O
velho se faz novo
Não
é o que está fora de ti que te impede de fazer. É o que está
dentro.
Buscas
a razão do suplício que te faz tagarelar tolices que cansam tua
fala e agridem a audição alheia, na tentativa
vã de substituir com tuas palavras as omissões de teus atos.
Ligas
o rádio e a televisão para não ouvir o som de teus sentimentos, e
não deixar que ele se comunique com tua consciência e teu coração,
que também já brigaram entre si, e sozinhos agem em monólogos
descompassados e desequilibrados, porque a consciência em litígio
com o coração, pensa sem compreensão, e o coração em litígio
com a consciência, omite ações, transformando-se em atos de iníqua
covardia.
Perambulas
no bar e na farmácia a procura de panacéias milagrosas que te
tragam sono mais pesado que os
pensamentos que te afligem ou estímulo mais forte que o desânimo
que te faz indolente.
Procuras
nas liturgias o perdão para tuas faltas, que permita que continues
na demagogia de teus atos perniciosos, que ganham legitimidade com o
dízimo pago a outrem.
Apontas
as falhas no outro, para tentar
desviar o olhar de teus próprios defeitos, e ai, tropeças mais uma
vez, revelando mais de ti do que do outro.
Reclamas
de teu cansaço, mas tal qual o cavaleiro que abandonou as rédeas do
cavalo, deixastes teu corpo dominarte com as atrações mais
frívolas, que te sugam a energia e desperdiçam teu tempo.
Criticas
o que assistes no mundo, mas não
levantastes ainda da cadeira que te deixa mero expectador.
Sente-se
vítima de traições, mas não
agistes com a mesma lealdade que cobras para ti.
Quer
a doçura do mel, mas teus pensamentos e palavras são atrativos de
moscas.
Pregas
a paz, mas com teu próprio filho gritas ao menor sinal de provocação
e bate diante da desobediência.
Sofres
com a ansiedade que te faz comer além da saciedade, mas repeles
a solidão que te traz os momentos para a meditação, e com ela, a
paciência para viver cada momento por vez.
Entristece-te
com teu trabalho, mas fizestes da escolha de se enveredar pelo
caminho que diz ser a rua de tua ideologia e vocação, mais uma
refém das necessidades do consumo efêmero que alimenta o comércio
de leilões de dignidade.
Não
é o que está fora de ti que te
impede de fazer. É o que está dentro.
Raquel
Montero
Nenhum comentário:
Postar um comentário