Raquel Montero

Raquel Montero

domingo, 20 de maio de 2012

Lixo extraordinário



                                                  Lixo Extraordinário
Lixo Extraordinário é um documentário dirigido por Lucy Walker e produzido no Brasil e na Inglaterra, em 2009, onde se retratou a vida de algumas pessoas que trabalham na coleta de material reciclável encontrado junto com o lixo despejado no aterro sanitário de Jardim Gramacho, bairro do município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Com o objetivo de retratar a vida dos catadores de material reciclável, o artista plástico Vik Muniz, vai conhecer a vida e o trabalho dos catadores no maior aterro sanitário do mundo. Lá tem contato direto com a vida de algumas pessoas, seus sonhos e frustrações.
Em outras fontes já obtivemos a informação da importância da coleta seletiva do material reciclável. Reciclar é uma ação econômica e inteligente dos recursos naturais que conjugada com o consumo equilibrado e ações sustentáveis podem levar a uma vida saudável, no que se refere ao consumo de bens.
Todavia para a existência da reciclagem é imprescindível a existência dos catadores ou coletores do material reciclável. Esses coletores fazem a tarefa de encontrar em meio ao material orgânico que se decompõe na natureza, o material reciclável que traballhado, volta para a comercialização e o consumo.
Sem esses coletores a reciclagem não existiria. É importante dizer, salientar e divulgar isso. O coletor de material reciclável desse aterro do Jardim Gramacho, e o coletores de cooperativas de material reciclável já existentes em várias cidades, é que permitem e proporcionam o início do trâmite da reciclagem. Ou seja, sem o coletor e o trabalho que o coletor faz, o material reciclável não chegaria até o processo de reciclagem e assim, até a nova comercialização e consumo deste material.
Então, no trabalho tão impontante do coletor de material reciclável, que, em suma, contribui para um mundo melhor com a importante e necessária tarefa de reciclagem de bens de consumo, fica a dúvida; por que esses trabalhadores que fazem um trabalho tão nobre são tão desvalorizados e recebem tão pouco pelo nobre trabalho que fazem?
É flagrante a situação de miserabilidade em que vivem esses trabalhadores, retratadas no documentário. Mas por que se fazem um trabalho tão importante?
Por que um juiz ou um deputado aufere bem mais renda do que esses trabalhadores, se cada um destes, em seus diferente trabalhos, fazem trabalhos importantes e que, da mesma forma, são necessários à vida de todos?
E ainda se considerarmos a periculosidade e a insalubridade a que estão expostos esses trabalhadores, devemos ponderar que mais renda ainda deveriam ganhar, tendo em vista os perigos existentes na separação dos materiais, com contatos até mesmo com cadáveres e agulhas injetáveis. A quantas doenças não estão expostos esses trabalhadores?
E partindo desse ponto, podemos continuar a análise considerando os demais trabalhadores que inegavelmente trabalham e ganham tão menos que outros trabalhadores que, também, inegavelmente trabalham, mas que, por sua vez, ganham bem mais. E ai fazemos constar as domésticas, os garimpeiros, os cortadores de cana, os professores públicos, os bombeiros, etc. Por que ganham tão menos que os mesmos já citados a título de exemplo?
Graciliano Ramos com o Fabiano de Vidas Secas já havia se insurgido eloquentemente contra essas incongruências. Fabiano se revolta com as explorações e quer tratamentos respeitosos para todos os trabalhadores. E essa obra já tem décadas e aqui estamos a falar do mesmo problema.
Não é justo que todos que trabalham ganhem bem da mesma forma ou será que só o estudo é que é parâmetro para remunerar alguém?
Um deputado faz um trabalho importante, e a doméstica que limpa a casa dele, também o faz. São trabalhos distintos, mas necessários e importantes da mesma forma.
Se não tiver quem limpe o hospital, o trabalho do médico não pode ser feito. Como o médico via fazer uma cirurgia numa sala suja?
Trabalho não é só o intelectual ou que exigiu estudo escolar e acadêmico. Trabalho é tudo aquilo que exigiu esforço de quem o fez e benefício de quem recebeu. Tudo que assim for feito é trabalho e merece remuneração, razoável e proporcional.
Por isso não é coerente e sensato que se pague mais a alguém só porque esse alguém tem mais estudo que o outro, eis que ambos trabalharam e se seus respectivos trabalhos foram solicitados é porque foram necessários e importantes, e sendo assim, merecem a mesma consideração.
Essa situação é injusta por demais e gera todas as consequências nefastas que as injustiças têm o poder de gerar, sendo a criminalidade sua maior expressão. E enquanto injustiças houverem, sofrimentos sentiremos, porque não há como vivermos felizes se pessoas ainda sofrem ao nosso lado.
O sofrimento que se causa na vida em sociedade ecoa de diferentes maneiras para que, por mais que se queira ignorar, e as pessoas gostam de ignorar as mazelas e pobrezas da vida, elas se fazem presentes, sem que nada possa detê-las. Assim são as balas perdidas, os sequestros, os condomínios fechados, as cercas elétricas, a corrupção, etc.
E é assim que deve ser, porque seria muita fácil e covarde resolvermos os problemas tão somente fechando os olhos para eles. Todos temos culpa nos problemas sociais. Alguns menos outros mais, mas todos, à sua maneira, contribuem para os status quo e dessa forma, todos devemos sofrer as consequências de nosso atos. Lei de ação e reação. A lei mais justa que existe e por assim ser, não admite impunidade, nunca.
É preciso mudar essa concepção, essa distorção e esse desabafo é mais um que clama por essa mudança.
Raquel Bencsik Montero

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