Raquel Montero

Raquel Montero

sábado, 15 de junho de 2013

Tarifa do transporte público: abuso, repressão e violênica


Sempre defendi e estimulei manifestações pacíficas, e participei de várias delas. Nunca defendi abuso ou violência, de ambos os lados - manifestantes e poder público. Liberdade de expressão deve ser respeitada e abusos corrigidos na forma da lei.

Nas manifestações que estão ocorrendo em várias cidades do Brasil em função do aumento da tarifa do transporte público, não vi abuso ou violência por parte dos manifestantes. Não vejo abuso ou violência em fazer barricadas, parar o trânsito, aglomerar pessoas, falar em megafone e reivindicar direitos. Se os manifestantes não tivessem agindo assim o assunto sobre o aumento da tarifa de ônibus estaria em destaque nas mídias e na conversa das pessoas? O Poder Público teria se incomodado com o assunto? A imprensa teria dado repercussão ao assunto? Se as pessoas tivessem ido e vindo para seus destinos de locomoção sem essas manifestações, teriam dado importância para o assunto?

Por outro lado vejo sim violência e abuso do Poder Público, seja em razão da existência da tarifa para o uso do transporte público, seja do valor cobrado por ela, seja por utilizar da Polícia Militar (PM) para "dialogar" com os manifestantes e "tratar" de políticas públicas, da mesma forma como faz com a Educação, os professores, os alunos, os sem terra, e tantos outros manifestantes de causas nobres. Vejo sim muita violência da PM nessas manifestações, como mostra a emblemática foto acima, tirada em um dos dias de protesto ocorrido em São Paulo, e divulgada pelo jornal Estadão.

Vejo violência e abuso também em cobrar tarifa pelo uso do transporte público. A tarifa é uma ofensa ao direito das pessoas, porque o transporte público é meio para se acessar os direitos sociais elementares para uma vida digna, tais como o trabalho, a moradia, a cultura, postos de saúde, etc. Transporte público é o meio de acessar a própria cidade, e a cobrança de tarifa para o uso do transporte público é um obstáculo para o acesso à esses direitos, portanto um cerceamento de direitos.

Quando se consulta um médico ou um dentista da rede pública, se paga antes e diretamente pela consulta? Quando se tem aula de um professor da rede pública, se paga antes e diretamente pela aula? Não, não se paga, porque esses serviços já foram remunerados com a receita dos impostos, que nós pagamos. Então qual a razão para se pagar antes e diretamente pelo uso do transporte público?

Assim, vou além e entendo que o protesto deve ser não contra os atuais aumentos na tarifa do transporte público, mas sim pela abolição de pagamento de tarifa para o uso do transporte público.

Essa proposta inclusive, tem embasamento legal, principalmente, constitucional A Constituição Federal em seu artigo 5º diz que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes..."

Pois bem, como falar no direito à vida e à liberdade, sem ter condições de acessar os locais que nos fazem viver ou termos liberdade para escolher viver, sendo estes meios a cultura, a educação, o esporte, a saúde, a maternidade, etc?

No artigo 6º da Constituição Federal está expresso que "São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."  

Como falar em qualquer desses direitos se a pessoa não tem dinheiro para pagar a tarifa do transporte público para ir até os locais que propiciam tais direitos?

 As manifestações são legítimas porque são pacíficas e reivindicam um direito que tem como base a justiça e o pacto constitucional. 



Raquel Montero

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