Raquel Montero

Raquel Montero

terça-feira, 26 de novembro de 2013

E a culpa é da mulher?


E diz o promotor; se a mulher tinha medo dele, sabia que era agressivo, já tinha sido ameaçada por ele, tinha conhecimento que era dependente químico, por que continuou com ele? Por que não o denunciou? Por que deixou cuidar de seu filho? Por que continuou morando com ele?
Tais perguntas revelam ignorância num contexto como o do Brasil em que a cada cinco minutos uma mulher é espancada, sendo que em 70% dos casos o marido ou namorado que bateu ou matou, que 700 mil brasileiras continuam sofrendo agressões, principalmente de seus companheiros, que 13,500 milhões de nossas mulheres, correspondentes a 19% da população feminina acima de 16 anos, já foram vítimas de algum tipo de agressão, que num ranking de 84 países o Brasil é o sétimo no número de assassinatos de mulheres, que ainda não existe, em quantidade suficiente e com a qualidade necessária, Juizados de Violência Doméstica e Familiar, curadorias, casas-abrigos, delegacias e núcleos especializados para atender à todas as mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
E essas perguntas ficam ainda mais incoerentes e contraditórias quando oriundas de um promotor de justiça, que, no Ministério Público, tem conhecimento, através do seu trabalho, ou deveria ter, das carências e deficiências do Estado.
Se não existe na cidade casa-abrigo para mulheres em situação de violência doméstica e familiar, para onde vai a mulher, com seus filhos, após denunciar o companheiro que a ameaçou de morte, Promotor?
Se a mulher pediu ajuda para seus pais, dizendo que queria se separar do companheiro e seus pais disseram para ela ficar com o companheiro porque ela estava grávida, para onde vai essa mulher senão voltar para a casa que é do companheiro, Promotor?
Se as cidades têm tanta ausência de vagas em clínicas públicas de desintoxicação e tratamento de dependentes químicos, como pode a companheira exigir do companheiro que ele se interne e busque tratamento, Promotor?
Se as cidades têm falta de creches e quando têm creches não têm vagas suficientes para as demandas, onde a mãe deixará seu filho para poder ir trabalhar e garantir o sustento da família, senão em casa, com o companheiro, Promotor?
Se as cidades ainda têm tanto déficit habitacional e faz com que pessoas fiquem anos nas filas pela casa própria, onde a mulher iria morar com seus filhos se deixasse de morar na casa do companheiro, Promotor?
Se o uso de entorpecentes também tem raiz em precárias políticas públicas que provocam mazelas sociais e destroem famílias, como culpar a mulher por ter um relacionamento com um dependente químico, Promotor? Está errada a mulher por acreditar na melhora de um dependente químico e tentar ajudá-lo ou está errado o Estado que com suas omissões e má ações leva pessoas para as drogas, Promotor?
O julgamento que fazemos dos outros, muda ou deixa de existir,  quando nos colocamos no lugar do outro, principalmente quando "o outro" é uma mulher em situação de violência doméstica ou familiar. Se não for mulher nessa situação, tente ser para poder analisar a situação.

Raquel Montero 

2 comentários:

  1. CONCORDO PLENAMENTE COM O COMENTÁRIO ACIMA, CADA UM OLHA PARA O PROPRIO UMBIGO E ESQUECE QUE VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE E QUE ESTAMOS DENTRO DO MESMO BARCO E QUE TAMBÉM SOFREMOS JUNTOS ESTES DESCASOS E ENTÃO PROMOTOR OU PROMOTORES, VÃO FICAR OMISSOS?

    ResponderExcluir
  2. CONCORDO COM VÁRIOS ITENS,E SERIA CASO DE "PERDÃO MUNDIAL" SE ELA DEMONSTRASSE SOFRIMENTO PELA PERCA MONSTRUOSA DE UM FILHO,DE APENAS 3 ANINHOS,QUE ACABARÁ DE DESCOBRIR QUE TINHA DIABETES,MORTO PELO AMOR DA VIDA DELA,COMO VIVIA POSTANDO EM SEU FACEBOOK(AGORA O AGRESSOR) MAS O QUE ELA DEMONSTRA????EM MENOS DE 2 MESES DO OCORRIDO ELA ESTA DANDO GARGALHADAS COM AMIGAS,VIVENDO A VIDA BEM FELIZ,(FOTOS POSTADAS POR AMIGAS NO FACEBOOK)CLARO QUE TODA MÃE QUE PERDE UM FILHO TEM O DIREITO DE RECOMEÇAR A VIDA E TENTAR SER FELIZ,MAS NENHUMA MÃE CONSEGUE EM TEMPO RECORD IR PARA REUNIÃO EM CASA DE AMIGAS E TIRAR FOTOS DANDO GARGALHADAS,ESSA DOR DEMORA MUITO A PASSAR,PRINCIPALMENTE SE A MÃE É ACUSADA DE PARTICIPAR DIRETA OU INDIRETAMENTE DA MORTE DO FILHO,O MÍNIMO QUE SE ESPERAVA DELA,ERA VIVER UM LUTO E HONRAR O JOAQUIM,COISA QUE ELA NÃO ESTA FAZENDO,E FAZ QUESTÃO DE MOSTRAR PUBLICAMENTE,ISSO CHOCA O CORAÇÃO DA MAIORIA DAS PESSOAS,ELA DEVE PAGAR SIM,PELA PARTE QUE LHE CABE NA MORTE DO FILHO!!!!

    ResponderExcluir