O direito à moradia
é um direito inerente à pessoa. Não precisaria ser repetido por
ninguém. Porém, reforçando o direito natural a Constituição
Federal (CF) fez questão de prevê-lo expressamente em seu artigo 5º
e 6º.
É a moradia,
portanto, um direito natural, porque inerente à uma vida digna de
todos os seres humanos. Uma vida plena e integral abrange uma vida
com moradia. É na moradia que constituímos família, que crescemos,
que dormimos, é para onde regressamos para o repouso diário, onde
nos preparamos para ir para o trabalho, onde nos refugiamos, onde nos
abrigamos, e, amiúde, onde trabalhamos nossa fonte de renda. É a
moradia também um direito constitucional, porque previsto
expressamente na nossa lei maior (CF), como decorrência de buscar
garantir um direito natural elementar e essencial para uma efetiva
vida digna.
E para buscar
garantir também que a propriedade sirva à pessoa e não a pessoa
sirva à propriedade, a CF estabeleceu que a propriedade deve cumprir
sua função social. Função essa de, como dito, servir à pessoa e
não o contrário.
A função social da
propriedade é regra, qualquer outra função dada à propriedade
será especulativa, privilegiando o lucro e não o direito à
moradia.
No entanto, ainda
vemos até hoje pessoas insistirem na especulação imobiliária, e
não permitindo assim, o acesso de todos à moradia. No Brasil o
número de moradias vazias (6 milhões) é quase igual ao déficit
habitacional (6, 273 milhões). Eis a especulação. Eis a violência.
Por outro lado
verificamos iniciativas governamentais que apresentam soluções à
este problema. Nessa seara está o programa do governo federal, Minha
Casa Minha Vida, criado em 2.009 pelo governo Lula, e que
desde que foi criado já proporcional 1 milhão de moradias, e até
2.014 a promessa é de proporcionar mais 2 milhões. É o programa
que democratizou o acesso à moradia.
Solução para o
déficit habitacional existe, várias inclusive, porém, infelizmente
existem interesses que deturpam a solução e acabam por preservar o
déficit. E o mercado da construção civil é o grande protagonista
desse caos.
Ribeirão Preto
também tem seu déficit habitacional. Até 2.010 era de 30 mil
casas. 4% da população de Ribeirão morando em favelas.
Algumas
famílias instaladas nas favelas de Ribeirão foram levadas para
casas financiadas por programas sociais dos governos, federal e
estadual, e algumas foram expulsas com força policial, e deixadas ao
relento.
A
expulsão mais estarrecedora que tivemos ocorreu em 05/07/2011, na
Favela da Família, conforme relatei neste blog
(http://raquelbencsikmontero.blogspot.com.br/2012/01/retorno-favela-familias-expulsas-de.html)
Foi diante dessa
truculenta reintegração de posse, e assim diante da selvagem desigualdade
social que vivemos, que o Movimento Pró Moradia e Cidadania,
nasceu. Num primeiro momento para que a violenta reintegração
de posse que aconteceu na Favela da Família nunca mais
acontecesse em outra favela, e, após, foi se fortalecendo na defesa
de outras causas relacionadas a moradia e a cidadania, como é o caso
do assunto concernente à ampliação do aeroporto Leite Lopes (LL),
que também está diretamente ligado à remoção das famílias das
áreas próximas ao aeroporto.
Nosso movimento nasceu da indignação e tristeza de algumas pessoas, que, porém,
não ficaram só na tristeza e na indignação, mas também quiseram
exercer o poder de cidadania que todos nós temos, e que com ele
podemos provocar profundas transformações sociais.
Durante esse tempo
de existência a atuação do movimento contribuiu para muitas
conquistas no tema da moradia (veja outras publicações http://raquelbencsikmontero.blogspot.com.br/2013/05/aeroporto-moradia-e-acoes-judiciais.html), e a mais recente se refere a remoção
da comunidade da favela João Pessoa para o mais novo conjunto
habitacional a ser entregue em Ribeirão, ato confirmado em publicação feita neste mês no Diário Oficial do Município. São mais de 310 pessoas a
serem contempladas com as novas moradias.
Foram
diversas reuniões e intervenções que realizamos desde final de 2.011 até o presente momento, e até que chegássemos nestas moradias,
onde se inclui reuniões com as comunidades, com a Defensoria
Pública Estadual, Ministério Público Estadual, Governo Municipal e
com o Desenvolvimento Rodoviário S/A (DERSA), empresa responsável
pela anunciada ampliação do aeroporto LL.
Nossa atuação
também contribuiu, através de denúncias e representações na
Defensoria Pública e no Ministério Público, que outra comunidade
fosse beneficiada, a favela Vila Brasil. Ambas próximas ao
aeroporto LL. Juntas, essas comunidades somam mais de três centenas
de famílias. São três novas centenas de famílias a conseguirem
concretizar o acesso à moradia digna. Agora são mais de três centenas de famílias que não serão mais moradoras de favelas.
Sempre
houve um esforço constante e inabalável do movimento em prol da
tarefa assumida; buscar moradia digna para os moradores das
favelas João
Pessoa e Vila
Brasil, e impedir
a ampliação do aeroporto LL, cujas obras estão fadadas ao
desperdício de dinheiro público
e a ineficiência, em razão do contexto de irregularidades em que se
quer fazer essa ampliação.
Agora
essa conquista das moradias para essas comunidades vem com gosto de mais um dever cumprido.
Raquel Montero
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