço de papel ou metal, que força tem para agir sozinho?

O dinheiro será bem ou mal utilizado de acordo com a função que derem a ele. É o que penso.

Há quem diga que a culpa é dos governantes. E ai muitos repetem e insistem nisso. Mas se analisarmos os maiores casos de corrupção no Poder Público verificamos que há sempre mais de um envolvido, pelo menos dois, e assim se configura dois crimes; a corrupção passiva (art. 317 do Código Penal) e a corrupção ativa (artigo 333 do Código Penal). Agem, assim, em conluio, e, nestes aludidos casos mais graves de corrupção, um dos envolvidos, é um particular, aquele que oferece a vantagem ilegal e pratica a corrupção ativa (art. 333 do CP). Ou seja, e se não houvesse o particular que oferece a vantagem, a propina, a barganha, a corrupção se concretizaria?

Se a culpa da corrupção é dos governantes ou políticos, ou, se a corrupção só existe entre estes, o que explica nomes de defensores públicos, magistrados, promotores de justiça terem sido citados na lista do HSBC suíço?  Ou ainda, o que explica a prisão recente de um delegado de polícia, de Jardinópolis, pelos crimes de desvio de carga de cigarro apreendido em diligência policial, fraude em seguro de carro entre outros crimes no qual está sendo acusado? E o acontecimento recente sobre o juiz do caso de Eike Batista? E as denúncias de corrupção na igreja católica? E os casos de crimes praticados dentro do próprio espaço doméstico, do próprio membro da família contra sua própria família?

A corrupção é um mal no qual qualquer ser humano pode se apegar, sendo indiferente estar essa pessoa na qualidade de um agente político ou não, aliás, antes de ser agente político o agente é um ser humano. Não é o que está fora da pessoa que lhe leva a corromper ou ser corrompida, é o que está dentro dela, e se o que estiver dentro lhe leva a corromper ou ser corrompida, ela fará isso em qualquer lugar e contra qualquer pessoa, bastará oportunidade para tanto, prescindindo da qualidade de agente político para isso, e as denúncias de corrupção e da prática dos mais diferentes crimes comprovam isso. Assim são exemplos os já citados; denúncias contra a igreja, contra membros de família por violência doméstica, contra empresas e empresários, juízes, promotores, defensores públicos, etc.

Não é o que está fora da pessoa que lhe leva a fazer, é o que está dentro.


Raquel Montero

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