Raquel Montero

Raquel Montero

quinta-feira, 14 de maio de 2015

No site do PT de Ribeirão, artigo sobre o Jardim Canadá

   No site do PT de Ribeirão, artigo que escrevi sobre os muros que estão sendo construídos nas ruas do Jardim Canadá, na tentativa de transformar o bairro em um condomínio fechado. Aproveito e convido mais uma vez tod@s a conhecerem o site do PT de Ribeirão;

ARTIGOS / RAQUEL MONTERO

NO JARDIM CANADÁ, O RIDÍCULO DO INDIVIDUALISMO

  
No Jardim Canadá, o ridículo do individualismo
(foto Taiga Casarine, G1)
Escreveu Karl Marx e Friederich Engels que “o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.
Essa é a máxima do verdadeiro cristão também, que segue Jesus, o Messias enviado pelo Pai para dar lições de amor à humanidade. Em uma dessas lições, Jesus chama à mesa e reparte o pão com seus iguais.
práxis, no entanto, às vezes esbarra em interesses que fazem rasgar a teoria fazendo ela restar como demagogia.
A convivência nos mostra que, ela mesma, convivência, não é fácil. A vida em sociedade nos traz muitos desafios a transpor. Ao mesmo tempo, a falta da convivência não nos propicia a evolução, porque é na própria convivência que encontramos as lições necessárias para a também necessária evolução.
Nos extremos sempre existe um ponto que separa um e outro. Este é o almejado equilíbrio, que não se constrói com exclusão, nem sem a inclusão. Eis o ensinamento com a divisão do pão, de Jesus, e a condição para o livre desenvolvimento de todos, de Marx e Engels.
Nos moldes das propostas deixados pelas três pessoas aqui citadas, para ficarmos em apenas três exemplos dos muitos deixados pela História com a mesma mensagem, o que faz uma pessoa pensar que a violência que teme será extirpada com sua própria segregação do resto da sociedade através de muros, grades, cercas, etc.? A violência do lado de fora do muro deixará de existir, simplesmente com a presença do muro?
O problema da violência se resolve com muros, guaritas, cercas e outros apetrechos produzidos pela indústria que lucra com a própria violência?
Será a violência um problema social onde todos têm o dever de contribuir para cessá-la ou será a violência um problema criado pelo próprio infrator que comete o crime e todas as demais pessoas da sociedade estão isentas de qualquer participação no fruto da sociedade?
Esticando um pouco mais o individualismo contido nesse pensamento, o que faz aquele que não pode blindar seu carro e sua casa, dentro da mesma sociedade daquele que pode blindar?
Essas reflexões me vieram à cabeça assistindo ao episódio recente promovido pelos moradores do Jardim Canadá, bairro da zona sul de Ribeirão Preto, que aprovaram parte do fechamento do bairro, com muros e guaritas, para transformá-lo em um condomínio, sob o fundamento de que estão agindo por medo da violência.
Como se não bastasse o pensamento individualista da segregação, o fato praticado pela Associação de Moradores do Jardim Canadá, aprovado por cerca de 80% dos moradores do bairro, ainda carrega vício de inconstitucionalidade, já que estão promovendo a construção de muros e guaritas em cerca de 12 ruas e 21 quarteirões do bairro, baseados em uma lei municipal (Lei Complementar Municipal nº 2462 de 2011), sendo que a competência para legislar sobre condomínios é da União, e não do Município. O Ministério Público já ajuizou ação civil pública para pleitear a demolição dos muros e das guaritas, sob o fundamento da inconstitucionalidade da lei municipal aludida.
A Associação de Moradores do Jardim Canadá, procurada pela imprensa, em nenhum momento quis se manifestar para defender seus atos.
Finalizo este artigo com uma parte da letra da música d’O Rappa, que sempre me lembro quando vejo os condomínios já construídos, e os que estão sendo construídos, pelas cidades: "as grades do condomínio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que tá nessa prisão..."
Essa é a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz. Repartir o pão é fazer com que todos se alimentem, e com todos alimentados não haverá esfomeados. É na falta de oportunidades que jaz a maior causa da criminalidade. É contra isso que temos que lutar, é contra isso que temos que nos unir. Muros separam, pontes unem.
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Raquel Montero - Advogada 

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