Foto Reprodução
Escrevi o texto abaixo para a 13º Feira do Livro de Ribeirão
Preto. Quando, na oportunidade, estavam mudando o formato da Feira, com
mudanças, na minha opinião, negativas. As mudanças que se fizeram na 13º edição
da Feira, permaneceram para a 14º edição e, acredito, permanecerão para a 15º
edição que acontece este ano, 2015.
Nesse sentido, no ímpeto de com o pensamento e a reflexão tentar
mudar a realidade, reitero, nesta edição da Feira, o texto escrito para a 13º
edição da Feira, para, assim, quiça, tentar contribuir para que nossos
Administradores públicos evitem os mesmos erros e males praticados nas Feiras
anteriores, com as mudanças implantadas. Segue o texto;
Vi Frei Betto na 13º Feira do Livro de Ribeirão Preto. Vi Frei
Betto indagando se não haveria iluminação no estande em que ele daria
autógrafos em seus livros. Vi a funcionária responder que sim, porém, no
momento dos autógrafos o estande continuava sem lâmpadas e assim continuou até
o fim da permanência de Frei Betto na Feira.
A luz que faltou no estande faltou no resto da Feira, que este
ano se fez na penumbra da tristeza de mais uma segregação social. Os mais
abastados ficaram com medo de nossa juventude ribeirão-pretana, e esse medo
reduziu a 13º edição da Feira a mais um evento no calendário da cidade, e mais
um evento a destacar a desigualdade social que funde nossas vidas.
Em uma noite de sexta-feira, a Feira estava vazia. Pairou sobre
ela o silêncio proveniente da ausência dos excluídos. No ano passado acusaram
arrastões na Feira, e esse ano, em razão disso, o formato da Feira teve que ser
repensado. A solução para o complexo problema social que envolve a
criminalidade foi diminuir a quantidade de shows, para só quatro, cobrar a
entrega de um livro para obter ingresso para assistir aos mesmos e tirar os
shows de lá do calçadão e remetê-los para um lugar cercado. Simples assim. Por
que aproveitar o fato para falar de Educação, Cultura, lazer, etc?
E assim, este ano os shows foram para o Parque Maurílio Biagi, ao redor
de grades e com vigoroso aparato policial. Muitos policiais. Nunca vi tantos
policiais na porta de um show como vi sexta-feira, na entrada e envolta do
Parque. Nunca vi tantos policiais, de moto e de carro, em shows no Centro de
Eventos Taiwan, Coliseu Lona Branca, Espaço Golf. E olha que para as festas
desses lugares costumam chegar encomendas específicas de entorpecentes.
Agora ficou o barulho dos carros e motos que passam pela rua ao
lado, outrora, barulho acobertado pelas músicas das bandas que se apresentavam
na Feira e pelas conversas risonhas dos jovens que lá se encontravam. O olhar
da paquera também foi substituído, agora, pelos olhares da ordem militar.
Nunca vi polêmica de como os jovens dançam nas boates da zona
sul. E muito menos recriminando como se dança nessas boates. Mas na Feira,
jovens dançando funk foi motivo de polêmica. O ato foi visto como mais uma
situação preocupante. Funk é um estilo musical, que envolve um
estilo peculiar de dança também. Ambos fazem parte de uma forma de expressão
cultural, assim como a dança
do ventre. Mas na Feira... ...jovens da periferia dançando funkrepresenta perigo, e quem
não gosta tenta reprimir. Reprimir é a arma da ignorância para fugir do debate.
Por que aproveitarmos esse fato para falarmos o que o funk expressa como estilo cultural?
Foi noticiado também que os estudantes das escolas públicas
estavam faltando na aula para ir na Feira, e estavam indo na Feira só para usar
entorpecentes. A Feira parece ser o problema então, já que durante ela essas
notícias despontam como preocupantes e em outros momentos são só estatísticas.
Com isso, esse ano já diminuíram os shows, cobraram escambo para o acesso às
atrações musicais, e para mais “ordem”, transferiam os shows para outro lugar,
agora cercado. Nessa esteira, no ano que vem podemos nos deparar com uma Feira
do Livro, sem livros, porque eles podem estar, com suas palavras, incitando a
mais violência e corrompendo as pessoas.
A Feira é o mal, e cultura não está fazendo bem. Nossas crianças
e jovens abandonados em nossas escolas públicas sucateadas e com nossos
professores desvalorizados, que aprendam com nosso método de ensino de aprovação automática, e depois disso, estando
“comportados”, que possam vir à Feira.
As famílias brasileiras relegadas às filas de espera nos hospitais, filas do
Conselho Tutelar, filas dos núcleos de atendimento de violência doméstica,
filas das escolas e universidades públicas, que eduquem seus filhos e assim
possam trazê-los para a Feira. Antes disso, melhor não. Deixe a cultura só para
os que sabem se comportar como quer a nobreza.
A Feira do Livro de Ribeirão, considerada uma das quatro mais
importantes feiras do Brasil, e uma das maiores do mundo na categoria “céu aberto”, tem por
principal finalidade a promoção da cultura e da educação, a difusão do livro e
da leitura e, prioritariamente, a formação de leitores. Um paradoxo diante do
formato que esta tendo a Feira.
Raquel Montero
Artigo publicado no site do PT de Ribeirão;
http://pt-ribeirao.org.br/artigos/Raquel-Montero/feira-do-livro-para-quem-
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