Raquel Montero

Raquel Montero

sábado, 22 de junho de 2013

Sonhos de conquistas, reformas e ideologias


                                                         Foto: Alfredo Risk – Jornal Tribuna

Durante os protestos que estão ocorrendo pelo Brasil, notadamente no que participei pessoalmente, em Ribeirão Preto, tenha exercitado muito uma regra antiga da natureza: dois olhos, dois ouvidos, duas mãos, duas pernas, uma boca.
Vi nesses protestos três situações; aqueles que foram para as ruas protestar por uma causa legítima; aqueles que foram às ruas por ir, sem ideologia e só para também participarem de um protesto, a exemplo do que está acontecendo em vários lugares do Brasil; aqueles que foram para causar o caos e tentar se apoderar da situação para manipulá-la a favor de forças fascistas e reacionárias.
Nas manifestações legítimas que vi, me fortaleci e me vi representada. Pessoas que saíram às ruas com o real objetivo de protestar pela causa que motivou o protesto. Que reivindicou com um foco e fundamentos para tanto. Que não praticou violência, depredações, discriminações, preconceitos, porque sabem que a violência não é um caminho para a paz, que democracia não abrange discriminação, seja ela qual for, e que todo protesto tem que ter organização e articulação definida, planejada e fundamentada. Ir para as ruas por ir, só porque a imprensa está divulgado que protestos estão ocorrendo em várias partes do Brasil, sem ter a convicção da ideologia e do que se está defendendo, ou sem ter meta e fundamentos para o que se está defendendo, é ser qualquer coisa – ignorante, oportunista, fanfarrão, direitista querendo causar o caos, reacionário querendo tomar espaço... – menos militante comprometido com o progresso social.
Fui no protesto de Ribeirão para protestar sobre o transporte público, principalmente sobre a tarifa cobrada por ele. Esse era o objetivo do protesto. Outros assuntos legítimos também foram levantados nas ruas, no entanto, a única meta elaborada, debatida e definida, foi a concernente ao transporte público. Porém, muitas pessoas (uma grande maioria), que não participou da reunião preparatória para o ato e que reuniu quase mil pessoas, não foram para as ruas em razão do objetivo do protesto, e em razão disso o ato acabou se perdendo e se transformando numa passeata de várias causas e ao mesmo tempo nenhuma, porque sem articulação e foco definido as causas se perdem. O ato, lastimavelmente, se transformou numa passeata de causas genéricas, vagas e sem elaboração. Bem diferente dos protestos que ocorreram em São Paulo, que nasceu com o objetivo de reduzir a tarifa do transporte público, e que reiteraram esse objetivo com o anúncio da retirado do Movimento Passe Livre, assim que o valor da tarifa reduziu.
Dessa forma, esses protestos que estão ocorrendo pelo Brasil, no mesmo sentido que ocorreu em Ribeirão, não devem continuar, pois diante da desarticulação de objetivos que estão demonstrando nas ruas só estão servindo de massa de manipulação de forças reacionárias e fascistas, que só querem o caos, sem uma meta construtiva. Pois sim, também vi muito preconceito nesses protestos, o que também não só não tinha nexo com o objetivo do protesto como também faz com que o protesto fique sem legitimidade. Um movimento assim não me representa. Eu não apoio este tipo de movimento
A regra da natureza que citei e que estou aprofundando diante das manifestações que estou presenciando, através de cartazes, faixas, bandeiras, falas, coros e hinos, fez reafirmar dentro de mim a convicção acerca da enorme capacidade e possibilidade que temos de produzir as transformações sócias que queremos ver acontecer. Com essas pessoas vivi mais uma vez o sonho da conquista de direitos, da reforma política, da participação popular nas decisões políticas, e da democracia que abrange e não se disfarça em pseudo democracia, promovendo em suas entranhas exclusão e fascismo. E que sonho lindo para se ter, se apoderar, se viver!
Vi o quanto as pessoas podem contribuir para um mundo melhor, e ai me refiro a todas aquelas pessoas que protestaram de maneira pacífica, sem fazer discriminações de bandeiras e ideologias, que foram para as ruas com o objetivo traçado para o protesto e não se deixaram cair na armadilha de servirem como massa manipulável de causas genéricas e midiáticas, em que se apropriam aqueles que querem tomar o poder a qualquer custo. Protesto, para ser legítimo e ter força para provocar mudanças benéficas, precisa ter foco definido, ação planejada, argumentos estudados e elaborados, exceto se a finalidade do protesto não for benéfica e só almejar chamar a atenção ou interesses espúrios.

Raquel Montero

3 comentários:

  1. É a primeira vez, que a nossa geração tem que ir as ruas, estamos aprendendo.

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  2. Raquel,

    li seu texto e considero que você tenha razão. Gostaria que você lesse esse artigo que publiquei em meu blog e que emitisse sua opinião.

    Dá uma olhada: http://www.unipress.blog.br/os-conselhos-de-direitos-e-o-orcamento-participativo-na-reforma-politica/

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  3. olá Edmar! Obrigada pelo comentário. Li seu artigo e respondi nele mesmo. Um abraço!

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