Raquel Montero

Raquel Montero

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Qual crime é maior; roubar um banco ou fundar um banco?


Qual crime é maior; roubar um banco ou fundar um banco?

Texto parcial extraído da matéria; Juros: ruína de muitos, paraíso de poucos
Revista Caros Amigos

O economista Paulo Passarinho comenta na Revista Caros Amigos, nº 163, ano XIV, outubro/2010, pag. 41; “O grande problema é que o mercado bancário é oligopolizado – poucos ofertam recursos a uma demanda que é enorme. O resultado é que as taxas tendem a ser altas, pois a competição é muito restrita”.
E o jornalista da matéria, coordenador da Revista no Rio de Janeiro, Marcelo Salles, continua, dizendo que; “Passarinho sublinha que os bancos sempre apresentam justificativas técnicas para a composição das taxas, como o risco de inadimplência, mas ele acredita que a questão de fundo é outra”.
 
Diz Passarinho que; “Soma-se ao mercado oligopolizado a natureza da política monetária e o controle que os bancos exercem diretamente sobre o Banco Central e temos o cenário ideal para as mais altas taxas de juros do mundo”.
Com essas taxas, os bancos brasileiros lucram bilhões e bilhões de reais por ano.
 
De acordo com informações obtidas no portal do Banco Central, os bancos que cobram os maiores juros mensais do cheque especial para pessoa física são, em valores de setembro deste ano: Santander (9,20), HSBC (9,15%), Bradesco (8,43), Itaú (8,40), Banco do Brasil (8,08) e Caixa Econômica Federal (6,58). Esses valores, mensais, são similares aos cobrados, por ano, nos Estados Unidos. Os juros dos empréstimos pessoais tendem a cair um pouco nos bancos citados acima, mas explodem quando são feitos nas chamadas “financeiras”, essas cuja a propaganda fala em dinheiro na hora, sem burocracia. Novamente segundo o Banco Central, a Crefisa estava cobrando, em setembro deste ano, nada menos que 24,20% ao mês.
 
Mas os recordistas são os juros cobrados pelas administradoras de cartão de crédito. Ao contrário das informações sobre as outras modalidades, o Banco Central não informa em seu portal os dados dos cartões de crédito. A minha fatura Mastercard, em setembro, avisa que o “Custo Efetivo Total ao ano” é de estrondoso 374,14%. Um assombro ter que pagar quase cinco vezes o valor inicial.
 
A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade divulgou pesquisa com a taxa média de juros para pessoa física, em que considera todas as modalidades de crédito: 6,75% ao mês ou 118,99%. Os números são de agosto desse ano.
 
Passarinho explica que as taxas de juros ao consumidor sofrem influência da taxa básica de juros definida pelo Banco Central. No Brasil, a taxa básica está em 9,50% ao ano, conforme a última decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central. Segundo o jornal Brasil Econômico, num ranking de 23 países só perdemos para a Argentina, que está em 11,15%. O México tem 4,5% enquanto a África do Sul está em 6,5%. Em outro patamar estão os Estados Unidos (0,25%), Canadá (1%) e Inglaterra (0,5%).
 
Enquanto isso, os que em algum momento precisam de dinheiro, acabam se afundando no pântano de juros que virou o mercado de crédito brasileiro. Diante das cifras astronômicas cobradas pelo sistema financeiro em nosso país, o que teria dito o teatrólogo alemão Bertolt Brecht, autor da famosa pergunta: qual crime é maior, roubar um banco ou fundar um banco?
(Marcelo Salles, coordenador da Revista Caros Amigos no Rio de Janeiro. salles@carosamigos.com.br)


O que segue não está na matéria mas vale acrescentar.

Citando dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a revista britânica The Economist afirmou que o Brasil tem os mais altos spreads bancários do mundo (http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=13331179 ). 

Outro estudo que merece menção é  o realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –  Ipea (Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise - 20º COMUNICADO DA PRESIDÊNCIA DO Ipea - 07/04/2009 – disponível em: http://www.ipea.gov.br/default.jsp), que fez a seguinte comparação entre as taxas de juros praticadas no Brasil e no exterior:
Taxa anual real de juros total* sobre empréstimos pessoais em instituições bancárias em países selecionados na primeira semana de abril de 2009
Instituição
País
Juro real (em %)
HSBC
Reino Unido
6,60
Brasil
63,42
Santander
Espanha
10,81
Brasil
55,74
Citibank
E.U.A
7,28
Brasil
60,84
Banco do Brasil
Brasil
25,05
Itaú
Brasil
63,25
Fonte: Dados fornecidos pelas instituições bancárias para os juros e OCDE e BCB para inflação nos países selecionados e no Brasil
* Juros adicionados aos serviços administrativos, margem de lucro e tributação

Isso, num país em que ainda se “busca”, com “esforço”, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, inciso III da Constituição Federal).

Raquel Bencsik Montero

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