Não é de hoje que as
políticas públicas se voltam para o automóvel, e tão somente para ele, restando
pouca, ou nada, de atenção para os demais meios de locomoção que podem ser
utilizados nas cidades.
Nessa produção muitos
ganham; Bancos com os financiamentos e leasing, meios de comunicação com as
propagandas dos produtos, indústria que faz o aço, o plástico, o couro, que
integram o produto final, as empresas que fazem obras públicas de construção ou
manutenção de ruas, avenidas e rodovias.
Apoiando esse consumo,
direta ou indiretamente, está a falta de investimento em alternativas de
transporte público e meios individuais de transporte além dos automóveis, como
as bicicletas.
Enquanto não se investe em
meios coletivos de transporte e em meios alternativos aos automóveis
individuais, se tem uma estrutura capenga nesses meios sem investimento e isso
se torna um grande estímulo para que as pessoas busquem carros ou motos,
alimentando esse consumo.
Por um lado muita gente lucrando com a precariedade,
por outro lado, muito mais gente ainda, sendo prejudicada com a mesma
precariedade. Todos os dias, os paulistanos gastam, em média, 2h e
42min para se locomover na cidade. Por mês, são dois dias e seis horas passados
no trânsito. Por ano, chegamos a passar, em média, 27 dias presos em
congestionamentos.
Não é difícil adivinhar que
setor da população puxa essa média pra cima: segundo dados da última pesquisa "Origem
e Destino", realizada pelo metrô, o tempo gasto pelos usuários de
transporte público em seus deslocamentos é 2,13 vezes maior que o de quem usa o
transporte individual.
E o que fazer então? Qual a melhor alternativa para se transitar na cidade?
Especialistas em tráfego
dizem que a saída é grandes investimentos em transporte público.
E é o que está sendo adotado em São Paulo, pelo atual
Prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), para tentar enfrentar o problema do
transporte público. Já houve a implementação de faixas exclusivas de ônibus em
várias regiões da cidade. Neste final de ano, já são 295 km de faixas exclusivas
e um ganho de quase 50% na velocidade média dos ônibus, que subiu de 13,8 km/h para 20,4 km/h .
Mas a medida vem descontentando, principalmente, usuários
de automóvel particular, que têm passado mais tempo em congestionamentos desde
a instalação das faixas. Sobre o assunto, um dos primeiros que se manifestou
contrariamente às faixas foi o Estadão,
que em um editorial do mês de outubro acusou a gestão municipal de “má vontade
com o transporte individual”. Recentemente foi a vez de a revista Época decretar em manchete de capa
que a experiência das faixas “deu errado”. Na matéria, a revista acusa a frota
de ônibus paulistana de ter recebido “tratamento VIP” em diversas ruas da
cidade.
Quem fala em “má vontade com o transporte individual”
e em “tratamento VIP” dado aos ônibus parece desconhecer o fato de que os
carros particulares, que transportam apenas 28% dos paulistanos, ocupam cerca
de 80% do espaço das vias. Enquanto isso, os ônibus de linha e fretados, que
transportam 68% da população, ocupam somente 8% desse espaço.
Esses números só confirmam que, na verdade, a “má
vontade” de nossos gestores sempre se voltou ao transporte coletivo e quem
sempre usufruiu de “tratamento VIP” foram os carros... afinal, o transporte por
ônibus em nosso país sempre foi considerado “coisa de pobre” e, como tal, nunca
precisou ser eficiente, muito menos confortável.
Sabemos que combater o poder
econômico infiltrado em vários setores e aspectos da vida em sociedade é tarefa
muito, mas muito difícil. Há tantos obstáculos, resistência e estratagemas por
trás das máscaras que fazem com que as soluções, que já existem, sejam
proteladas injustificadamente.
Raquel Montero
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