Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 24.09.2020. No Jornal Tribuna o artigo também pode ser acessado na internet através do link:
https://www.tribunaribeirao.com.br/site/homens-e-mulheres-pandemia-desequilibrou-a-balanca/
Já tem muitas pesquisas sobre o
assunto e que sempre atestam o mesmo resultado; no mundo, mesmo em países
desenvolvidos, mulheres gastam quase o dobro do tempo que os homens em serviços
domésticos e trabalho não remunerado (faxinar e cuidar de filhos seriam dois
desses trabalhos sem remuneração que as mulheres fazem a mais que os homens). E
as mulheres fazem isso mesmo tendo uma jornada de trabalho remunerada similar à
dos homens: homens trabalham oito horas em média e mulheres sete horas e 45
minutos. A diferença é que desse conjunto de horas os homens trabalham 02 horas
e 21 minutos sem remuneração e as mulheres 04 horas e 30 minutos (dados da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE).
No Brasil, segundo dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) essa diferença é ainda maior;
as mulheres brasileiras gastam em média 26,6 horas semanais com trabalho
doméstico enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas.
O que tem de novidade nisso? A
pandemia.
A pandemia aumentou o peso na
balança para o lado das mulheres. Foi o que apurou pesquisa da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) realizada com mais de 40 mil pessoas que responderam a um
questionário pela internet sobre as mudanças vividas durante o isolamento
social no período da pandemia.
As mulheres relataram mais
problemas no estado emocional. As que se sentem tristes ou frequentemente
deprimidas foram 50% das entrevistadas, enquanto para os homens esse percentual
chegou a 30%. O índice de quem disse ter sentido ansiedade ou nervosismo no
período foi de 60% para as mulheres, chegando a 43% entre os homens.
Esses resultados podem ser
explicados, entre outros fatores, pelo excesso de trabalho desempenhado pelas
mulheres durante a pandemia: 26,4% das mulheres afirmam que o trabalho
doméstico aumentou muito durante a pandemia, percentual mais de duas vezes
maior que o dos homens, 13,1%. E esse aumento de trabalhos domésticos implica
em dificuldades maiores também para a execução de atividades relacionadas ao
emprego de forma geral, em especial quando há trabalho remunerado desempenhado
em casa.
É uma mãe, uma filha, uma avó,
uma neta, uma tia, uma sobrinha, uma vizinha, uma amiga, uma colega de
trabalho, sempre é possível ver esse desgaste, esse desequilíbrio na balança,
essa injustiça, essa, é dizer, também, essa exploração.
É, sim, injustiça e exploração.
Dentro de uma casa, de um lar, em que pessoas convivem coletivamente, o casal,
ascendentes, descendentes e ou outros parentes, todos sabem que os afazeres de
uma casa não se realizam por si, para isso é necessário que alguém os execute,
e se não é a própria pessoa que está fazendo, oras, é a outra, claro. E por que
quem não faz se acha no direito de não fazer e acha justo que só a outra pessoa
faça ou faça bem mais?
Meninos e homens, crianças e
adultos, não são capazes de limpar a casa, cuidar da roupa, fazer comida e
auxiliar as pessoas idosas da família? Por que essas tarefas só cabem às
mulheres e as meninas das famílias?
Se meninos e homens não são
capazes disso, também não estão capacitados para ir para a vida, viver e
crescer, porque a vida, lá fora, seja em relações pessoais, seja em relações
profissionais, muito mais do que o ambiente familiar, pede pessoas que saibam
viver de maneira coletiva, fraterna, solidária, dividindo tarefas,
compartilhando conhecimento e somando forças. A vida faz essa seleção
naturalmente, assim como está demonstrando que esse modelo de família, desde
sempre errado, é visto cada vez mais como arcaico e anacrônico.
Só quem saiba viver assim vai
conseguir viver minimamente bem nas relações e em paz consigo, e construir boas
relações. Não haverá paz, e nem progresso, com relações injustas e
desequilibradas.
Nem mais, nem menos, apenas
tratamento igual entre meninos e meninas, entre homens e mulheres. Ninguém acima de ninguém, apenas iguais em oportunidades e
respeito.
Raquel Montero
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