Foto: Milena Aurea/A Cidade
Uma boa política se faz com projetos, ideias e debates,
ainda que se possa considerar a ideia ou projeto do outro ruim, mas, o mais
importante é debater os projetos e as ideias visando aprofundá-los e chegar no
melhor possível. Isso não é só fazer uma boa política, é também exercer a
democracia em sua essência.
Uma má política, ao contrário, não tem ideias e nem
projetos e se faz, amiúde, com golpes, estratagemas, ausência de debates
(porque não há ideias nem projetos), e no mais comum dos adjetivos com "baixaria",
e, pior, com violência.
Num dos aspectos mais vis da violência, se ataca o outro
por discordar de suas ideias, ou pelo o outro ter ideias e projetos e a pessoa
que discorda não tê-los, pelo outro ser de outro grupo/partido/religião/etc. Ai
já não se quer nem mais ouvir, dialogar, que dirá debater. O outro, que não
pensa do mesmo jeito, está errado. Quanto respeito e tolerância à diversidade!
Os que se dizem cristãos religiosos, nessa intolerância,
desrespeitam, inclusive, um dos mandamentos, que, na sua religião, deveriam
seguir. Muitas vezes são os mesmos que festejam o Natal e desejam um feliz
Natal para todos. Diz o mandamento: "NÃO LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO".
E ai, sob este mandamento, assistimos pessoas difamando,
caluniando, injuriando seus iguais. É o que
está acontecendo com o ex-Presidente Lula.
Para ficar num exemplo bem local, em Ribeirão Preto, a
exemplo do que vem acontecendo em manifestações pelo País, a imagem do
ex-Presidente, veja, um PRESIDENTE DO BRASIL, vem sendo reproduzida em bonecos
infláveis com roupas de presidiário. Na última sessão da Câmara de Vereadores
de Ribeirão tais bonecos estavam lá, sendo segurados por pessoas que
compareceram na sessão.
Ainda que Lula tivesse, algum dia, sido condenado e preso,
o fato já seria um crime, por afrontar a honra de uma pessoa. Isso está em
nossas leis nacionais e em diversos pactos e convenções internacionais de
direitos humanos nos quais o Brasil é signatário.
Ou seja, qualquer pessoa que tenha sido, de fato, condenada
e presa pelo Judiciário, não deixou de merecer respeito da sociedade. A pessoa,
qualquer que seja, que tenha sido condenada pela prática de uma infração penal
e presa por tal razão, não deixou de ser gente, e, assim, de merecer respeito. Tal conduta, por
sua vez, faz parte de outros dois mandamentos cristãos: "NÃO JULGAR",
"AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO". Não é?
Outrossim, além de fazer parte de mandamentos cristãos, que
são, na religião, leis, e assim devem ser respeitadas por seus seguidores, faz
parte também de emblemática passagem do livro sagrado dos cristãos. Está na
Bíblia que devemos perdoar sempre, não sete vezes, mais setenta vezes sete. Não
é?
Pois bem, mas Lula nunca foi condenado e, desse modo,
preso. Nunca foi! O que torna a atitude mais deplorável ainda. Por que, então,
a imagem do ex-Presidente numa roupa de presidiário? Quando Lula foi condenado?
Quando Lula foi preso? NUNCA!
Quando vi a foto tirada por um veículo de comunicação de
Ribeirão, que é a foto que acompanha este texto, além de muito indignada, o
primeiro sentimento que tive foi de tristeza. É crime o que estão fazendo com
Lula. Está lá no Código Penal Brasileiro; crime contra a honra. Essas pessoas
sim, portanto, nos termos de nossa legislação, é que podem ser processadas
criminalmente, julgadas e condenadas pelo Judiciário. Ainda assim, contudo, não
devem ser vítimas de qualquer atitude desrespeitosa e desacreditadas para novas
oportunidades, nunca. Isso é amar o próximo. Não é?
Há muito tempo tentam destruir o Lula, dizendo que ele é um
“ignorante que não fez faculdade, um cachaceiro”, ou seja, uma pessoa que
jamais deveria ter ousado chegar à Presidência da República, devendo permanecer
como torneiro mecânico, porque peão nasceu pra ser peão e nada mais.
Já chegaram até a pedir, não a cadeia, mas a própria morte
física do ex-Presidente.
Quanto preconceito, desrespeito e ódio.
A
tristeza que senti ao ver a foto na imprensa de Ribeirão foi decorrente do pensamento
do quanto que ainda temos que evoluir como seres humanos, notadamente, no
aspecto "respeito". Pensei nas
contradições das pregações com os atos.
Ao
mesmo tempo, com os fôlegos de esperança que nos tomam, me lembrei da atitude
de Stuart Angel, um militante que morreu durante a ditadura no Brasil enquanto
estava defendendo direitos humanos. Ele escreveu para sua mãe, um pouco antes
de ser assassinado:
"Mãe,
você me pergunta se eu acredito em Deus. Eu te pergunto; que Deus?
Tem sido minha missão te mostrar Deus no
homem, pois somente no homem ele pode existir. Não há homem pobre ou
insignificante que pareça ser que não tenha uma missão.
Todo homem por si só influencia a
natureza do futuro. Através de nossas vidas nós criamos ações que resultam na
multiplicação de reações.
Esse poder que todos nós possuímos, esse poder
de mudar o curso da história, é o poder de Deus.
Confrontado com essa responsabilidade divina,
eu me curvo diante do Deus dentro de mim."
É nessa centelha divina que acredito existir
em todos, e que, embora chamuscada em erros e contradições, irá aflorar em
todos, fazendo com que todos sejam mais responsáveis e respeitosos em suas ações
que resultam na multiplicação de reações.
Raquel Montero
Nenhum comentário:
Postar um comentário