Raquel Montero

Raquel Montero

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Mais amor, gente

Foto: Milena Aurea/A Cidade


Uma boa política se faz com projetos, ideias e debates, ainda que se possa considerar a ideia ou projeto do outro ruim, mas, o mais importante é debater os projetos e as ideias visando aprofundá-los e chegar no melhor possível. Isso não é só fazer uma boa política, é também exercer a democracia em sua essência.

Uma má política, ao contrário, não tem ideias e nem projetos e se faz, amiúde, com golpes, estratagemas, ausência de debates (porque não há ideias nem projetos), e no mais comum dos adjetivos com "baixaria", e, pior, com violência.

Num dos aspectos mais vis da violência, se ataca o outro por discordar de suas ideias, ou pelo o outro ter ideias e projetos e a pessoa que discorda não tê-los, pelo outro ser de outro grupo/partido/religião/etc. Ai já não se quer nem mais ouvir, dialogar, que dirá debater. O outro, que não pensa do mesmo jeito, está errado. Quanto respeito e tolerância à diversidade!

Os que se dizem cristãos religiosos, nessa intolerância, desrespeitam, inclusive, um dos mandamentos, que, na sua religião, deveriam seguir. Muitas vezes são os mesmos que festejam o Natal e desejam um feliz Natal para todos. Diz o mandamento: "NÃO LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO".

E ai, sob este mandamento, assistimos pessoas difamando, caluniando, injuriando seus iguais. É  o que está acontecendo com o ex-Presidente Lula.

Para ficar num exemplo bem local, em Ribeirão Preto, a exemplo do que vem acontecendo em manifestações pelo País, a imagem do ex-Presidente, veja, um PRESIDENTE DO BRASIL, vem sendo reproduzida em bonecos infláveis com roupas de presidiário. Na última sessão da Câmara de Vereadores de Ribeirão tais bonecos estavam lá, sendo segurados por pessoas que compareceram na sessão.

Ainda que Lula tivesse, algum dia, sido condenado e preso, o fato já seria um crime, por afrontar a honra de uma pessoa. Isso está em nossas leis nacionais e em diversos pactos e convenções internacionais de direitos humanos nos quais o Brasil é signatário.

Ou seja, qualquer pessoa que tenha sido, de fato, condenada e presa pelo Judiciário, não deixou de merecer respeito da sociedade. A pessoa, qualquer que seja, que tenha sido condenada pela prática de uma infração penal e presa por tal razão, não deixou de ser gente, e,  assim, de merecer respeito. Tal conduta, por sua vez, faz parte de outros dois mandamentos cristãos: "NÃO JULGAR", "AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO". Não é?

Outrossim, além de fazer parte de mandamentos cristãos, que são, na religião, leis, e assim devem ser respeitadas por seus seguidores, faz parte também de emblemática passagem do livro sagrado dos cristãos. Está na Bíblia que devemos perdoar sempre, não sete vezes, mais setenta vezes sete. Não é?

Pois bem, mas Lula nunca foi condenado e, desse modo, preso. Nunca foi! O que torna a atitude mais deplorável ainda. Por que, então, a imagem do ex-Presidente numa roupa de presidiário? Quando Lula foi condenado? Quando Lula foi preso? NUNCA!

Quando vi a foto tirada por um veículo de comunicação de Ribeirão, que é a foto que acompanha este texto, além de muito indignada, o primeiro sentimento que tive foi de tristeza. É crime o que estão fazendo com Lula. Está lá no Código Penal Brasileiro; crime contra a honra. Essas pessoas sim, portanto, nos termos de nossa legislação, é que podem ser processadas criminalmente, julgadas e condenadas pelo Judiciário. Ainda assim, contudo, não devem ser vítimas de qualquer atitude desrespeitosa e desacreditadas para novas oportunidades, nunca. Isso é amar o próximo. Não é?

Há muito tempo tentam destruir o Lula, dizendo que ele é um “ignorante que não fez faculdade, um cachaceiro”, ou seja, uma pessoa que jamais deveria ter ousado chegar à Presidência da República, devendo permanecer como torneiro mecânico, porque peão nasceu pra ser peão e nada mais.
Já chegaram até a pedir, não a cadeia, mas a própria morte física do ex-Presidente.
Quanto preconceito, desrespeito e ódio.
A tristeza que senti ao ver a foto na imprensa de Ribeirão foi decorrente do pensamento do quanto que ainda temos que evoluir como seres humanos, notadamente, no aspecto "respeito".  Pensei nas contradições das pregações com os atos.
Ao mesmo tempo, com os fôlegos de esperança que nos tomam, me lembrei da atitude de Stuart Angel, um militante que morreu durante a ditadura no Brasil enquanto estava defendendo direitos humanos. Ele escreveu para sua mãe, um pouco antes de ser assassinado:
"Mãe, você me pergunta se eu acredito em Deus. Eu te pergunto; que Deus?
Tem sido minha missão te mostrar Deus no homem, pois somente no homem ele pode existir. Não há homem pobre ou insignificante que pareça ser que não tenha uma missão.
Todo homem por si só influencia a natureza do futuro. Através de nossas vidas nós criamos ações que resultam na multiplicação de reações.
Esse poder que todos nós possuímos, esse poder de mudar o curso da história, é o poder de Deus.
Confrontado com essa responsabilidade divina, eu me curvo diante do Deus dentro de mim."

É nessa centelha divina que acredito existir em todos, e que, embora chamuscada em erros e contradições, irá aflorar em todos, fazendo com que todos sejam mais responsáveis e respeitosos em suas ações que resultam na multiplicação de reações.


Raquel Montero

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