Durante os protestos que
estão ocorrendo pelo Brasil, notadamente no que participei pessoalmente, em
Ribeirão Preto, tenha exercitado muito uma regra antiga da natureza: dois
olhos, dois ouvidos, duas mãos, duas pernas, uma boca.
Vi nesses protestos três
situações; aqueles que foram para as ruas protestar por uma causa legítima;
aqueles que foram às ruas por ir, sem ideologia e só para também participarem
de um protesto, a exemplo do que está acontecendo em vários lugares do Brasil; aqueles
que foram para causar o caos e tentar se apoderar da situação para manipulá-la
a favor de forças fascistas e reacionárias.
Nas manifestações legítimas
que vi, me fortaleci e me vi representada. Pessoas que saíram às ruas com o
real objetivo de protestar pela causa que motivou o protesto. Que reivindicou
com um foco e fundamentos para tanto. Que não praticou violência, depredações,
discriminações, preconceitos, porque sabem que a violência não é um caminho
para a paz, que democracia não abrange discriminação, seja ela qual for, e que
todo protesto tem que ter organização e articulação definida, planejada e
fundamentada. Ir para as ruas por ir, só porque a imprensa está divulgado que
protestos estão ocorrendo em várias partes do Brasil, sem ter a convicção da
ideologia e do que se está defendendo, ou sem ter meta e fundamentos para o que
se está defendendo, é ser qualquer coisa – ignorante, oportunista, fanfarrão,
direitista querendo causar o caos, reacionário querendo tomar espaço... – menos
militante comprometido com o progresso social.
Fui no protesto de Ribeirão para protestar sobre o transporte
público, principalmente sobre a tarifa cobrada por ele. Esse era o objetivo do
protesto. Outros assuntos legítimos também foram levantados nas ruas, no
entanto, a única meta elaborada, debatida e definida, foi a concernente ao
transporte público. Porém, muitas pessoas (uma grande maioria), que não
participou da reunião preparatória para o ato e que reuniu quase mil pessoas, não
foram para as ruas em razão do objetivo do protesto, e em razão disso o ato
acabou se perdendo e se transformando numa passeata de várias causas e ao mesmo tempo nenhuma, porque sem articulação e foco
definido as causas se perdem. O ato, lastimavelmente, se transformou numa
passeata de causas genéricas, vagas e sem elaboração. Bem diferente dos
protestos que ocorreram em São Paulo, que nasceu com o objetivo de reduzir a
tarifa do transporte público, e que reiteraram esse objetivo com o anúncio da
retirado do Movimento Passe Livre,
assim que o valor da tarifa reduziu.
Dessa forma,
esses protestos que estão ocorrendo pelo Brasil, no mesmo sentido que ocorreu
em Ribeirão, não devem continuar, pois diante da desarticulação de objetivos
que estão demonstrando nas ruas só estão servindo de massa de manipulação de
forças reacionárias e fascistas, que só querem o caos, sem uma meta
construtiva. Pois sim, também vi muito preconceito nesses protestos, o que
também não só não tinha nexo com o objetivo do protesto como também faz com que
o protesto fique sem legitimidade. Um movimento assim não me representa. Eu não
apoio este tipo de movimento
A regra da natureza que
citei e que estou aprofundando diante das manifestações que estou presenciando,
através de cartazes, faixas, bandeiras, falas, coros e hinos, fez reafirmar dentro
de mim a convicção acerca da enorme capacidade e possibilidade que temos de produzir as transformações
sócias que queremos ver acontecer. Com essas pessoas vivi mais uma vez o sonho
da conquista de direitos, da reforma política, da participação popular nas
decisões políticas, e da democracia que abrange e não se disfarça em pseudo
democracia, promovendo em suas entranhas exclusão e fascismo. E que sonho lindo
para se ter, se apoderar, se viver!
Vi o quanto as pessoas
podem contribuir para um mundo melhor, e ai me refiro a todas aquelas pessoas
que protestaram de maneira pacífica, sem fazer discriminações de bandeiras e
ideologias, que foram para as ruas com o objetivo traçado para o protesto e não
se deixaram cair na armadilha de servirem como massa manipulável de causas genéricas
e midiáticas, em que se apropriam aqueles que querem tomar o poder a qualquer
custo. Protesto, para ser legítimo e ter força para provocar mudanças benéficas,
precisa ter foco definido, ação planejada, argumentos estudados e elaborados,
exceto se a finalidade do protesto não for benéfica e só almejar chamar a atenção
ou interesses espúrios.
Raquel Montero
É a primeira vez, que a nossa geração tem que ir as ruas, estamos aprendendo.
ResponderExcluirRaquel,
ResponderExcluirli seu texto e considero que você tenha razão. Gostaria que você lesse esse artigo que publiquei em meu blog e que emitisse sua opinião.
Dá uma olhada: http://www.unipress.blog.br/os-conselhos-de-direitos-e-o-orcamento-participativo-na-reforma-politica/
olá Edmar! Obrigada pelo comentário. Li seu artigo e respondi nele mesmo. Um abraço!
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