Quando criança, fazendo
um trabalho de escola, eu tinha que falar sobre a mulher na Idade Média.
Pesquisei e não encontrei qualquer menção sobre as mulheres neste período da
história, de maneira que não havia o que eu colocar em meu trabalho. Solicitei
ajuda ao meu irmão mais velho e, em tom de brincadeira, ele respondeu;
"você não encontrou nada porque não existia mulher na Idade Média".
Ele quis brincar comigo,
mas cheguei a acreditar no que ele disse, tamanha a omissão praticada
historicamente contra a mulher e que abrangeu, inclusive, a omissão da palavra
"mulher" em livros.
Temos omissões e ações
discriminatórias que fazem com que ainda hoje (desde a Idade Média), sejamos
consideradas menos em grau de importância nos diferentes trabalhos e,
notadamente, em cargos de direção. E com isso nossa participação nesses cargos
ainda é muito pequena e muito menor que de homens, muito embora sejamos mais no
total da população brasileira.
Há apenas dois anos a
primeira mulher ocupou espaço na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Dos 513
parlamentares na Câmara dos Deputados, somente 46 são deputadas. Dos 81
parlamentares no Senado, somente 08 são senadoras. Em Ribeirão Preto, dos 22
parlamentares, somente 02 são vereadoras. A deputada federal Manuela D´Ávila é
a única líder de bancada da Câmara dos Deputados. Dilma é a primeira Presidenta
da República. A Prefeita Dárcy Vera é a primeira Prefeita de Ribeirão Preto.
Todavia, quando a
disputa ou escolha para um cargo se dá, realmente, por critério de melhor
técnica ou conhecimento, nós, mulheres, lideramos a ocupação nos cargos de
trabalho, exemplo enfático disso ocorre nos concursos públicos.
Antes era "pátrio
poder" e só a partir de 2.002 passou a ser denominado "poder
familiar" o poder do pai e da mãe sobre os filhos. Houve época em que a
mulher não podia votar, assim como também não lhe era permitido separar-se de
seu marido.
Reconhecer que existem
diferenças e preconceitos velados é a única maneira de impedi-los.
Muitos ainda insistem em negar as
discriminações, outros insistem em mantê-las, e existe também o que considero
como mais triste nessa situação, isto é, mulheres não enxergarem as diferenças
ou não se indignarem com elas, não reivindicando seus espaços junto com os
homens, aceitando as discriminações que as conservam dirigidas ou excluídas.
Clarice Lispector em A bela e a fera, escreveu que "a
independência da mulher passa pela busca do próprio eu, e que cada pessoa tem
sua própria chave".
Se tem mulheres ocupando
espaços nos diferentes trabalhos e diferentes atuações, tem-se também a
constatação de que é possível chegar e fazer, sobretudo com dificuldades. E se
bloqueios e discriminações existem, é ai que temos que nos esforçar ainda mais,
porque não estar num lugar porque não queremos é uma escolha, mas não estar num
lugar porque nos boicotaram ou discriminaram, é arbitrariedade e, por
consequência, injustiça. E contra injustiça não devemos nos calar, devemos
agir. Não é com omissão que chegaremos e transformaremos a realidade, é com
muita ação.
Quero dizer então, que a
primeira a protestar contra a discriminação deve ser a própria mulher, numa
atitude de ação e não omissão. Aquele que sente a ferida sabe melhor denunciar
como, onde e quanto ela dói. Não devemos esperar que outro faça isso por nós,
isso seria deixar nos fazer substituídas de novo. Em casa, no trabalho, nos
relacionamentos, temos que ocupar o espaço que é da mulher, nem melhor, nem
pior que o do homem, um espaço igual. Todos nós somos uma individualidade, que
coexiste coletivamente sem ter poder e direito de anular o outro, portanto, a
mulher não é substituível, ela é parte da sociedade e a sua diferença com o
homem traz a complementação necessária para que possamos viver em harmonia em
todos os aspectos.
O trabalho sobre a Idade
Média me deixou, num primeiro momento, catatônica, após, me deixou refletindo,
depois, a reflexão me trouxe a indignação e com ela o ideal de fazer uma outra
história. Uma história em que, mulher e
homem, tenham sempre as mesmas chances de serem protagonistas, e que as minhas
iguais sempre reivindiquem pela garantia dessa igualdade.
Raquel Montero
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