Dois sentimentos se
misturaram na ação da Polícia Civil de Ribeirão Preto, comandada pelo delegado
Haroldo Chaud; indignação e tristeza.
O jornal A Cidade divulgou que o Delegado disse
em entrevista ao Jornal; “Eles não tentaram
provocar um crime e, sim, um encontro. Mas, no meio dessa turma, existem os
aproveitadores, que têm a intenção de cometer crimes. Então eles estão
incitando.” (http://www.jornalacidade.com.br/noticias/NOT,2,2,916885,Policia+acaba+com+rolezinho+marcado+para+sabado+em+Ribeirao.aspx).
Ou seja, os jovens que criaram um evento
no Facebook foram reprimidos e
investigados só porque estavam chamando outras pessoas para irem no shopping! E
ainda, foram acusados de, com a ação de chamarem outras pessoas para irem no
shopping, estarem incitando ao crime! Também, pelo simples fato de convidarem
pessoas para irem no shopping, foram responsabilizados, se, porventura, algum
crime fosse cometido no shopping!
Se assim é Delegado, por que os organizadores
do Carnabeirão não sofrem a mesma
ação da Polícia, já que, por vezes já foi encontrado entorpecentes na festa e
diversos furtos e roubos foram cometidos dentro do evento?
O que os jovens queriam
era simplesmente combinar um encontro no shopping. Em que momento isso é crime?
E se isso fosse crime, todos nós deveríamos estar presos, porque
invariavelmente combinamos encontros em diversos lugares, incluindo shoppings.
Se, eventualmente, pessoas
praticarem crimes no encontro, quem deve ser responsabilizado é quem praticou o
crime, e não outras pessoas que não praticaram e só organizaram o encontro. Se
assim não fosse, os próprios prefeitos e prefeitas deveriam ser indiciados e
estar presos em razão de todos os crimes praticados durante eventos realizados
nas cidades pelas prefeituras.
E dizer que há aproveitadores no evento com a intenção de
cometer crimes, é fazer afirmação preconceituosa, já que todos são
inocentes até que se prove o contrário. Não há nenhuma prova desses
"aproveitadores", e o próprio A
Cidade, em entrevista com o Delegado, reproduziu isso; "Haroldo diz que a denúncia é baseada em conversas da rede
social. Um jovem que aderiu ao evento teria dado a entender que praticaria
furtos. “O outro coloca uma coisa um pouco mais agressiva, mas não criminosa.
‘A favela contra a classe média’. A frase tem potencial de incendiar o
negócio”.
"Dar a
entender", "uma coisa mais agressiva, mas não criminosa", ora,
em que momento isso é crime? Se assim fosse o dono do próprio Facebook é que deveria ser o primeiro a ser investigado
e inquirido pelo Delegado, já que tantas conversas nessa rede social "dão
a entender" tantas coisas, e tanta "coisa agressiva" é dita na
rede.
Nesse fato lastimável, nenhuma alegação
apresentada pelo Delegado, como se vê, justifica a ação praticada contra os
jovens, ao revés, revelam por mais este fato a grande repressão social que
ainda existem contra determinadas pessoas, que são classificadas dentro de
"classes sociais".
A molecada foi
reprimida, com ágil aparato policial, por organizarem um encontro no shopping.
Foi isso. Nenhum crime foi praticado e nenhum crime existe nisso. Porém, os
jovens que organizaram o encontro foram interrogados pelo Delegado, a Polícia
Civil telefonou para o trabalho de um deles, falando para comparecer na
Delegacia, inclusive, segundo a reportagem, a Polícia queria buscá-lo no
trabalho, e passaram a ser investigados por "incitação a crime".
Um dos jovens
interrogado pelo Delegado, nunca havia pisado em uma Delegacia antes. Ele faz
curso profissionalizante e é estagiário em uma loja de um shopping. Sua mãe
disse que, além disso, ele é o homem de casa, responsável e cuida da família (http://www.jornalacidade.com.br/noticias/policia/NOT,2,2,917211,Trataram+meu+filho+como+criminoso+diz+mae+de+jovem+que+tentou+organizar+rolezinho.aspx).
Perfil bem diferente do que dizem dos jovens que vão no rolezinho, como se vê em muitas manifestações de racismo na
internet;
E é exatamente esse
racismo e preconceito que dão ensejo às repressões sociais historicamente
praticadas contra negros, pobres e moradores de periferias. E essas repressões contribuem
ainda para multiplicar e potencializar manifestações, essas sim, criminosas, como mostra a imagem acima, praticadas
como mais injustiças contra determinadas pessoas, ou classes sociais. São crimes
de racismo, apologia e incitação a crime. Porém, nesse contexto, só o rolezinho, que é só um encontro de jovens historicamente excluídos,
para passear num espaço, historicamente elitizado, é que é criminalizado.
Essas são algumas das contradições
do preconceito.
Raquel Montero
Fonte da imagem: http://revistaforum.com.br/blog/2014/01/negrada-e-baianada-criminalizacao-de-rolezinhos-gera-explosao-de-racismo-na-internet/
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