Raquel Montero

Raquel Montero

domingo, 8 de setembro de 2013

Afaste da mulher o desrespeito e a violência


Foi concluída agora e entregue à Presidenta Dilma a pesquisa do Senado com a série histórica sobre violência doméstica e familiar contra a mulher. A pesquisa revela que apesar de os últimos anos terem apresentado mudanças positivas há um longo caminho a seguir no combate à violência contra as mulheres.
Com a pesquisa foi possível estimar que 700 mil brasileiras continuam sofrendo agressões, principalmente de seus companheiros, e que 13 milhões e 500 mil de nossas mulheres, correspondentes a 19% da população feminina acima de 16 anos, já foram vítimas de algum tipo de agressão.
Em todo o Brasil, as mulheres de menor nível educacional ainda são as mais agredidas; 71% dessas mulheres relatam aumento de violência em sua vida diária. 31% das vítimas ainda convivem com o agressor, seja marido, companheiro ou outro familiar. A violência física é a predominante, mas o reconhecimento das agressões morais e psicológicas cresceram.
Este ano comemoramos 07 anos da lei conhecida como Maria da Penha. E apesar da proteção trazida pela lei em suas normas, 63% das entrevistadas na pesquisa avaliam que a violência contra as mulheres tem aumentado. O que, talvez, não represente uma contradição, tendo em vista que com as normas protetivas trazidas pela lei, as mulheres que outrora já sofriam violência doméstica e familiar mas não denunciavam, passaram a denunciar com o respaldo da Lei Maria da Penha, ou seja, a violência que sempre existiu só que não era denunciada.
Contudo, o medo ainda é grande inibidor das denúncias de agressões. Na sequência vem a dependência financeira, mais presente, salienta-se, entre mulheres de melhor condição financeira.
Num ranking de 84 países o Brasil é o sétimo no número de assassinatos de mulheres. Na América do Sul só perde para a Colômbia e na Europa, para a Rússia. Os registros brasileiros de assassinatos de mulheres são maiores do que os de todos os países arábes e todos os africanos.
A cada 05 minutos uma mulher é espancada no Brasil. Em 70% dos casos o marido ou namorado que bateu ou matou. Quase 70% das mulheres que procuram atendimento na rede pública de saúde para curar ferimentos foram agredidas dentro de casa.
Durante os anos que trabalhei na Defensoria Pública de São Paulo, na regional de Ribeirão Preto, presenciei e atendi algumas das mulheres que integram esses números. Testemunhei que a dificuldade maior sempre foi a denúncia e o que fazer depois dela, principalmente diante da baixa condição financeira das mulheres que lá atendi. O segundo grande desafio, após o primeiro que foi a denúncia, era fazer com que a Lei Maria da Penha fosse cumprida pelas delegacias de polícia com a tomada das providências para proteger a mulher e na maioria das vezes, também os filhos.
Nesses atendimentos era necessário antes de tudo transmitir o apoio emocional que essas mulheres estão precisando numa situação tão delicada e torturante. Agir com o coração e transmitir apoio era como dar voz e força para a mulher registrar a denúncia.
Tão só a existência da Lei Maria da Penha não vai fazer com que as agressões às mulheres acabem. É preciso que cada um de nós, como cidadãos e autoridades, façamos a nossa parte na denúncia e no apoio. É dever da sociedade banir com a agressão doméstica e familiar contra a mulher. Reconhecer as agressões, muitas vezes veladas, e denunciá-las, é a única maneira de superá-las.
Somos todos partícipes da mesma sociedade e, desse modo, todos nós colheremos os frutos produzidos socialmente, sejam eles doces ou amargos. A agressão à uma mulher não é só a agressão à uma mulher, é a agressão à todo o gênero feminino, aos filhos e às gerações futuras que geradas com violência terão grande probabilidade de também reproduzirem violência.

Raquel Montero

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