Não é invasão, é
ocupação. Não é bagunça, é exercício da cidadania. Não é contra o proprietário,
é a favor da função social da propriedade. Não é contra o Governo, é a favor de
mais política habitacional. Não é para lucrar, é para necessidade. Não beneficia
só alguns, beneficia toda a cidade.
A terra tem uma função
social que tem que ser atendida. Está na suprema lei do Brasil que toda a
propriedade tem que atender à função social para a qual ela existe. E a função
social da propriedade é, em resumo, servir à pessoa, seja como fonte de
moradia, seja como fonte de renda, sendo que, em ambos os sentidos, a
propriedade deve estar sendo produtiva, e a partir do momento que se torna
improdutiva deve ser reivindicada e sofrer pressão para que se torne produtiva.
A propriedade
improdutiva além de causar ócio e ser desperdício, engendra sofrimentos, sendo
contundente exemplo de sofrimento a falta de moradia.
No Brasil o número de
prédios abandonados quase equivale ao número do déficit habitacional (ócio +
desperdício = sofrimento). Em Ribeirão Preto o atual déficit habitacional é de
cerca de 40 mil moradias. Sendo que Ribeirão está dentro da mais alta
especulação imobiliária, tem centenas de terrenos e prédios desocupados, está
entre os 40 maiores orçamentos do Brasil e é o 30º maior PIB do Brasil.
Ou seja, Ribeirão é uma
cidade muito rica, tem áreas para construção, tem prédios abandonados, e ainda
assim concentra déficit habitacional.
E o dinheiro que
financia moradias populares nem vem do município, vem do governo federal a
maior parte do investimento, através de transferências de receitas tributárias
e do programa Minha Casa Minha Vida.
Qual é o problema então?
O problema é a falta de
vontade política do atual Governo municipal de Ribeirão para agilizar, com
qualidade, o desenvolvimento da política habitacional na cidade.
Porém, diante de falta
de vontade política nós não podemos nos acomodar. Não podemos aceitar tão menos
quando se pode fazer tão mais. Aceitar também é ser conivente. E é pensando
assim que hoje fizemos mais um ato a favor da função social da propriedade e de
mais moradias populares.
Pessoas que aguardam na
fila por moradias descobriram a existência de uma grande área desocupada que
fica próxima ao Aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão. Há décadas a área está
abandonada, não servindo nem a produção, nem a população, ao contrário,
servindo tão somente para prejudicar o direito à moradia diante da especulação
imobiliária que ela causa, e assim faz com que a terra fique cada vez mais cara
em prejuízo daqueles que têm necessidade.
A área é de propriedade
da construtora Stéfani Nogueira, que
alegou ao jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ribeiraopreto/2014/02/1416132-familias-ocupam-terreno-no-jardim-aeroporto-em-ribeirao-preto.shtml),
que está impedida de fazer melhorias no local e comercializar o terreno em
razão do projeto de ampliação do Aeroporto Leite Lopes. E a "história"
de ampliação do aeroporto, por outro lado, se repete há décadas também, e até
agora não se tem nem a ampliação do aeroporto e nem ocupação produtiva por
parte do Governo municipal das áreas desocupadas que lá existem.
E sendo o Governo
contraproducente, nosso silêncio nos torna coniventes. E para não sermos coniventes a
área foi agora ocupada por cerca de 150 famílias que reivindicam moradias
dignas para viver, mas que, todavia, muitas delas, há mais de 20 anos só tem
seus nomes inscritos em cadastros do município para moradias populares. As estacas de madeira já foram colocadas, dividindo assim o espaço para cada barraco ser levantado. O objetivo da ocupação não é o de tirar a área do proprietário, mas sim, de pressionar o Governo municipal a
promover mais moradias populares na cidade.
E o Movimento Pró Moradia e Cidadania está apoiando e assessorando
essas pessoas, porque entende que ocupar essa área é dar efetiva função
social à propriedade, pressionando o Governo municipal a promover mais
moradias populares, e resolvendo, dessa forma, muitas de nossas mazelas sociais. A
terra, antes de tudo, não é um negócio, é um direito.
Raquel Montero
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