Há quinze anos atrás eu queria mudar o mundo. Quinze anos depois eu continuo querendo.
Vou começar a fazer aqui um resgate de
sensações, sentimentos e sonhos que vivi com tantas pessoas em 15
anos de militância.
Era inverno e início de mais uma greve dos
professores da escola onde eu estudava. Sempre estudei em escola
estadual pública, a primeira foi o Raul
Peixoto, a segunda foi o Sebastião
Fernandes Palma, que chamávamos de
Vilão. Diante
do anúncio de greve dos professores e com isso, já sabíamos, o
atraso do nosso ano letivo e consequentemente do nosso aprendizado,
escrevi uma carta para o Presidente da República manifestando minha
indignação, na época tratava-se do Presidente Fernando Henrique
Cardoso. Eu tinha 11 anos.
Mas foi com mais idade e mais consciência
crítica que pude entender melhor as coisas. Estava então, no ensino
médio, e, porém, muito embora alguns anos haviam passado, a escola
não havia mudado em sua qualidade, ao contrário, só vinha
piorando.
O governo havia anunciado que iria implantar o
bem fundamentado programa de acompanhamento da progressão escolar,
sob orientação do educador Paulo Freire, o programa Progressão
Continuada, no
entanto, na prática, o que fez foi aprovar automaticamente os
alunos, implantando a funesta aprovação
automática.
Eu fui uma das primeiras vítimas desse
"modelo" e senti no intelecto e na alma a pobreza desse
ensino. Presenciei alunos passando de uma série para outra sem ter
aprendido as lições, déficit cada vez maior na qualidade das
aulas, queda do estímulo dos professores, outrora tão mais animados
em ministrar aulas. Foram violências que me recordo, sinto e sofro
as consequências até hoje. E assim como eu, milhares de outras
pessoas, numa sucessão que continua.
Foi ali, diante de tanta coisa errada, que
iniciei minhas primeiras manifestações, buscando com meus colegas e
professores uma educação de qualidade para todos, e ai, ora eram os professores fazendo greve e
nós somávamos a eles, ora eram os alunos reivindicando melhores
condições de ensino e os professores somavam com a gente.. Foi ali que
comecei a tomar consciência política da necessidade de mudanças e
do poder que cada um de nós carrega para influenciar nas mudanças.
Raquel Montero
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