Vi Frei Betto na 13º
Feira do Livro de Ribeirão Preto. Vi Frei Betto indagando se não haveria
iluminação no estande em que ele daria autógrafos em seus livros. Vi a
funcionária responder que sim, porém, no momento dos autógrafos o estande
continuava sem lâmpadas e assim continuou até o fim da permanência de Frei
Betto na Feira.
A luz que faltou no estande
faltou no resto da Feira, que este ano se fez na penumbra da tristeza de mais
uma segregação social. Os mais abastados ficaram com medo de nossa juventude
ribeirãopretana, e esse medo reduziu a 13º edição da Feira a mais um evento no
calendário da cidade, e mais um evento a destacar a desigualdade social que
funde nossas vidas.
Em uma noite de
sexta-feira, a Feira estava vazia. Pairou sobre ela o silêncio proveniente da ausência
dos excluídos. No ano passado acusaram arrastões na Feira, e esse ano, em razão
disso, o formato da Feira teve que ser repensado. A solução para o complexo
problema social que envolve a criminalidade foi diminuir a quantidade de shows,
para só quatro, cobrar a entrega de um livro para obter ingresso para assistir
aos mesmos e tirar os shows de lá do calçadão e remetê-los para um lugar
cercado. Simples assim. Por que aproveitar o fato para falar de Educação,
Cultura, lazer, etc?
E assim, este ano os
shows foram para o Parque Maurílio Biagi,
ao redor de grades e com vigoroso aparato policial. Muitos policiais. Nunca vi
tantos policiais na porta de um show como vi sexta-feira, na entrada e envolta
do Parque. Nunca vi tantos policiais, de moto e de carro, em shows no Centro de
Eventos Taiwan, Coliseu Lona Branca, Espaço Golf. E olha que para as festas
desses lugares costumam chegar encomendas específicas de entorpecentes.
Agora ficou o barulho
dos carros e motos que passam pela rua ao lado, outrora, barulho acobertado
pelas músicas das bandas que se apresentavam na Feira e pelas conversas
risonhas dos jovens que lá se encontravam. O olhar da paquera também foi
substituído, agora, pelos olhares da ordem militar.
Nunca vi polêmica de
como os jovens dançam nas boates da zona sul. E muito menos recriminando como
se dança nessas boates. Mas na Feira, jovens dançando funk foi motivo de polêmica. O
ato foi visto como mais uma situação preocupante. Funk é um estilo musical, que envolve um estilo peculiar de dança
também. Ambos fazem parte de uma forma de expressão cultural, assim como a dança do ventre. Mas na Feira...
...jovens da periferia dançando funk representa
perigo, e quem não gosta tenta reprimir. Reprimir é a arma da ignorância para
fugir do debate. Por que aproveitarmos esse fato para falarmos o que o funk expressa como estilo cultural?
Foi noticiado também que
os estudantes das escolas públicas estavam faltando na aula para ir na Feira, e
estavam indo na Feira só para usar entorpecentes. A Feira parece ser o problema
então, já que durante ela essas notícias despontam como preocupantes e em
outros momentos são só estatísticas. Com isso, esse ano já diminuíram os shows,
cobraram escambo para o acesso às atrações musicais, e para mais “ordem”,
transferiam os shows para outro lugar, agora cercado. Nessa esteira, no ano que
vem podemos nos deparar com uma Feira do Livro, sem livros, porque eles podem
estar, com suas palavras, incitando a mais violência e corrompendo as pessoas.
A Feira é o mal, e
cultura não está fazendo bem. Nossas crianças e jovens abandonados em nossas
escolas públicas sucateadas e com nossos professores desvalorizados, que
aprendam com nosso método de ensino de aprovação
automática, e depois disso, estando “comportados”, que possam vir à
Feira. As famílias brasileiras relegadas às filas de espera
nos hospitais, filas do Conselho Tutelar, filas dos núcleos de atendimento de
violência doméstica, filas das escolas e universidades públicas, que eduquem
seus filhos e assim possam trazê-los para a Feira. Antes disso, melhor não.
Deixe a cultura só para os que sabem se comportar como quer a nobreza.
A Feira do Livro de
Ribeirão, considerada uma das quatro mais importantes feiras do Brasil, e uma
das maiores do mundo na categoria “céu aberto”, tem por principal finalidade a promoção da cultura e da
educação, a difusão do livro e da leitura e, prioritariamente, a formação de
leitores. Um paradoxo diante do formato que esta tendo a Feira.
Raquel Montero
Parabéns Raquel...Era exatamente isso q queria dizer qd escrevi esse desabafo.
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/lmrbrazil/posts/493191330755832?ref=notif¬if_t=like
gente como você adora que esta feira fracasse, afinal, quanto mais ignorantes existirem, melhor não é mesmo. Então, pra que cultura? Deixe os excluidinhos na miséria intelectual que quem sabe um dia, eles votem em você. A feira foi sim um FRACASSO, por causa do BAIXO NIVEL intelectual dessa gente excluida e sua cultura "peculiar".
ResponderExcluirFUNK não combina com literatura. E, a forma como o pessoal dança numa boite da zona sul, nada tem a ver com esfregar a boceta no chão ou em um macho. Esse bando de selvagens destroem a feira e você reclama de quem não vai? Isso mesmo, continue defendendo esse tipo de gente, afinal, são eles que fazem a feira? São eles que compram os livros? Não, São os outros..Certas pessoas merecem a exclusão mesmo.
E não venha com a desculpa que os "estudantes" precisam ser preparados pelos professores, porque essa gentinha que detonou a feira, nem estudante é. Já devem ser mães de 3 filhos no mínimo recebendo bolsa familia,
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