Recentemente,
em uma audiência de tentativa de conciliação sobre uma ação de guarda movida
pelo cliente para o qual advogo, vivenciei situação deprimente, a qual eu nunca
mais quero vivenciar. Na ação, meu cliente é o pai de uma criança e pretende
com a ação a guarda compartilhada da criança.
Antes de
ajuizarmos a ação fiz algo que sempre faço e tenho como diretriz para a
advocacia, ou seja, tentei um consenso entre o pai e a mãe. O consenso,
contudo, não foi possível e restou a ação judicial como via para tentar
resolver o conflito entre as partes.
Por razões
plausíveis meu cliente pretendeu regularizar a guarda compartilhada da criança,
porque, na prática, pai e mãe já a exerciam. No entanto, a mãe não concordou
com a formalização e o conflito se instaurou. Isso acontece nas separações dos
casais. Com a separação vem mudanças e até nos adaptarmos a elas alguns
conflitos podem acontecer. Isso não me surpreende nem me chateia, ao contrário,
vejo como algo normal em decorrência de mudanças, e algo que também é
absolutamente possível de ser apaziguado com o tempo, diálogo e vontade. Minha
tristeza, e também indignação, veio com a conciliadora que atendeu meu cliente
e a mãe da criança no forum.
Meu cliente, é
não é porque é meu cliente, mas porque é fato, apresentava, sobre vários
aspectos, melhores condições do que a mãe para estar com a criança, inclusive
mais tempo para isso. Até por apresentar melhores condições é que aceite defendê-lo,
por acreditar que a guarda que ele pretende realmente é o melhor para a
criança. Ao mesmo tempo, em nenhum momento meu cliente quis atrapalhar ou
censurar o convívio da criança com a mãe, ao contrário, quis a guarda
compartilhada justamente para dividir a guarda com mãe, senão desde o início
iria requerer a guarda unilateral. Meu cliente sempre valorizou a mãe da
criança e prestigiou sua importância na criação da criança, fez isso inclusive,
durante a citada audiência de conciliação. Meu cliente sempre entendeu que a
criança precisa de ambos, pai e mãe, e que um não exclui o outro, ao revés, se
completam na criação dos filhos. Todavia, não é assim que entendeu ou entende a
conciliadora que os atendeu na audiência.
No resumo da
audiência, após ouvir as partes, e, como eu disse, mesmo meu cliente
apresentando melhores condições para cuidar da criança, a conciliadora disse
para mim;
"mas ela é
mãe e quer ficar com a criança...",
então eu disse;
"sim, e meu cliente é pai, e também quer ficar com a criança...".
A conciliadora;
"sim, Dra., mas ela é mãe...",
e eu;
"sim, e ele é pai...",
e então a
conciliadora; "sim, Dra., mas, mãe é mãe...",
e eu;
"sim, Dra., e pai é pai, uma figura não exclui a outra, ambos são necessários
na criação da criança...".
A conciliadora;
"sim, Dra., mas a mãe tem preferência...",
e eu; "tem?
A senhora se baseia onde para afirmar isso?",
a conciliadora;
"ah, Dra., é a prática isso...",
eu; "Dra.,
eu me respaldo na lei para defender meu cliente e para tanto temos na nossa lei
maior, a Constituição Federal, igualdade de direitos e deveres entre os pais
(art. 226, § 5º), na sequência, a mesma igualdade pormenorizada pelo Código
Civil (art. 1.566, 1.583 e 1.584), se a senhora ignora essas previsões legais
ou a desrespeita, da parte de meu cliente essa audiência pode ser encerrada, e
ainda que não houvessem essas previsões legais de igualdade de direitos e
deveres entre pai e mãe, por ser algo tão natural da vida, se a senhora entende
que há preferência entre uma das figuras, pai ou mãe, também por este motivo,
da parte de meu cliente, essa audiência pode ser encerrada, porque não
compactuamos com esse entendimento."
A audiência foi
encerrada sem acordo e o processo prossegue no forum. Triste não é ver o
conflito, que faz parte da vida e se o tratamos com vontade de resolvê-lo, ele
sempre acaba nos lapidando. Triste e deprimente é ver como pessoas que têm o
dever de intervir no conflito para dissolvê-lo, acabam o alimentando. Triste é
ver como nossas vidas em sociedade podem ser tão prejudicadas por aqueles que têm
o dever de beneficiá-las, e como esses prejuízos podem traçar destinos tão
diferentes e tão maléficos nas pessoas.
Raquel Montero
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