Lixo Extraordinário é um documentário dirigido por Lucy
Walker e produzido no Brasil e na Inglaterra, em 2009, onde se
retratou a vida de algumas pessoas que trabalham na coleta de
material reciclável encontrado junto com o lixo despejado no aterro
sanitário de Jardim Gramacho, bairro do município de Duque de
Caxias, no Rio de Janeiro.
Com o objetivo de retratar a vida dos catadores
de material reciclável, o artista plástico Vik Muniz, vai
conhecer a vida e o trabalho dos catadores no maior aterro sanitário
do mundo. Lá tem contato direto com a vida de algumas pessoas, seus
sonhos e frustrações.
Em outras fontes já obtivemos a
informação da importância da coleta seletiva do material
reciclável. Reciclar é uma ação econômica e inteligente dos
recursos naturais que conjugada com o consumo equilibrado e ações
sustentáveis podem levar a uma vida saudável, no que se refere ao
consumo de bens.
Todavia para a existência da
reciclagem é imprescindível a existência dos catadores ou
coletores do material reciclável. Esses coletores fazem a tarefa de
encontrar em meio ao material orgânico que se decompõe na natureza,
o material reciclável que traballhado, volta para a comercialização
e o consumo.
Sem esses coletores a reciclagem não
existiria. É importante dizer, salientar e divulgar isso. O coletor
de material reciclável desse aterro do Jardim Gramacho, e o
coletores de cooperativas de material reciclável já existentes em
várias cidades, é que permitem e proporcionam o início do trâmite
da reciclagem. Ou seja, sem o coletor e o trabalho que o coletor faz,
o material reciclável não chegaria até o processo de reciclagem e
assim, até a nova comercialização e consumo deste material.
Então, no trabalho tão impontante
do coletor de material reciclável, que, em suma, contribui para um
mundo melhor com a importante e necessária tarefa de reciclagem de
bens de consumo, fica a dúvida; por que esses trabalhadores que
fazem um trabalho tão nobre são tão desvalorizados e recebem tão
pouco pelo nobre trabalho que fazem?
É flagrante a situação de
miserabilidade em que vivem esses trabalhadores, retratadas no
documentário. Mas por que se fazem um trabalho tão importante?
Por que um juiz ou um deputado
aufere bem mais renda do que esses trabalhadores, se cada um destes,
em seus diferente trabalhos, fazem trabalhos importantes e que, da
mesma forma, são necessários à vida de todos?
E ainda se considerarmos a
periculosidade e a insalubridade a que estão expostos esses
trabalhadores, devemos ponderar que mais renda ainda deveriam ganhar,
tendo em vista os perigos existentes na separação dos materiais,
com contatos até mesmo com cadáveres e agulhas injetáveis. A
quantas doenças não estão expostos esses trabalhadores?
E partindo desse ponto, podemos
continuar a análise considerando os demais trabalhadores que
inegavelmente trabalham e ganham tão menos que outros trabalhadores
que, também, inegavelmente trabalham, mas que, por sua vez, ganham
bem mais. E ai fazemos constar as domésticas, os garimpeiros, os
cortadores de cana, os professores públicos, os bombeiros, etc. Por
que ganham tão menos que os mesmos já citados a título de exemplo?
Graciliano Ramos com o Fabiano
de Vidas Secas já
havia se insurgido eloquentemente contra essas incongruências.
Fabiano se revolta com
as explorações e quer tratamentos respeitosos para todos os
trabalhadores. E essa obra já tem décadas e aqui estamos a falar do
mesmo problema.
Não é justo que todos que
trabalham ganhem bem da mesma forma ou será que só o estudo é que
é parâmetro para remunerar alguém?
Um deputado faz um trabalho
importante, e a doméstica que limpa a casa dele, também o faz. São
trabalhos distintos, mas necessários e importantes da mesma forma.
Se não tiver quem limpe o hospital,
o trabalho do médico não pode ser feito. Como o médico via fazer
uma cirurgia numa sala suja?
Trabalho não é só o intelectual
ou que exigiu estudo escolar e acadêmico. Trabalho é tudo aquilo
que exigiu esforço de quem o fez e benefício de quem recebeu. Tudo
que assim for feito é trabalho e merece remuneração, razoável e
proporcional.
Por isso não é coerente e sensato
que se pague mais a alguém só porque esse alguém tem mais estudo
que o outro, eis que ambos trabalharam e se seus respectivos
trabalhos foram solicitados é porque foram necessários e
importantes, e sendo assim, merecem a mesma consideração.
Essa situação é injusta por
demais e gera todas as consequências nefastas que as injustiças têm
o poder de gerar, sendo a criminalidade sua maior expressão. E
enquanto injustiças houverem, sofrimentos sentiremos, porque não há
como vivermos felizes se pessoas ainda sofrem ao nosso lado.
O sofrimento que se causa na vida em
sociedade ecoa de diferentes maneiras para que, por mais que se
queira ignorar, e as pessoas gostam de ignorar as mazelas e pobrezas
da vida, elas se fazem presentes, sem que nada possa detê-las. Assim
são as balas perdidas, os sequestros, os condomínios fechados, as
cercas elétricas, a corrupção, etc.
E é assim que deve ser, porque
seria muita fácil e covarde resolvermos os problemas tão somente
fechando os olhos para eles. Todos temos culpa nos problemas sociais.
Alguns menos outros mais, mas todos, à sua maneira, contribuem para
os status quo e dessa
forma, todos devemos sofrer as consequências de nosso atos. Lei de
ação e reação. A lei mais justa que existe e por assim ser, não
admite impunidade, nunca.
É preciso mudar essa concepção,
essa distorção e esse desabafo é mais um que clama por essa
mudança.
Raquel Bencsik Montero
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