Em dezembro de 2010 os
vereadores da nossa Câmara Municipal de Ribeirão Preto aprovaram uma emenda na
Lei Orgânica de Ribeirão Preto para alterarem o número de vagas na Câmara,
passando de 20 para 27.
A única a votar contra
o aumento foi a vereadora Silvana Resende (PSDB).
O aumento tem base
legal, não se questiona isso, se questiona a maneira com que essa decisão foi
tomada, ou seja, sem diálogo com a população, simplesmente impondo a decisão.
O número de vereadores
deve ser proporcional ao número de habitantes do município, afirmação que
também tem base legal.
Ribeirão Preto com 600
mil habitantes tinha 20 vereadores. Após o número de habitantes aumentou para
quase 605 mil. Daí, pergunta-se; esse aumento no número de habitantes pede
aumento no número de vereadores? Se sim, de quantos vereadores?
Às vezes pode ser que realmente
seja bom termos mais vereadores em nossa Câmara Municipal, tendo em vista que mais
vereadores poderiam trazer ao conjunto já estabelecido na Câmara Municipal a
representação das ideologias dos partidos inexistentes na Câmara, como o PSOL e
o PSTU. Quanto mais representatividade mais chance de que todas as ideologias e
concepções sejam ouvidas. Isso faz parte da democracia, isso é democrático.
Contudo, pode ser melhor mantermos
o número de vereadores que temos.
O que vai dizer então se aumentar o
número de vereadores é bom ou ruim?
A conversa. O diálogo aberto com a
população. Audiências públicas com a sociedade. Enfim uma (ou várias) audiência
pública com os interessados em saber se aumentar o número de vereadores é
benéfico ou não para Ribeirão Preto no momento.
E quem são os interessados em saber
disso?
Todos os munícipes de Ribeirão
Preto, onde estão incluídos os vereadores de Ribeirão Preto, mas não só eles.
A remuneração dos vereadores é
oriunda do erário, quem elege os vereadores é o povo, os vereadores são eleitos
para agirem na defesa dos interesses públicos, os vereadores são mandatários e
mandante é o povo, então, nada mais coerente que o próprio povo decida também
essa questão.
O diálogo aberto com a sociedade, a
política participativa, as audiências públicas com as pessoas e as entidades
não são meros postulados teóricos, mas são, de fato, a própria política, e a
melhor delas, porque a política e os políticos que ouvem seus cidadãos não só
respeita os postulados teóricos da lei mas ao mesmo tempo obedece ao dever de
respeito que tem com seu povo, com seus cidadãos, com o mandato que lhes foi
conferido temporariamente por estes mesmos cidadãos, e assim governa melhor
porque os bons governos são resultado de práticas respeitosas, ao revés, nunca
veremos ou falaremos que práticas desrespeitosas redundaram em bons governos.
Contudo os vereadores não quiseram
abrir o assunto para diálogo e conservaram o aumento.
A população se indignou. Petição
pública virtual foi feita para arrecadar assinaturas para a revogação do
aumento. Mas o aumento foi mantido.
Com isso entidades da sociedade
civil, sendo estas a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto
(ACIRP), Centro das Indústrias de São Paulo (CIESP), e 12º Subseção da
Seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se juntaram em
uma excelente iniciativa e encomendaram conjuntamente da Fundação para Pesquisa
e Desenvolvimento da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
USP (FUNDACE), uma pesquisa para saber e formalizar a opinião das pessoas
acerca do aumento de 07 vereadores em nossa Câmara.
Na pesquisa realizada pela FUNDACE ficou
constatado que 91% dos munícipes de Ribeirão Preto não querem o aumento
do número de vereadores em Ribeirão Preto.
Mas a pesquisa não bastou e o
aumento prevaleceu. Inclusive quando do resultado da pesquisa o vereador
Maurílio Romano (PP) disse que “a
pesquisa era falha porque o ser humano é corrupto por natureza”.
Dessa forma a ACIRP, CIESP e OAB
organizaram a campanha “20 vereadores bastam para Ribeirão” e passaram a
distribuir adesivos com esse slogan, fazer
propaganda na televisão (http://youtu.be/w48cPiT8EuY) e a colher assinaturas para um projeto de lei de iniciativa
popular para a revogação do aumento e manutenção do número de 20 vereadores
para Ribeirão.
A campanha foi excelente. Um exemplo de cidadania. Um ótimo trabalho
das entidades que concluiu em pouco mais de 31 mil assinaturas.
Com esse grande número de
assinaturas o projeto de lei para a revogação do aumento foi protocolado na
Câmara. Após, os presidentes da ACIRP, CIESP e OAB, fizeram reuniões com os
vereadores sobre o desfecho da situação.
Depois de várias reuniões, na
sessão da Câmara do dia 15/05/2012 os vereadores e os presidentes das entidades
acordaram pelo número de 22 vereadores na
Câmara.
Depois do acordo e ainda na mesma
sessão os presidentes das entidades elogiaram a postura dos vereadores no
acordo realizado, dizendo dentro outros elogios que aquele acordo representava
uma evolução em nossa situação política e que a democracia havia sido
respeitada.
Mas como? Nossas assinaturas não
legitimaram esse acordo. 31 mil pessoas assinaram para 20 vereadores e não para
22. Em nenhum momento aderimos para 22 vereadores, mas sim, o tempo todo
protestamos por 20 vereadores.
Então como a ACIRP, CIESP e OAB
fizeram um acordo com nossas 31 mil assinaturas para fixar o número de 22
vereadores na Câmara?
Não legitimamos o acordo de 22
vereadores, não assinamos para 22 vereadores, não respondemos a pesquisa para
22 vereadores, mas sim, o tempo todo, 20 vereadores era o que queríamos.
As entidades não podiam ter feito
acordo com as 31 mil assinaturas. Se os vereadores não queriam aderir, acatar a
vontade popular, o que deviam ter feito as entidades era deixar à
responsabilidade dos vereadores o aumento, dizendo “a população quer 20, se os senhores não querem atender, a
responsabilidade é dos senhores, e acordo com essas assinaturas, não fazemos,
porque estamos legitimados a lutar por 20, não mais que isso”.
Em que pese a excelente iniciativa das entidades em fazer a campanha por 20 vereadores para Ribeirão e todos os esforços empreendidos, que reconheço, bem como ressalto, parabenizando-as, lastimavelmente o que tivemos na conclusão de todo o trabalho das entidades foi
traição e não democracia.
Não tinha que ser assim. Não era para ser assim...
Por isso repudio o acordo para 22
vereadores.
Raquel Bencsik Montero
Nenhum comentário:
Postar um comentário