Fotos: Paulo Honório
Quando algumas
experiências foram vividas, quando alguns desafios foram superados, quando
algumas lições foram aprendidas, é o momento de buscar novas experiências,
novos desafios e novos aprendizados.
Enquanto ainda existem
pessoas sofrendo pela exclusão social nas ruas, nas filas e nas periferias
distantes do centro desenvolvido e urbanizado, sentindo na alma e no corpo as
feridas dilaceradas pelo abandono, pela desídia e pela negligência, ainda é
tempo de lutar, de persistir, de engajar e de reivindicar.
Temos leis das mais
avançadas do mundo. Temos nessas leis instrumentos e medidas para dar respostas
e curas. Temos, para manusear esses instrumentos, capacidade e força. Resta-nos
então, fazer para ver acontecer, agir para não ser mero espectador, mobilizar
para unir e aumentar as forças.
Assim, então, nasce mais
uma causa, gestada na defesa do direito à moradia para os moradores de favelas
de Ribeirão Preto. No parto da ideia, ela despontou como mais uma resposta ao
déficit habitacional, e diante dos obstáculos que encontramos na atuação das
favelas próximas ao aeroporto, se propõe a ser uma resposta mais eloquente,
ágil e eficaz.
Trata-se da autogestão
habitacional. Projeto proveniente do programa Minha Casa Minha Vida - Entidades, criado durante o governo Lula, em 2009. Tal programa destina
verbas federais para construção de moradias populares a serem providas através
de entidades criadas pelos próprios futuros moradores das casas. Nesse caso
substitui-se o empresário construtor civil, pela entidade social que pode ser
formada pelos próprios destinatários das futuras casas ou por outras pessoas
nas quais os destinatários das casas podem se aproveitar da existência jurídica
e legal da entidade formada por outras pessoas, substituindo-se assim também, o
lucro da empresa pelo valor mais baixo da moradia, já que ai as moradias não
serão mais construídas pelas construtoras particulares, mas sim, através da
entidade que não tem fins lucrativos, mas sociais.
É mais uma forma de se
democratizar o acesso à moradia e de se emancipar os compromissários
compradores. Estes contratam, por eles
mesmos, todo o serviço técnico para a construção das moradias, desde o projeto
até a execução e entrega da obra. E o dinheiro para remunerar todos esses
serviços está dentro da verba federal do programa, o qual serve para financiar
a construção das moradias. E nesse financiamento as taxas de juros e outros
dispêndios são imensamente menores do que as cobradas pelo empresário que
comercializa as casas que constrói.
Portanto, se existe o
programa, a lei disciplinando o programa e verbas federais que subsidiam o
programa Minha Casa Minha Vida -
Entidades, temos que nos apoderar deste benefício para que ele cumpra com a
função social para o qual foi criado, isto é, ser um instrumento para
contribuir para a democratização do acesso à moradia.
Inclusive, já temos
várias experiências bem sucedidas através deste programa. Muitas bem próximas
de Ribeirão, e mais próximas da capital do nosso estado. E considerando essas
experiências, aliadas ao grande déficit habitacional que ainda temos em
Ribeirão (aproximadamente 30 mil casas), nós, do Movimento Pró Moradia e Cidadania, também queremos fazer parte
deste elenco de boas experiências, promovendo aqui em Ribeirão o usufruto deste
programa para contemplar todos aqueles que ainda padecem com a falta de um
lugar para morar e construir um lar. Contemplando, concomitantemente, o desenvolvimento e
progresso da cidade, já que não há cidade bem desenvolvida com segregação
social.
Nessa sintonia criamos
em Ribeirão um grupo de autogestão habitacional, composto em sua maioria de
pessoas que não aguentam mais pagar aluguel para ter onde morar, e com o
dinheiro que sobra depois do pagamento do aluguel, sobreviver com resquícios de
necessidades básicas.
Eu tenho certeza do
poder criador que todos nós temos. Tenho certeza também da consecução dos
objetivos bem planejados e organizados, nutridos com engajamento e
comprometimento. Por isso acredito que diante dos instrumentos que temos e da
organização que estamos construindo, o caminho "de casa", está cada
vez menor. Dou boas vindas à este projeto. Que se realize da melhor forma.
Raquel Montero
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