Assim que me tornei advogada também me dediquei a algumas carreiras
públicas, e mais para frente viria a ser aprovada mediante concurso
para ingresso no Ministério Público do Estado de São Paulo, mas
que, por razões ideológicas, eu viria a me decidir por não tomar
posse.
Em nenhum momento fui trabalhar como advogada empregada em escritório
de advocacia, mesmo essa opção, no início da carreira, trazendo
mais estabilidade do que mantendo-se como autônoma, porque eu já
sabia que haveria ali situações que eu não concordaria em ter que
defender, como é o caso típico da defesa de bancos. Os primeiros
casos que tive, atendi em casa, porque eu não tinha condições
financeiras de montar um escritório. Foi mais difícil assim, mas
foi assim que pude manter minha coerência com as lutas sociais e
autonomia para não ter que defender o que era indefensável.
Em nenhum momento também, me inscrevi no convênio da Assistência
Judiciária com a OAB, mesmo essa opção sendo mais uma fonte de
renda importante, principalmente para o início da advocacia. Esse
convênio paga valores aviltantes para os advogados conveniados,
fazendo com que a própria defesa da pessoa necessitada de um
advogado conveniado à Assistência Judiciária fique prejudicada, já
que sem a devida valorização o profissional não pode dispor da
mesma estrutura em que fosse devidamente valorizado. Sempre pensei
que fazer parte desse convênio seria contribuir para sua existência
precária, e que o certo era, como continuo achando que é,
boicotá-lo, para que o Governador passe, assim, a valorizar o
direito das pessoas necessitadas a uma a assistência jurídica de
qualidade, tal qual como prevista na Constituição Federal. Essa foi
mais uma luta travada , inclusive com proposta levada ao anterior
Presidente da OAB de Ribeirão Preto.
Durante a faculdade fui guardando dinheiro para poder ir me mantendo
diante de dificuldades como essas, em que eu já havia vislumbrado
que iriam ocorrer. Preservar nossa autonomia e liberdade, às vezes,
é uma tarefa árdua, exige escolhas e renúncias, firmeza e
determinação, mas sempre pensei que é assim também que escolhemos
acessar os sentimentos que nos trazem paz de espírito, coerência
com a ideologia que defendemos e alegria em viver.
Raquel Montero
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